Bolívia: falta oxigênio, mortes se alastram e Áñez mente ao culpar manifestantes

Movimentos sociais bloqueiam de rodovias por toda a Bolívia para exigir da autoproclamada presidente Áñez respeito à democracia e à soberania (Rede Internacional)

Por Leonardo Wexell Severo.

“Há bastante tempo está faltando respiradores e tubos de oxigênio por toda a Bolívia devido ao governo de Áñez, cujo ministro de Saúde realizou compras superfaturadas e não fez qualquer plano. Mas não somente isso, faltam insumos de biossegurança para o pessoal de saúde, o que faz com que, contaminados, apenas metade dos médicos estejam trabalhando. Assim, as mortes se multiplicam, mas o governo mente ao jogar a culpa sobre os bloqueios erguidos na última semana para exigir respeito à democracia e à soberania”.

A afirmação é do pesquisador e cientista social Porfirio Cochi, ele próprio enfermo há mais de duas semanas, com febre alta e intensa tosse. Apesar da fragilidade das condições de saúde, ainda não conseguiu realizar o teste de covid-19 pela falta de reagentes, mesmo sendo a esposa profissional de saúde. “Vivo em El Alto, cidade vizinha a La Paz, onde é visível que temos algo em torno de 80% da nossa população de mais de um milhão de habitantes contaminada. Na minha rua, cinco senhoras comerciantes perderam a vida. Seis dos meus amigos de mais de 50 anos faleceram. Esta é a realidade”, explicou Porfirio.
Diante da possibilidade de ver a própria situação se agravar, e de ter de adquirir com urgência um tubo de oxigênio, Porfírio denunciou os valores proibitivos: “estamos falando de cinco mil dólares, num país devastado pela política neoliberal”.

Na tentativa de reverter o quadro eleitoral francamente favorável ao candidato do Movimento Ao Socialismo (MAS) à presidência, o economista Luis Arce Catacora, o governo adiou pela terceira vez as eleições, jogadas de abril para 6 de setembro e agora para 18 de outubro. “Com estas postergações o governo vai buscando ganhar tempo, enquanto tenta manipular o imaginário coletivo, por meio da censura e do completo controle dos meios de comunicação, com discursos mentirosos de que os bloqueios são contra a saúde da população, o que nada têm a ver com a realidade”, acrescentou.

Desde o começo dos bloqueios de estradas, os manifestantes comandados pelo Pacto de Unidade – integrado pela Confederação de Camponeses, Confederação de Mulheres Bartolina Sisa, Confederação Sindicalista de Comunidades Interculturais e Confederação de Povos Indígenas – têm reiterado que o objetivo é garantir o respeito ao calendário eleitoral e ao interesse nacional. “Por isso estamos deixando passar as ambulâncias, medicamentos, oxigênio e outros insumos de saúde porque jamais prejudicaríamos esta necessidade dos diferentes hospitais”, esclareceu o secretário-executivo da Central Operária Boliviana (COB), Juan Carlos Guarachi, que se somou ao Pacto.

Para justificar a intervenção das Forças Armadas e da Polícia Militar, o discurso da autoproclamada presidenta tem início, meio e fim, sendo uma caixa de ressonância dos interesses da oligarquia e das transnacionais, como bem o demonstram os jornais deste sábado (8): “Afins ao MAS cometem crime de lesa-humanidade ao bloquear passagem de oxigênio” e “Assaltam caminhões por ordem de Evo e Arce” (El Diario), “O MAS radicaliza bloqueios e o governo denuncia à OEA 31 mortes por falta de oxigênio (Opinión), e “Governo denuncia 61 cortes de via e anuncia desbloqueio” (Página Siete).

Deposto em novembro passado, o presidente Evo Morales (2006-2019) alertou nesta sexta-feira que “um novo golpe está se formando #Bolivia, cujo plano está a cargo dos generais Ortiz e Orellana”. “Está sendo feita uma tentativa de estabelecer um governo de civis e militares. Para tanto, chegaram dois aviões com armas dos Estados Unidos e enviaram atiradores a El Alto e Chapare”, advertiu Evo, mobilizando os bolivianos e a comunidade internacional para estarem atentos aos próximos passos do desgoverno Áñez.

VEJA AS IMAGENS: “É uma grande mentira do governo que não estamos deixando passar ambulâncias ou oxigênio”, denunciaram manifestantes do município de Arbieto, em Cochabamba.

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