Polina Avdonina, 27 anos, estava de malas prontas para o Brasil. Pesquisadora russa formada em filosofia das ciências na Universidade Estatal de Moscou, com mestrado na Pantheon-Sorbonne, em Paris, já tinha o aceite de um orientador para dar início, em março passado, ao doutorado em filosofia analítica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto de longo prazo, que contava com o apoio de um professor francês radicado no Rio, Jean-Yves Béziau, dependia de uma bolsa de estudos. A bolsa não saiu. A estudante, que agora vive em Israel, não abandonou por completo os planos de estudar no Brasil um dia, embora tenha resistências. “Me incomoda um pouco que um governo de extrema direita esteja no poder”, diz a jovem.
As dúvidas sobre investir tempo ou dinheiro no país não se limitam a estudantes. Desde que o clima de turbulência política se instalou no país, e em especial desde que Bolsonaro chegou ao poder, a imagem do Brasil não para de se degradar no exterior. Antes visto como uma democracia pujante e emergente, tão ou mais reluzente que Índia e África do Sul, o Brasil hoje enfrenta questionamentos sobre a estabilidade de suas instituições e a pertinência de se investir em um país com baixa previsibilidade política e econômica, além de uma sociedade dividida e polarizada. Para a estudante Avdonina, só há o que lamentar. “Tinha apoio do orientador, meus documentos e meu projeto foram aceitos. Mas no último momento não pude receber a bolsa, porque foi a primeira vez na história em que não concederam bolsas de estudos para estrangeiros”, conta, decepcionada. “Queria muito estudar no Brasil, tudo estava mais ou menos acertado, mas quando recebi a resposta entendi que tinha relações com a política, e que talvez eu não fosse bem recebida no Brasil.”
Um exemplo dos prejuízos causados pela nova imagem do país no exterior veio na terça-feira, 8, quando a ministra da Transição Ambiental da França, Elisabeth Borne, afirmou em entrevista à rede de televisão BFMTV que seu país não assinará o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia sem garantias de que as cláusulas de preservação ambiental previstas no Acordo de Paris sejam cumpridas. “Não podemos assinar um tratado comercial com um país que não respeita a floresta Amazônica, que não respeita o Acordo de Paris”, disse Borne. “A França não assinará o acordo do Mercosul nessas condições.” Em setembro, a H & M, varejista do setor de moda, informou que, temporariamente, deixaria de comprar couro do Brasil diante das preocupações com os incêndios da Amazônia.
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A indústria do turismo é outro setor que sofre as consequências dessa nova imagem brasileira. Houve um tempo recente em que os destinos turísticos que mais atraíam os clientes franceses e europeus ao Brasil eram os clássicos: Rio de Janeiro, Cataratas do Iguaçu, praias do Nordeste ou Chapada Diamantina. Em 2019, conta Maria Faria da Silva, chefe de produto e “travel designer” da agência parisiense Terre Brésil, a única viagem ao país de Jair Messias Bolsonaro que continua a atrair clientes é a Amazônia – antes que a destruição avance, bem no espírito “vá antes que acabe”. Essa constatação vem sendo feita dia após dia pelo grupo francês Terre Voyages, proprietário da marca Terre Brésil, que há 25 anos organiza pacotes de turismo em direção à América Latina. Fora as viagens a Santarém, que incluem a navegação pelo Rio Tapajós, nenhuma outra venda foi realizada para o ano 2020. Nenhuma.
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