Por Lucas Rocha.
Se as declarações pavorosas já não haviam sido suficientes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dará no sábado (18) mais uma demonstração de que pouco se importou com os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia. O governo tem sido cobrado internacionalmente pela postura que teve diante do caso, mas segue mantendo a mesma indiferença.
Três dias depois da confirmação da morte da dupla após a descoberta de restos humanos pela Polícia Federal (PF), o mandatário participará de uma motociata em Manaus. Bolsonaro, que sequer cogitou ir ao Amazonas acompanhas as buscas na região de Atalaia do Norte, vai pela primeira vez desde que o desaparecimento dos dois para um evento eleitoreiro.
O presidente chegou a dizer que Dom Phillips era “mal visto” na região enquanto as buscas ainda eram realizadas, demonstrando seu desprezo com o jornalista e com o indigenista
O caso ganhou forte repercussão internacional e aumentou a pressão sobre o governo diante da política ambiental permissiva com o desmatamento e com a ação de criminosos na Amazônia e os constantes ataques do presidente a ativistas de direitos humanos e do meio ambiente.
A eurodeputada Anna Cavazzini, vice-presidenta da delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, responsabilizou o presidente pelas mortes. “Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos”, apontou em entrevista ao jornalista Jamil Chade, do portal Uol.
Membros do Congresso dos Estados Unidos e do Parlamento do Reino Unido também questionaram o governo Bolsonaro diante do caso.
Bolsonaro tem responsabilidade política nas mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira, diz historiador
Para o historiador Lucas Pedretti, pesquisador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), não se pode negar que há responsabilidade política de Bolsonaro. “Independente do que vem a ser comprovado sobre os mandantes do duplo assassinato – e a gente precisa cobrar até o final para que sejam revelados os mandantes -, o fato é que a gente não pode ignorar a responsabilidade política do governo Bolsonaro”, apontou em entrevista à Fórum.
Segundo o historiador, o projeto bolsonarista se baseia em uma lógica de violência que está diretamente relacionada “ao incentivo que o governo faz a um conjunto de práticas criminosas” e ao desmonte de órgãos de controle que possam frear esses grupos criminosos.
“Você só entende o avanço do garimpo legal, da grilagem ilegal, do ataque as terras indígenas, na Amazônia, se você entende o desmonte da Funai, do Ibama e de setores da Polícia Federal”, apontou.