Bolsonaro faz Turismo para divulgar Brasil “judeu e militar” e esconder favelas e diversidade

Especialista critica seletividade e viés ideológico do governo, que quer anular a pluralidade da cultura brasileira diante dos turistas

A nova marca foi desenvolvida pelos próprios servidores da Embratur. Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, e Osvaldo Matos de Melo Júnior (direita), diretor de Marketing. (Foto: Pablo Peixoto/Embratur)

Jair Bolsonaro fez o orçamento da Embratur saltar de 8 milhões de dólares para 120 milhões de dólares, o que viabilizou a elaboração de um plano “ousado” para divulgar o Brasil no exterior. Engana-se quem pensa que o projeto nasceu imune ao viés ideológico do presidente de extrema-direita.

Segundo reportagem de O Globo, que teve acesso exclusivo ao plano da Embratur, a ordem é mostrar um Brasil judeu e militar, e esconder as favelas e toda a diversidade cultural e religiosa que faz parte da história do País.

O jornal diz que o governo Bolsonaro pretende investir os milhões de dólares em produções que, para os críticos, em nada agregam à imagem do País.

Na lista estão filmes sobre a Amazônia, com o intuito de combater “falsas histórias que são compartilhadas na imprensa mundial”. Uma produção cinematográfica propõe Sharon Stone como estrela, “explorando praias nordestinas em busca do tesouro do Imperador Constantino”.

A Embratur também pretende criar nos Estados Unidos “uma arena que terá como entrada uma réplica do Palácio do Planalto, com direito a um modelo fantasiado de dragão da independência”. Na Disney, estão buscando patrocínio na iniciativa privada para criar uma área com “aventuras de Mickey e Minnie pelo Brasil”. Além disso, consideram “reality show com artistas internacionais que ficarão confinados em diferentes casas pelo Brasil.”

Internamente, roteiros que exaltam o Brasil “judeu” e “militar” serão priorizados. O turismo LGBTI e de outros segmentos que não interessam ao bolsonarismo ficarão à margem dos investimentos.

“Vamos mostrar o Brasil que deu certo. Não vamos mostrar tráfico, violência, favela essas coisas que vinham sendo exportadas. A gente quer mostrar o que é bom. Não podemos vender as mazelas do Brasil, isso temos que resolver internamente”, disse Osvaldo Matos, diretor de marketing da Embratur.

A professora da USP Clarissa Gagliardi afirmou que Bolsonaro faz uso do plano para fazer propaganda política. “Esse plano restringe a interpretação da diversidade do Brasil. O turismo não precisa reproduzir a versão oficial e vender o viés de que é o Brasil judaico e militar. E os outros grupos que fazem parte da nossa formação? Não tem como justificar essa seletividade.”

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