Por Nildo Ouriques.
O canto do cearense atravessou gerações. Suas músicas e letras sempre encontraram ouvidos abertos e mãos ávidas para levar a toada no violão. Certa vez, em São Paulo, chamei a atenção de Monica Baltodano, dirigente sandinista, para a canção “como nossos pais” que, de certa forma, era um hino para muitos militantes na década de oitenta. A versão de Elis Regina deu sentido ainda mais dilacerante à musica de Belchior. Monica, a nicaraguense sandinista pediu a tradução e após atenta escuta, não vacilou: “muito ruim”. E arrematou: “Não repito meus pais, não sou a mesma e nem vivo como eles”. O recado dela mostrava a vitalidade da Revolução Sandinista, de uma geração que derrotou a ditadura pelas armas, venceu e criou condições excepcionais para o povo do país centro-americano. Mas a sentença de Monica falava também sobre o isolamento social que a transição por cima tinha colocado todos nós no Brasil. Depois do episódio jamais ouvi com a mesma beleza as notas que, de fato, não eram mais do que o grito melancólico dos derrotados.
Vai meu abraço.
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Foto: Catraca Livre.