Por Roberto Antonio Liebgott, pra Desacato. info.
O Brasil nunca foi, ao longo de seus 521 anos, modelo de nação. Nele nunca se respeitou efetivamente os direitos humanos, os direitos da mãe terra e do meio ambiente. Nele os povos originários foram perseguidos, escravizados e chacinados. Nele o genocídio tornou-se uma prática dos colonizadores. E para ele foram trazidos os filhos e filhas sequestrados dos povos da África para serem seus escravos.
A verdadeira história do Brasil acabou, ao longo do tempo, sendo sonegada e apagada pelas autoridades das colônias, do império e da república. Prevaleceu a versão dos heróis fictícios, que na prática não passaram de escravocratas e assassinos.
O Brasil, desde a invasão, tornou-se o lugar adequado para o saque, a depredação, a devastação e a exploração sem medidas. Tornou-se, por um lado, o lugar dos privilégios e privilegiados das cortes e por outro, de grupos humanos submetidos a violência, exclusão, escravidão, trabalhos forçados, discriminação, perseguição. Um lugar onde as vidas estiveram sempre inseguras.
O povo brasileiro, em suas diferenças e diversidades subsistiu, construiu caminhos, semeou boas sementes, plantou e irrigou a terra, formou relações de respeito, projetou sonhos, criou hábitos de justiça, solidariedade e do bem viver. Formou-se, apesar do próprio Estado, um lugar onde as pessoas – em seus contextos e ambientes – conseguiam executar projetos de vida.
Mas os caminhos abertos nunca foram seguros. Houve apropriação, apreensão e confisco dos bens que se faziam e das riquezas que se produziam. A política, a economia e a justiça institucionalizadas, a rigor, sempre retomam os princípios da colônia e concentram, sistematicamente, os bens de capital e dos recursos ambientais sob os pés e mãos dos privilegiados do sistema de mercado. Os poderes públicos quase sempre legislam, executam e julgam tendo como premissas a garantia do lucro farto para os privilegiados e o exercício da administração pública tendo como referências a concentração da pobreza e da exclusão de milhões e milhões de mulheres e homens, jovens e velhos.
E foi neste contexto de absurdas desigualdades (sociais, econômicas, culturais, educacionais) que se alavancou a candidatura e eleição de Bolsonaro. Ele, neste ambiente, se colocou como indiferente às desigualdades e se apresentou como aquele que seria diferente no ambiente da política partidária, para ele a causa de todos os problemas.
Bolsonaro, ao tornar-se governo, fez a pauta da antipolítica partidária desaparecer, aliando-se aos políticos que ele condenava para alicerçar seus desejos e compromissos com os preceitos da maldade. Com isso, suas ações têm com finalidade:
- o armamento indiscriminado dos milicianos, dos fazendeiros, grileiros, madeireiros, garimpeiros e dos assassinos nas favelas, nos quilombos, no campo e nos territórios indígenas;
- a devastação das terras, dos rios, dos lagos e matas;
- a intolerância religiosa, sexual e cultural;
- o racismo, a homofobia e o machismo;
- a destruição das políticas públicas de educação, cultura, saúde, segurança, habitação, emprego, moradia;
- o desmonte das universidades federais, das bibliotecas públicas, dos museus;
- e pôs fim a milhares de vidas ao invés de enfrentar uma pandemia, que aliás a nega, e submete a população a dor, a doença, a falta de assistência hospitalar e a vacina.
Bolsonaro atacou as instituições públicas – o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, os governos estaduais – e vem promovendo cotidianamente a descaracterização da Constituição Federal e dos direitos humanos nela expressos.
Bolsonaro, em dois anos e meio de governo, se tornou persona não grata no mundo, onde nenhum governante o suporta, não o quer por perto. Ele é visto como uma espécie de pária pela diplomacia internacional. O tratam como um ser descontrolado, desumanizado e que despreza as boas práticas de proteção ambiental e sempre dá o mau exemplo em tudo que faz e diz.
Mas, apesar disso tudo, Bolsonaro tem seus seguidores, milhões deles, e se diverte com eles, porque gosta do que faz no cargo de presidente da República, de onde venera a tortura e explícita sua crueldade. Ele gosta de ser visto e citado como um cara do mal.
Pode-se dizer que o Brasil, diante de todos os indicadores de desenvolvimento humano, social, educacional e econômico, foi transformado numa espécie de filial do inferno, onde Bolsonaro acabou alçado ao cargo de capataz do capeta.
Porto Alegre, RS, 20 de maio de 2021.
Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
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