O PL tomou uma posição de não fazer grandes defesas em favor da deputada federal Carla Zambelli. A justificativa do partido é a necessidade de proteger Jair Bolsonaro, pois lideranças da sigla acreditam que a relação de Zambelli com o hacker Walter Delgatti Neto pode causar repercussões negativas ao ex-presidente.
Os apoiadores mais radicais de Bolsonaro já traçaram uma estratégia para atribuir toda a culpa do caso a Zambelli. A deputada também chegou a dizer publicamente nesta quarta-feira (2) que o capitão da reserva não teve nenhuma participação no episódio, e que ela deu dinheiro ao hacker devido às dificuldades financeiras enfrentadas por ele.
Oficialmente, o PL afirmará que Zambelli tem o direito de se defender, mas o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, ordenou que ninguém faça defesas exageradas em favor dela. Além disso, o partido não pretende fazer esforços para salvá-la de um possível processo de cassação.
Leia mais: Carla Zambelli é alvo de operação de busca e apreensão; PF prende hacker
Essa decisão de abandonar a parlamentar não ocorre por acaso. Bolsonaro nunca a perdoou pelo episódio ocorrido um dia antes do segundo turno das eleições do ano passado, quando a deputada, portando uma arma, correu atrás de um homem negro em São Paulo. O ex-presidente a responsabilizou pela derrota dele nas eleições.
Desde então, o relacionamento entre Bolsonaro e Zambelli nunca mais foi o mesmo. Ela chegou a fazer críticas públicas ao ex-presidente, o que o irritou ainda mais.
“Ela cavou a própria cova. Agora cada um precisa cuidar do seu”, disse um deputado bolsonarista à coluna.O PL agora irá monitorar as redes sociais para evitar que a imagem do hacker Walter Delgatti Neto seja associada a Bolsonaro. Enquanto isso, Carla Zambelli enfrenta sério risco de ser cassada em virtude dos acontecimentos envolvendo o caso.
Entenda o caso
· Operação autorizada por Alexandre de Moraes, ministro do STF, busca informações sobre documentos falsos inseridos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (CNJ).
· Foram forjados alvarás de soltura e um mandado de prisão falso, incluindo o nome do próprio Moraes.
· Walter Delgatti Neto, conhecido como “hacker da Vaza Jato”, foi preso em Araraquara, SP.
· Ele já havia sido preso em 2019 por invasão do celular de autoridades e autorizado a responder em liberdade com restrições.
· Delgatti é filiado ao DEM, mas foi expulso após sua prisão em 2019.
· Ele também tem passagens anteriores pela polícia por tráfico de drogas, falsificação de documentos e uso indevido de cartão de crédito.
· Relação entre Delgatti e a deputada Carla Zambelli foi citada em fevereiro deste ano, quando ele disse estar trabalhando para ela e cuidando de suas redes sociais.
· Em junho, o MPF-DF pediu a prisão de Delgatti.
· Zambelli levou Delgatti para reuniões com Bolsonaro e o presidente do PL.
· Delgatti disse que Zambelli o financiava para cometer irregularidades, mas negou avanço em invasões a urnas eletrônicas.
· Defesa de Delgatti confirmou a prisão, enquanto a de Zambelli negou irregularidades.
O caso continua sendo investigado pelas autoridades.
—