Bolsonaristas e seus quinze minutos de fama. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Em meados do século passado, o artista visual estadunidense Andy Warhol profetizou: no futuro, todos serão famosos durante quinze minutos. Parafraseando Warhol, podemos dizer que, no Brasil em que a extrema direita saiu do armário, todos os bolsonaristas serão famosos durante quinze minutos.

A fórmula dessa fama fugaz funciona mais ou menos assim: geralmente, um indivíduo é flagrado por uma câmera de smartphone, em uma situação em que agride (verbal ou fisicamente) alguém de uma determinada minoria social; posteriormente, o vídeo viraliza na internet e, quando vamos pesquisar sobre posicionamento ideológico, não falha: é bolsonarista. Via de regra, todos apagam suas redes sociais após os “quinze minutos de fama”.

Vez ou outra, essa pessoa grava um depoimento, vestindo roupa branca, alegando que foi mal interpretada, não quis dizer bem aquilo ou que toma remédio controlado. Em sequência, a internet é tomada pela frase “nem todo bolsonarista, mas sempre um bolsonarista”.

O primeiro nome dessa “seleta” lista, fugindo à regra, não se tornou conhecido por agredir alguma minoria, mas por protagonizar uma cena tão antológica quanto patética. Estamos falando do “patriota do caminhão”, que ficou famoso nacionalmente (quiçá em âmbito planetário) após ficar pendurado no para-brisa de um caminhão em movimento, ao tentar impedir que o veículo ultrapassasse o bloqueio de manifestantes bolsonaristas que protestavam contra a “fraude eleitoral” que elegeu Lula para a presidência da República, em 2022. O “patriota do caminhão” virou verbete na Wikipedia, meme e até fantasia de carnaval.

Sem a veia cômica do caso anterior, a “homofóbica da padaria” foi alçada ao estrelato da extrema direita quando foi flagrada insultando e agredindo fisicamente um casal de homossexuais em uma padaria paulistana. No repertório de xingamentos, clássicos do léxico bolsonarista: “mimimi”, “eu sou de família tradicional” e “os valores estão sendo invertidos”. Como toda cidadã de bem respeitável, a “homofóbica da padaria” tem em seu currículo acusações de extorsão e ameaças.

Por sua vez, o “policial que atirou em um entregador de aplicativo”, que alcançou seus quinze minutos de fama no último mês de março, é um armamentista emblemático, resolve tudo na bala, alegando “legítima defesa”, eufemismo bolsonarista para alvejar pobre e preto. Aliás, atacar entregadores é uma prática tanto de “bolsonaristas conhecidos”, como Ricardo Perrone; quanto “anônimos”, como foi o caso de um morador de um condômino de Valinhos (SP), que viralizou durante o período da pandemia da Covid-19, após dizer a um motoboy que ele teria inveja de sua cor e de seu estilo de vida.

Já o “assediador do elevador” ganhou seus quinze minutos de fama após apalpar as partes íntimas de uma mulher, sem consentimento, enquanto ela deixava o elevador de um edifício comercial em Fortaleza. Em seguida, ele fugiu rapidamente para o estacionamento, entrando no carro às pressas. Como não poderia deixar de ser, após a enorme repercussão negativa de sua atitude, que rendeu até demissão do emprego, o “assediador do elevador” argumentou ter “problemas psiquiátricos”.

Por fim, o “playboy do porsche” chegou aos noticiários após o veículo que dirigia, em altíssima velocidade, ter colidido contra outro carro, matando um motorista de aplicativo. Aqui temos o clássico exemplo de um integrante da elite brasileira: fuga de flagrante com anuência de policiais, superproteção dos pais quando faz algo errado e sócio de parentes em empresas (ou seja, alguém que “venceu na vida” devido à meritocracia).

Se, para qualquer pessoa que possui a mínima sanidade mental, os casos apresentados acima geram repulsa e/ou indignação, para os bolsonaristas tratam-se de exemplos de “cidadãos de bem”. Portanto, não é de se estranhar que alguns deles se candidatem a vereador nas eleições municipais deste ano, ou possam tentar uma vaga como deputado em 2026. E, infelizmente, correm o sério risco de serem eleitos (como, aliás, ocorreu com Nikolas Ferreira e Mauricio do Vôlei, que ganharam notoriedade e votos da bolha bolsonarista, entre outros motivos, por causa de suas posições homofóbicas).

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Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp e pós-graduando em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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