“Espero que os Estados Unidos devastem aquele lugar.”
“Tem que explodir pessoas assim.”
“Por que não jogam uma bomba atômica nesse país maldito?”
Os comentários acima parecem estar restritos ao conflito EUA X Irã e terem sido disparados por republicanos do Texas.
Entretanto, são de membros de grupos de defesa de animais aqui no Brasil. Ou seja, aquela sua tia carola e autoproclamada amante dos bichos pode ter sido a autora de mensagens carregadas de preconceito, xenofobia e raiva pura.
No embalo da tensão que ocorre entre os dois países, direitistas hidrófobos resgatam links antipáticos ao Irã e compartilham-nas em grupos não menos apaixonados.
O resultado é previsível: pancadaria virtual e desinformação.
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Com a notícia – já antiga – de que cães são considerados impuros no Irã e que o chefe de polícia de Teerã havia decretado a proibição de passear com cachorros em locais públicos, alguns grupos de defesa dos pets tornaram-se locais de rinha humana.
Os links nem se referem a alguma fake news. De fato, o islã considera cachorros como ‘impuros’ e somente cães de guarda são permitidos. A lei proíbe não apenas que se ande a pé com os cães pelas ruas, mas dentro do carro também.
Na prática, contudo, a teoria é outra. Há alguns anos só era possível levar seu animal doméstico para tratamento na clínica veterinária da Universidade de Teerã. Hoje em dia a cidade tem inúmeros pet-shops com veterinários.
Resumindo, passear com cães continua proibido, mas a população desobedece com cautela.
Como 9,99 entre 10 membros de grupo de whatsapp leem apenas as manchetes dos links, as consequências são os diálogos reproduzidos no início deste artigo.
É curiosa a presença de bolsominions em grupos de Direitos Animais, de adoção e proteção de animais, uma vez que são apoiadores de um governo que legaliza os maus tratos: Vaquejada, rodeios, caça esportiva, etc.
Pescar em área de reserva é coisa banal para seu Jair, e ai de quem tentar aplicar-lhe uma multa.
Difamar o Irã faz parte da guerra cultural e ideológica que agrada ao presidente estadunidense e que Bolsonaro e simpatizantes aderem de olhos fechados.
Paradoxo ou hipocrisia?
O Irã passou por uma revolução há 40 anos que colocou fanáticos religiosos no poder. Desde então, até dançar e consumir bebidas alcoólicas é proibido.
O bolsonarismo e seu fundamentalismo evangélico com medidas esdrúxulas estão nos levando para esse caminho.
Quem hoje está preocupado com os cachorrinhos de lá, deveria pesquisar e entender como o país chegou a esse ponto. Verá que, grosso modo, tudo começou com grupos liberais e religiosos. Familiar, não?