Quem acha que o carnaval é um momento de “esquecer os problemas do país” está muito enganado. Cada vez mais, os blocos de pré-carnaval de Curitiba têm mostrado que é possível aliar diversão com engajamento político. Este ano, por exemplo, a denúncia da proposta de reforma da previdência foi levada às ruas da capital paranaense pelo bloco ‘Balança Povo, que o de Cima Cai’, que faz parte do CarnaCUT, o carnaval da Central Única dos Trabalhadores do Paraná. Na marchinha, versos como “dançou nossa previdência, até os 90 vou ter que trabalhar, para com decência poder me aposentar”.
Protestos contra o governo de Jair Bolsonaro também são trazidos pela Bloca Ela Pode, Ela Vai. O grupo, criado em 2018 e formado apenas por mulheres, já participou de diversos protestos na cidade, como no ato #EleNão, durante as eleições presidenciais de 2018. Mesmo com a vitória do candidato do PSL, as mulheres passaram seu recado por meio da batucada, com a letra: “Sai facista, engole as mina que votaram no Ele Não. Se prepara, as batuqueiras vão fazer revolução. Somos muitas: branca, preta, macumbeira e sapatão”. As integrantes do grupo contam que a Bloca aproveitam o carnaval e, ao mesmo tempo, fazem o enfrentamento a um contexto de violência, repressão e opressão.
“A gente quer passar a mensagem que as mulheres podem. A nossa voz vai dizer o que a gente quer falar, não o que o outro quer ouvir. Ocupar esse espaço no pré-carnaval é poder reafirmar tudo isso: nós somos mulheres, e podemos e devemos estar onde a gente quer estar”, destacam.
“Estar na rua é um ato político”
Blocos como o Pretinhosidade e a Bloca Saí do Armário e Me Dei Bem também são conhecidos pelo engajamento político. Composto apenas de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e pessoas intersex, o Saí do Armário e Me Dei Bem foi criado em 2017, e desde então tem levado a discussão LGBT pro carnaval da cidade. “Todas as nossas músicas tem um cunho político. Desde as paródias que a gente faz com as letras que já existem, até a escolha do nosso repertório. A gente tenta garantir sempre a representatividade LGBT, então a gente prioriza sempre a escolhe de artistas desse meio”, explica a integrante do grupo, Danielle Duarte. Para o coletivo, criar um bloco com essa característica já é uma forma de enfrentamento. “Nós sofremos muita opressão por sermos quem somos, então só de sair pra rua para fazer festa é por si só um ato político”, ressalta
Além disso, o grupo leva pra folia a campanha “Não é não”, para debater questões como assédio, racismo, machismo e homofobia.