A biblioteca leva o nome de seu fundador “José Roberto do Amaral Lapa”, que é uma homenagem póstuma ao professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, reconhecido pelo importante trabalho científico que fez resgatando a história campineira e dos seus entornos. O CMU contém um rico acervo, onde estão inclusive documentos do século XVIII, dos primórdios da história de Campinas. Fundamental para a memória da cidade, os fundos e coleções guardam materiais que remontam ao ciclo da cana-de-açúcar, passando pelo café até chegar aos dias atuais.
Também possui importante documentação que é parte da guarda da memória daqueles que são omitidos na história dominante, como a documentação sobre os escravos, imigrantes e operários da época da industrialização. O próprio anúncio que os trabalhadores do CMU emitiram tratou de afirmar a importância de seu conteúdo, que serviu de base para inúmeras pesquisas e publicações, além de ser referência em termos técnicos para outras instituições de memória. Este anúncio soou como um lamento diante da situação limite de trabalhadoras que dedicaram três décadas de suas vidas ao funcionamento deste espaço, que será fechado graças ao descaso da reitoria.
No início deste a biblioteca “Antônio Cândido” do Instituto de Estudos da Linguagem também emitiu um anúncio de que estava sob risco de ter suas atividades encerradas e passou a ter seu funcionamento reduzido pelas mesmas condições de não reposição de funcionários aposentados.
A mesma realidade é vista em diversas outras áreas da Unicamp: funcionários aposentando ou em vias de se aposentar sem reposição, sobrecarga de trabalho devido a essa situação ou outras que são parte da rotina de trabalho, como licenças ou falecimento. Isso sem contar a imensa quantidade de estudantes de baixa-renda que ao serem contemplados com auxílio da universidade são alocados nas tarefas que deveriam ser responsabilidade desses funcionários que a reitoria não contrata. É comum ambientes em que a quantidade de estudantes bolsistas é igual ou maior que a de funcionários.
A recente greve realizada pelos trabalhadores da Unicamp denunciou e se colocou contra essa realidade de precarização da universidade. Em seus 50 dias de greve a luta dos trabalhadores não se resumiu à exigência de um reajuste salarial justo, que como direito cobrisse suas perdas dos últimos anos. Também os funcionários denunciaram o descaso da reitoria da universidade, que segue as ordens do governo do Estado atacando os trabalhadores e a população, como fica evidente nesta desvalorização dos funcionários e nas escandalosas denúncias no Hospital e área da saúde voltada à população.
O reitor Marcelo Knobel, junto a sua equipe que é seu braço direito para perseguir e assediar os trabalhadores da universidade, repetem o mesmo discurso do governo golpista, dos demais reitores e da burguesia paulista: ‘tempos de crise exigem austeridade”. Mas essa “austeridade” tem como único alvo os trabalhadores e mantém intactos os privilégios da minoria autoritária que governa a universidade. Em nota a reitoria inclusive compara o mísero reajuste de 1,5% que impôs aos trabalhadores com a quantidade de professores e funcionários que poderia contratar com essa verba, insinuando que a não contratação é culpa dos trabalhadores que exigem seus direitos. Um tremendo absurdo.
A reitoria impôs o congelamento das contratações, aumentou o valor das refeições dos restaurantes universitários, impôs um reajuste mais de dez vezes menor do que o de direito dos trabalhadores e garantiu o corte dos salários de muitos dos que legitimamente estavam em greve por seus direitos. Ao tempo que, contraditoriamente ao seu discurso de crise orçamentária, apoiou a decisão da Assembleia Legislativa de aumentar o teto dos salários de uma camada privilegiada da universidade para 30 mil reais.
Enquanto faz propaganda de defesa da universidade pública a reitoria corrói um de seus pilares essenciais: os trabalhadores. Isso tem impacto direto na produção do conhecimento, como mostra o anúncio de fechamento das bibliotecas. Também a terceirização é uma outra via deste ataque, já que, ao passo que precariza ainda mais as condições de trabalho, entrega cada vez mais a universidade às mãos da iniciativa privada. A Unicamp dos rankings, que nesta quarta, 18, foi declarada pela segunda vez a melhor da América Latina tem sua “excelência” voltada aos interesses das multinacionais e para garantir suas patentes que não se tornarão benefícios que melhorem a vida da população.
É por isso que os trabalhadores e estudantes devem se unir para defender a universidade pública de fato, começando por exigir a imediata contratação de funcionários e impedir que serviços fundamentais para o ensino, pesquisa e atendimento à população sejam encerrados. Essa luta também deve exigir a abertura das contas da universidade e que não mais seja uma minoria de privilegiados que decida sobre seus rumos, mas que sejam os estudantes, funcionários e professores que decidam democraticamente para onde vai o dinheiro.