Biblioteca itinerante à beira rio

Atravessamos a rua cheia de carros.  Chegamos em uma espécie de calçadão. Descendo uma escada de cimento tocamos os pés na areia. No muro em frente, um texto fala do velho chico, e mais uma placa e outra fazem declarações de amor ao rio. Do lado de cá, Pernambuco. Depois o rio, que se atravessado, a um passo, ou melhor, a uma viagem curta de barca, nos leva à Bahia. À cidade de Juazeiro. No chamado cais das barquinhas, em Petrolina, agora tem uma biblioteca. Ela é composta apenas por uma estante de madeira, não muito grande. Parada em frente a ela, Valenna, de 10 anos, pergunta: “até quando ela vai ficar aqui?”

A Biblioteca Itinerante, uma das ações descentralizadas do Clisertão, não tem data pra ir embora. Quando soube disso Valenna arregalou os olhos, abriu a boca, com aquela expressão clássica de espanto, e disse: “que massa!”. Valenna estava lá com os amigos na inauguração da biblioteca, que aconteceu hoje por volta das 10h. Havia muitas crianças, que caçaram os gibis da turma da mônica da estante e sentaram, uma ao lado da outra, em um banco de madeira que fica na estação fluvial. Kássio Aparecido diz que vai ficar indo lá todo domingo. “Eu adoro ler, principalmente gibi e cordel”, diz o menino de nove anos. Árvores, barcos coloridos, sol batendo na água. O cais das barquinhas é uma paisagem inspiradora. “Andar de barco já é maravilhoso sobre as águas do velho chico, andar de barco e aguardar essa viagem noutra viagem, que é a viagem da leitura, vai ser maravilhoso. E que isso se multiplique, que seja só o primeiro espaço de muitos”, diz o professor  do pequeno Kássio, Paulinho Santos, da Escola Municipal Integral São Domingos Sávio.

Biblioteca Itinerante (foto: Ricardo Moura)

 

Wellington de Melo, um dos organizadores do evento e coordenador de literatura da Secretaria de Cultura de Pernambuco, acredita que é importante levar os livros ao encontro das pessoas, e que essa é a maior intenção da Biblioteca Itinerante. “Existe uma ressignificação dos hábitos das pessoas, e é dificil, hoje em dia, que as pessoas vão naturalmente para as bibliotecas, então por que não as bibliotecas irem para onde as pessoas estão? A intenção é um pouco essa, por que não provocar e fazer com que o livro entre no cotidiano das pessoas?”

Houve recital de poetas como Antonio Torres, Luna Vitrolira, Laércio Lima, Sebastião Simão Filho, Sérgio Murilo, Luís Hélio, Chico Pedrosa, Rei Berroa, dentre outros, que selaram a inauguração com bastante poesia.

 

A Biblioteca Itinerante estará aceitando livros permanentemente. Basta dirigir-se à orla e depositar a doação na estante de livros. Para empréstimos também não é necessário documentação ou qualquer procedimento formal. Basta retirar o livro. As Secretarias de Cultura de Pernambuco e Petrolina apenas vão ter controle do acervo, no intuito de mapear os hábitos de leitura, inclusive para futuras ações. Mas a intenção é que a biblioteca seja gerida, alimentada e usufruída pela população, a fim de que se crie uma rede de trocas e estímulos natural e informal.

Luna Vitrolira recita poesias na inauguração da biblioteca. (Foto: Ricardo Moura)

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