Por Luís Felipe Miguel.
O novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo pela Ásia e pela Europa. Não era difícil prever que chegaria às Américas.
Era hora de se preparar para o que viria: equipar hospitais, garantir suprimentos, adquirir insumos para produção de testes. Mandetta era ministro, mas muito pouco, quase nada, foi feito.
Quando a OMS declarou pandemia, em 11 de março, o Brasil tinha 52 casos confirmados, sendo apenas seis de transmissão local.
Fechamento de fronteiras e monitoramento de viajantes eram as medidas óbvias, mas foram postergadas e, quando adotadas, adotadas de maneira frouxa.
Em relação à Europa Ocidental, nossa crise sanitária está umas quatro semanas “atrasada”. Ou seja, teríamos condições de aprender com a experiência deles.
Não aprendemos. Hoje, já ocupamos o segundo lugar no ranking mundial de mortes diárias pelo novo coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos.
Fizemos, na verdade, o contrário de aprender. Há um esforço para evitar que se adote aqui qualquer medida que a experiência dos outros países recomenda.
Quando o ministro da Saúde demonstrou consciência da gravidade da situação, foi trocado por outro – submisso, desnorteado, insignificante, em suma, alguém que preenchia o requisito fundamental de não ofuscar o “mito”.
O isolamento social é boicotado todos os dias, por palavras e por ações. Agrava-se deliberadamente a situação dos mais pobres para dar credibilidade ao discurso de que defender a economia é o mais importante.
Os laboratórios das Forças Armadas desperdiçaram recursos produzindo milhões de comprimidos de uma droga que, está sendo provado, é ineficaz.
Primeiro, a doença foi desprezada como desimportante ou incapaz de atingir brasileiros acostumados à insalubridade. Depois, não era preciso preocupação porque a cura milagrosa estava ao alcance da mão.
Agora, é uma fatalidade que vai atingir milhões, mas à qual é inútil resistir. O jeito – para quem der a sorte de não ser atingido – é deixar de lado, ignorar, parar de “carregar um cemitério nas costas”, ficar “mais leve”, como disse a nova filósofa do governo.
Esqueçam as milícias. Esqueçam Queiroz. Esqueçam as rachadinhas. Esqueçam as fake news. Esqueçam o desvirtuamento das funções dos órgãos do Estado. Esqueçam as ameaças de fechamento do Congresso e do Supremo. Esqueçam as tentativas de golpe. Esqueçam os ataques à liberdade de expressão. Esqueçam as quebras do decoro. Esqueçam todas as dezenas de outros motivos para afastar Bolsonaro do cargo.
Olhemos só para a pandemia. Temos um presidente da República que empurra o país para uma mortandade sem paralelo na sua história, debochando de suas vítimas.
O que falta para que se perceba a urgência de derrubá-lo?
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