Após a saída do ministro Nelson Teich do ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro não deve ter pressa em escolher um novo nome ao cargo. A estratégia seria a de manter o interino general Eduardo Pazuello para que ele assine a mudança no protocolo da cloroquina, como deseja o presidente. A estratégia foi revelada pela jornalista Andreia Sadi, em seu blog, após ter contato com auxiliares de Bolsonaro. A informação é a de que nenhum médico concordará com a ideia.
Até o momento, o ministério da Saúde segue protocolo publicado no dia 1 de abril, que prevê o uso do medicamento em duas situações: “pacientes hospitalizados com formas graves da covid-19” e em “casos críticos da covid-19”. A dosagem é diferente para cada situação e sua prescrição fica por conta do médico responsável.
Na sexta-feira 15, no entanto, a pasta soltou uma nota afirmando que está atualizando o protocolo para que o medicamento seja também indicado em casos leves da doença. A medida vai se aplicar também à hidroxicloroquina, que é um derivado da cloroquina e guarda as mesmas propriedades, mas tem a toxicidade atenuada.
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“O Ministério da Saúde está finalizando novas orientações de assistência aos pacientes com covid-19. O objetivo é iniciar o tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utilização de UTI (Unidades de Terapia Intensiva). Assim, o documento abrangerá o atendimento aos casos leves, sendo descritas as propostas de disponibilidade de medicamentos, equipamentos e estruturas, e profissionais capacitados. As orientações buscam dar suporte aos profissionais de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) e acesso aos usuários mais vulneráveis às melhores práticas que estão sendo aplicadas no Brasil e no mundo”, disse o ministério.
Até o momento, estudos feitos sobre o uso do medicamento no tratamento do coronavírus apontam a sua ineficácia. Um dos maiores feito até agora, liderado por cientistas da University of Columbia e publicado no periódico científico New England Journal of Medicine, testou 1446 pessoas. A conclusão foi a de que os pacientes que receberam a medicação não mostraram menor taxa de necessidade de ventiladores ou menor risco de morte durante o período do estudo em comparação com as pessoas que não receberam a droga.
Ainda conforme apurou a jornalista, o novo protocolo previsto pelo ministério da Saúde pode ser questionado judicialmente. Se algum médico assinar pode responder no banco do conselho, segundo Andréia Sadi apurou com especialistas da área da saúde. Além dos perigos para a população, a mudança também pode prejudicar a imagem das Forças Armadas, se um militar assinar uma mudança sem base científica; e agravar o ambiente político para o presidente no Congresso.