O Brasil já soma 200 mulheres que morreram gestantes ou no pós-parto, diagnosticadas com a covid-19. O número faz o país registrar o maior número de morte de gestantes no mundo.
Ao todo, são ao menos 1.860 casos da doença notificados nesse grupo de mulheres no país até o último dia 14. Segundo especialistas, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) poderia reduzir esses números. Pesquisa feita por obstetras e enfermeiras de 12 institutos e universidades, revela que até junho o Brasil tinha 77% das mortes de gestantes em todo o mundo.
“Apesar da gente chegar com o pré-natal para grande maioria das mulheres no Brasil, ainda dificuldade na qualidade desse atendimento, que se intensificou durante a pandemia. A nossa base de dados fala sobre mortes de síndrome respiratória aguda grave, e parte dessas mulheres que morreram, nem tiveram acesso à UTI”, afirma a obstetriz Mariane de Oliveira Menezes, em entrevista ao repórter Jô Miyagui, da TVT.
Mulheres negras
A obstetra explica que a gravidez reduz a imunidade da mulher, deixando mais suscetível a doenças. Entretanto, a situação é ainda pior para a mulher negra, pois quando elas dão entrada nos hospitais, chegam em piores condições que as brancas.
“A gente vê que o racismo estrutural permeia tudo isso. Há uma dificuldade da mulher preta ao serviço de saúde. O uso de respirador foi necessário em 14,9% das mulheres pretas e 7,3%, das mulheres brancas. É o dobro. O que também refletiu numa mortalidade maior para as negras”, diz Débora de Souza Santos, professora de Enfermagem na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As pesquisadoras afirmam que o poder público deveria investir muito mais no sistema único de saúde, e que o SUS poderia ser melhor utilizado para combater o coronavírus e evitar tantas mortes. “A gente tem o SUS nas nossas mãos, que é uma ferramenta incrível, mas não tem toda a estrutura financeira necessária para funcionar direito e falha em várias etapas”, lamenta Mariane.