Por Gustavo Veiga.
Dois problemas sérios estão causando ansiedade política na Bolívia. A tradição golpista de suas Forças Armadas, reavivada pela tentativa fracassada de golpe do 26 de junho, e o conflito interno no MAS. Um movimento de movimentos – conforme definido por seus próprios militantes – que, como partido, está a caminho da autodestruição. O confronto pessoal e cheio de suscetibilidades entre o chefe de Estado, Luis Arce Catacora, e o ex-presidente e líder histórico dessa força majoritária, Evo Morales, parece ter chegado a um ponto sem retorno. Como se pode entender que duas pessoas que trabalharam juntas em harmonia entre 2006 e 2019 tenham dinamitado todas as pontes de diálogo? Álvaro García Linera, o ex-vice-presidente que conviveu com ambos durante os três mandatos de Evo, definiu a situação como uma “guerra fratricida”.
No caminho para seu bicentenário – que em 2025 coincidirá com as eleições nacionais – a Bolívia está passando por um período convulsivo. Isso pode ser visto dentro do Movimento ao Socialismo na disputa incessante entre Evo e Arce Catacora, mas também na maneira como essa ruptura foi solidificada por seus respectivos ambientes. As hostilidades começaram quando o golpe liderado por Jeanine Áñez já era uma lembrança trágica. Até os últimos dias de Morales no poder, seu então ministro da Economia dizia: “Evo cumpre o que promete”. Para muitos, o arquiteto do chamado milagre boliviano reconheceu em seu atual adversário o líder absoluto do MAS. Mas algo começou a se romper entre eles. E um nome explica em parte esse distanciamento.
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Trata-se de Eduardo Del Castillo, o atual ministro do governo e um dos principais funcionários do gabinete de Arce Catacora. Jovem membro da Coluna Sul nascido em Santa Cruz de la Sierra e que sempre acompanhou Morales, ele se tornou o alvo favorito de Evo – e depois do presidente – quando, em agosto de 2023, denunciou o movimento dos plantadores de coca em Las Yungas (Departamento de La Paz) e o movimento no Trópico de Cochabamba por tráfico de drogas.
Ele havia ido longe demais para o setor pró-Evo do MAS. Esse não seria o primeiro conflito, nem o último. Já em 2022, as Federações do Trópico haviam exigido sua renúncia pelo que consideravam ataques injustificados a ex-membros do gabinete de Evo e líderes dos plantadores de coca. Eles pediram sua cabeça e a de Iván Lima, o atual ministro da Justiça. Houve uma escalada com Morales e, em janeiro deste ano, Del Castillo reprovou o líder que ele defendia até o final de 2019: “o sujeito histórico é o bloco popular e não uma pessoa”.
Um ativista do MAS consultado para este artigo, que estava desencantado com o conflito interno, traduziu em poucas palavras a intervenção crítica de García Linera dirigida a Arce Catacora e Morales: “Foi como puxá-los pelas orelhas para que esse projeto não se perca”.
O partido, a ferramenta política do Movimento ao Socialismo, é o outro território em disputa. Ele está sendo resolvido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o setor de Evo define como cúmplice do governo. A liderança do MAS, congelada em 2017 e com Morales como seu líder máximo, deve ser renovada para o TSE. Por isso, convocou uma reunião em 10 de julho para desbloquear a questão partidária. Mas como Morales como presidente não foi convocado, mas seus delegados sim, esse setor já anunciou que não participará da reunião. O pior para o MAS pode vir no futuro. Se ele receber três sanções do TSE por sua reorganização interna do partido, poderá perder seu status legal.
Nessa situação, a ultradireita boliviana, que apoiou o golpe de Estado de 2019, dá um novo passo a cada dia. E o faz com ataques a uma economia que apresenta rachaduras, mas que está longe de se assemelhar à descrita pela fundação local Milenio ou ao que sustenta o governador eleito de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, que foi preso, citando este último: “seu relatório confirma com dados e argumentos técnicos o que estamos alertando há algum tempo: a economia da Bolívia está caindo, a crise é estrutural”.
O presidente rebateu esse argumento com sua própria descrição do momento: “Agora a situação está voltando ao normal e o modelo está funcionando, e nós vamos resolver os problemas econômicos e sociais”. E também citou duas medidas fundamentais de seu governo: “Aplicamos um imposto sobre grandes fortunas e estamos devolvendo o IVA aos setores de baixa renda”.
O analista econômico Omar Velasco, consultado pela Bolivisión, ficou equidistante das duas posições: “Nem tudo é bom, nem tudo é ruim”. As perspectivas de melhoria existem, qualquer que seja a fonte consultada. Mais animadoras ou mais escassas. Inclusive a opinião da polícia econômica mundial, o FMI.
Nesse contexto econômico, o governo anunciou uma marcha em defesa da democracia para 12 de julho. Ela irá de El Alto até a praça Murillo, no quilômetro zero, onde os tanques militares invadiram em 26 de junho. O Pacto de Unidade, liderado pelas organizações que apoiam Arce Catacora e encabeçado pela Confederação Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia, convocou a marcha.
Nas últimas horas, a saúde da democracia boliviana recebeu algumas boas notícias do mundo judicial. Um tribunal criminal de Cochabamba condenou os líderes da Resistência Jovem de Cochala a oito meses a dois anos de prisão. O motivo foi que, em novembro de 2019, nos dias seguintes ao golpe, o grupo atacou com chutes e socos No caminho para seu bicentenário – que em 2025 coincidirá com as eleições nacionais – o país está em turbulência. Isso pode ser visto dentro do Movimento ao Socialismo na disputa incessante entre Evo Morales e o presidente Luis Arce Catacora. Além disso, há rumores de um golpe de Estado, alimentados pelo levante militar de 26 de junho.cholas e camponeses que estavam defendendo Evo. Entre os condenados estão quatro homens e uma mulher. Eles são os mesmos que atacaram a prefeita de Vinto, Patricia Arce, do MAS, pintando-a de vermelho.
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