Por Ana Prestes.
– O mundo possui mais de 2,5 milhões de registros de pessoas infectadas por coronavírus, o número de mortes deve bater em 180 mil hoje. Dados do mapa da Johns Hopkins University. Os EUA lideram com mais de 800 mil casos. Na sequência estão Espanha, com mais de 200 mil, Itália, com mais de 180 mil e França com mais de 150 mil. Algumas discrepâncias são dignas de nota. Um exemplo: França e Alemanha estão com 159 mil e 148 mil casos respectivamente, mas França já contabiliza 20 mil mortos e a Alemanha 5 mil. É uma diferença bastante grande no número de mortos, para dois países que possuem quase o mesmo número de casos registrados. Subnotificação, testagem em massa (Alemanha) e eficiência na identificação e tratamento dos adoecidos, podem explicar a diferença. O Brasil aparece na 11ª posição em número de infecções, com 43 mil casos e 2.761 mortes.
– A Alemanha pouco a pouco vai se tornando um país referência não só pra lidar com a pandemia, como para planejamento e execução do relaxamento das medidas de distanciamento social. A flexibilização começou ontem (20/04) e lojas com até 800 metros quadrados puderam reabrir suas portas, entre elas livrarias, feiras de produtos agrícolas, oficinas mecânicas e lojas de roupas. Restaurantes, bares e áreas esportivas continuarão fechados. Em grande parte do país, o uso de máscaras será obrigatório no transporte público, fora do transporte fica recomendado o uso. As pessoas terão que estar sempre sozinhas e com uma distância mínima de 1,5 metro das outras. Outros países, como o Reino Unido, ainda não falam da saída do isolamento. Itália, Espanha e França, dos mais atingidos começam a preparar a transição lenta e gradual para a abertura. Na França, por exemplo, a partir do dia 27, crianças poderão sair um pouco de casa para atividades ao ar livre.
– Outra notícia que chega da Alemanha esta manhã é de que o Instituto Federal Alemão para Vacinas deu sinal verde para a as testagens clínicas de uma vacina contra o coronavírus. Na fase inicial dos testes, 200 pessoas saudáveis nas idades entre 18 e 55 anos vão receber doses da droga. Em uma segunda fase, a vacina será ministrada em grupos de maior risco. As empresas Biontech e Pfizer estão por trás da pesquisa sobre a vacina chamada BNT162. Esta é a quarta vacina anti-covid-19 no mundo a ser autorizada para a etapa dos testes clínicos.
– O mundo árabe se prepara para o Ramadã em condições absolutamente novas. Segundo uma matéria do DW, pelo menos três dos cinco pilares da fé muçulmana são abalados pela pandemia: orações nas mesquitas, peregrinação à Meca e Ramadã. O jejum do mês sagrado deve começara amanhã (23/04) e nesse período os muçulmanos só podem comer e beber à noite. Ocorre que o jejum em meio a uma pandemia é temerário, pois se trata de um esforço físico que pode afetar a imunidade. O momento do desjejum pela noite, o “iftar”, também deve ficar comprometido. O líder iraniano Ali Khamenei chegou a dizer: “teremos que passar este Ramadã sem reuniões públicas. Isso se aplica tanto às orações quanto às reuniões de desjejum”.
– O governo brasileiro não assinou uma proposta de resolução da ONU que circulou nos últimos dias e foi aprovada ontem (20/04) com o apoio de 179 países. Trata-se de uma proposta do governo mexicano à ONU para que haja regulação e verificação da distribuição equitativa dos insumos médicos e hospitalares para atender os povos vítimas da pandemia do coronavírus, evitando reserva de mercado e elevação dos preços. AMLO, o presidente do México, já havia pautado esta questão na última reunião do G20. A preocupação é que os países mais ricos não concentrem os materiais e dificultem sua distribuição. A resolução trata também do caso em que uma vez descoberta uma vacina para a covid-19, a mesma seja distribuída igualmente para todas as nações. Ao defender sua resolução, AMLO disse que “a ONU atrasou muito em procurar garantir igualdade, equidade e preços justos para a aquisição desses materiais”. O Brasil, assim como os EUA, está entre os poucos países que não se manifestaram pela resolução.
– Por falar em governo brasileiro e diplomacia, o chanceler Ernesto Araújo nos brindou na última madrugada com uma de suas notáveis reflexões. Segundo ele, “o coronavírus nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista”. Suas preocupações não estão nas mortes registradas em Amazonas e Pernambuco, na urgência para a aquisição de respiradores e EPIs, no combate à fome dos que estão ainda mais vulneráveis com a crise… sua preocupação é com o “comunavirus” (sic). Para justificar sua tese, ele usa uma obra recém lançada do filósofo marxista Slavoj Zizek. Segundo Araújo, “Zizek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo”. Os comunistas, poderosos, estariam neste momento construindo uma ordem mundial sem nações e sem liberdade. Para a “construção” desse novo mundo, a OMS não passaria de um instrumento de dominação da China. Muito bem, lá vai o governo brasileiro caçar mais confusão com a China e com a própria OMS. Tudo que precisamos no atual momento.
– Em Israel, após três eleições e muita crise política no período de 17 meses e sem conseguir formar governo, a elite política parece ter chegado a um acordo. Os partidos Likud e Azul&Branco assinaram uma trégua e uma composição que prevê um revezamento de suas lideranças no poder. Nos próximos 18 meses, Benjamin Netanyahu segue como primeiro-ministro e então será substituído por Benny Gantz em outubro de 2021 que até lá seguirá como vice-primeiro-ministro. Netanyahu será então vice de Gantz. As diferenças entre os dois foram administradas para que o país não precise passar por uma nova eleição em tempos de coronavírus, mas principalmente para que o “plano de Trump” comece logo a ser implementado em julho deste ano. A divisão de ministérios entre os dois partidos ficou assim: Likud (Netanyahu) fica com Finanças, Saúde, Segurança Interna, Construção, Transporte e Educação. O Azul&Branco (Gantz) fica com Defesa, Relações Exteriores, Justiça, Economia, Comunicações e Cultura. O presidente (speaker) será do Likud. A iniciativa tem sido chamada de “governo de emergência” por seus autores, mas na sociedade há muita crítica do que seria uma “emergência para a democracia”. O acordo revela que os interesses principais de ocupação da Palestina e alinhamento com os EUA falam mais alto do que qualquer diferença interna.
– O final de semana foi também de especulações na imprensa internacional sobre um possível adoecimento do líder norte-coreano Kim Jong-un. Fontes que se disseram amparadas por informações da inteligência norte-americana alimentaram a especulação dizendo que após cirurgia o líder estaria hospitalizado em estado grave. O fato é que não há informações oficiais por parte do governo da Coreia do Norte. Governos de países próximos, como da Coreia do Sul e da China também negaram ter qualquer informação. A mídia sedenta por notícias dramáticas traz ainda o perfil da irmã de Jong-un. Uma das manchetes da CNN de hoje: “Tudo que sabemos sobre a irmã de Kim Jong-un”. Enquanto isso, a agência estatal de comunicações da Coreia do Norte, KCNA, não trouxe nenhum informe sobre a saúde do presidente.
– Outra notícia que balançou o mundo nos últimos dias foi a brusca queda no preço do barril do petróleo para patamares negativos. Algo inédito no mundo até aqui. Segundo uma notícia da Bloomberg, satélites que captam sinais de radar vindos dos tanques que armazenam petróleo indicam que a capacidade de armazenamento está quase esgotada e a capacidade para estocar pode acabar em semanas. Um dos analistas entrevistados na matéria diz: “atingiremos 100 dólares negativos o barril no próximo mês? É bem possível”.
– E uma última notícia sobre a negociação do pagamento da dívida externa na Argentina. Parte dos credores privados não está aceitando a proposta de restruturação do governo Fernández. Segundo eles, em matéria da AFP, a oferta do governo “ficou muito abaixo das expectativas”. Hoje, 22 de abril, vencem parte dos juros dessas dívidas. O governo não vai pagar e seguirá negociando. A partir de um mês do não pagamento já pode ser declarada moratória. Hoje a Argentina deve cerca de 90% do seu PIB.