Por Roberto Liebgott.
Cimi Sul – Equipe Porto Alegre
Porto Alegre, 04 de outubro de 2022.
A campanha eleitoral de 2022 apontou para a existência, no Brasil, de um ambiente que destoou bastante da dita polarização – insistentemente reafirmada nos meios de comunicação – entre ”o petismo e bolsonarismo”.
Há, pelo que se pôde notar entre os pleitos, o dia da eleição e o resultado final, outros indicativos de análises acerca do comportamento das pessoas quando se trata de eleger os candidatos aos cargos públicos.
Um dos indicativos aponta, evidentemente, para o enraizamento social da extrema direita, com um viés nazifascista, a quem o Bolsonaro e seus integrantes de governo se conectam, como tática, para ganhar eleições. Ou seja, a adesão às práticas autoritárias, discriminatórias, machistas, racistas, misóginas, homofóbicas e destruidoras da natureza aproxima o clã bolsonarista dos setores da sociedade, constituído por milhões de homens e mulheres que se identificam com os discursos de natureza autoritária, que têm como prática de vida o egoísmo, o individualismo, a falta de empatia, a discriminação do outro, incluindo aqui o próprio vizinho, o colega de trabalho, os pobres em geral, os negros, os povos indígenas. A todos estes segmentos que reivindicam igualdade e justiça os bolsonaristas tratam como inimigos, concorrentes, perigosos ou insignificantes.
Um segundo indicativo de análise é o de que há uma importante camada da população, pelo menos um terço das brasileiras e brasileiros, que são movidas e movidos por projetos de vida aderentes às pautas progressistas, humanistas, democráticas ou, se preferir chamar, de esquerda. São aqueles e aquelas que se empenham na defesa dos direitos humanos, do meio ambiente, dos povos e comunidades originárias e tradicionais, que defendem o direito à seguridade social, educação e saúde para todos, ao emprego com as garantias trabalhistas.
O terceiro indicativo é o de que um terço da população brasileira aguarda os rumos da política e da economia para se colocar do lado de quem está no poder. Navegam conforme o vento, seguem as tendências, as pesquisas, se deixam seduzir e cooptar. São os voláteis da sociedade. Tanto podem estar de braços dados com os extremistas como com os socialistas, a depender sempre dos interesses e circunstâncias.
O quarto indicativo vincula-se àquelas e àqueles que estão tão aderidos ao capitalismo neoliberal que consideram apenas seus interesses imediatos e individuais. Estes não ligam para o país e nem para as causas da vida das pessoas ou do planeta. Pouco importa se há fome, violência, desemprego, guerra, pandemia. Não se ligam a nenhuma causa coletiva, não acompanham acontecimentos políticos, são desinteressados, usam os dias de eleição para passear, fazer churrasco, visitar o zoológico. Vivem em função de suas próprias ambições e prazeres. Eles estão em toda a parte, entre os ricos, na classe média, mas também entre os pobres. São pessoas que acreditam que bastam a si mesmas, não valorizam o que os outros fizeram no passado para que pudessem ter direitos assegurados nos dias de hoje. Dentre as camadas da sociedade talvez esta seja a mais perigosa, porque lhes falta empatia, solidariedade, fraternidade, comprometimento.
Ao analisar os dados das votações, nesta última eleição, vamos verificar que não houve polarização, mas sim posicionamentos, percepções em relação à política, aos políticos e a sociedade que compõe um cenário de divisão ideológica em quatro partes ou fatias: os extremistas, que sempre estiveram presentes; os humanistas, de esquerda e/ou socialistas; os voláteis, que pendem conforme seus interesses; e os desinteressados, preocupados apenas consigo e seus prazeres.
Há, todavia, muitos outros fenômenos e aspectos sociais, culturais, educacionais, políticos e regionais – elemento fundamental de análise pelas posições e percepções da política a partir de cada realidade – a serem avaliados, mas estas quatro divisões, que se mostram bem evidentes nas eleições, chama a atenção e parecem definidoras do futuro do Brasil. Elas retratam o que efetivamente somos, enquanto coletividade, e mostram que há um imenso trabalho a ser feito, se pretendemos construir uma base democrática, ética e comprometida com os princípios constitucionais e com o bem comum.