Por Paulo Roberto Missfeldt.
Sabe aquela sensação que parece juntar a fome e a vontade de comer? Neste caso, uma baita pauta e uma vontade enorme de escrever.
Nesta sexta-feira, 26, aconteceu mais uma Bicicletada em Blumenau. Seria só mais uma edição desse evento que vem minguando, apesar da cidade ter cada dia mais ciclistas e grupos de pedal. Uma coisa estranha: mais gente interessada, mas menos gente preocupada. Vai entender!
Enfim: a pauta da Bicicletada desta semana foi especial: instalar a primeira “ghost bike” da cidade. Em homenagem ao Paulo. Outro Paulo: outro sonhador, outro ciclista, outro cara “que não nasceu pra esse mundo”, como ouvi de um que o conhecia e, ao ouvir, parecia que ele falava deste Paulo aqui, que vos escreve. As coincidências entre os xarás só acabam porque, pelo que soube, ele tinha algum jeito com a arte, enquanto eu desafino até caixinha de fósforos.
A Bicicletada foi estranha. Foi a minha primeira, mas eu esperava algo barulhento, vivo, de massa. Foi muita gente, diria que tinha mais de cem pessoas. Deu umas onze vezes mais gente que a Marcha da Família e o quíntuplo do último desfile pelo impeachment da Dilma.
Apesar da galera, que ocupou uma pista das ruas por onde passou por uns 300 metros, o silêncio imperava em grande parte do caminho. Não tinha clima de protesto, de questionamento. Uma conversinha participar ou outra entre mais chegados, mas o silêncio imperava.
O grupo se acumulou no trevo da famosa camisaria que não pagou pra que eu falasse a marca deles (aceito em camisas, #fikadika) na BR 470. Dali, seguimos praticamente em fila única pelo acostamento da rodovia, sinalizados por um carro antes e um carro depois.
No local do atropelamento, foi instalada a tal bicicleta branca e uma faixa “atropelar ciclista não é acidente”. A família, que acompanhou o grupo num carro, agradeceu o apoio e lembrou que devemos fazer com que a perda deles (nossa!) não seja em vão.
Naquele momento, enquanto nos ajeitávamos para tomar o rumo de casa, a lua surgiu, onipotente e brilhando sobre o grupo. Difícil acreditar que não foi com hora marcada.
Dali, o grupo optou por seguir por uma estradinha de interior rumo ao Anel Viário Norte. O trajeto de barro e pedras soltas acabou ocasionando um acidente de verdade: um pneu furado, rapidamente resolvido.
No retorno, já cansados, aproveitávamos o silêncio. O que eles pensavam, eu não sei. Eu? Pensei nessas coincidências entre eu e o meu xará. Pensei em como foi bom aquele caminho bucólico, escuro e silencioso, pra tentar conhecer um pouco mais esse Paulo aqui.
No final das contas, a certeza de que o único acidente a ser mencionado foi mesmo o pneu furado. O atropelamento do meu xará? Não, isso foi um crime de trânsito. Mais um.
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Fonte: Cidade Plural.