Por Paula Guimarães.
São várias pessoas e ao mesmo tempo uma só. Uma multidão dentro de cada uma, resultado das experiências e do conhecimento acumulado por nós e nossos ancestrais. Bel Bandeira convida a esse despertar com o álbum Multidões, que mistura música e poesia em dez canções autorais. “Somos o que fomos. Múltiplos de nós mesmos e únicos em nossa própria Multidão”, define a cantora.
A artista, que mora em Jaraguá do Sul/SC, revela toda sua paixão pela musicalidade brasileira em um repertório com samba de roda, samba choro, samba de breque, embolada, ciranda, xote, pop e elementos do maracatu, afoxé e toada. “Escolhi seis canções minhas e três de parceiros na busca de atingir a mais variada paisagem sonora que contasse minha história musical e poética”, explica. São parceiros em autoria conjunta ou individual: Pablo Varela, Rosângela Pereira, Eliete Bandeira, Ana Paula da Silva e Chico Tâmega.
Muitas músicas são iniciadas por um dialeto próprio, criado pela artista, como referência à cultura africana. Entre elas está Mano Sol Mana Lua, faixa principal, que evoca a sabedoria dos astros em uma criação com jogos de palavras. Com ela, ganhou em 2012 o 1º lugar no festival da canção de Jaraguá do Sul, na categoria canções inéditas. “Esse prêmio me deu coragem para acreditar no meu trabalho como compositora e iniciar o projeto”, revela.
“Salve Iemanjá, salve a sereia, salve os caboclos que pisam na areia, na profunda cadência do mar, renascemos ao clarão da lua cheia”. Em “Ciranda dos Caboclos”, de Chico Tâmega, a artista saúda Iemanjá e os antepassados brasileiros, resgatando a forte relação entre índios, negros e o orixá. “Foi o melhor momento do show. Incrível, a música é mágica”, conta.
De todas as misturas, Bel mostra sua identidade no samba, símbolo da cultura negra, que junta multidões de vários continentes, amparadas no Brasil. Pela forte influência de Noel Rosa no seu trabalho, regravou a canção “Minha Viola” de 1926, já de domínio público. “Somos um novo resultado a cada instante. Plenos de identidades, habilidades e vivências. Fruto de nossas ações e omissões. Navegando sobre possibilidades e oportunidades”, conceitua.
Embriague-se
Além de despertar multidões, Bel pretende “embriagar” o público com sua arte. Aproveita de sua fluência na língua francesa para trazer no álbum o poema “Enivrez-vous” (embriague-se) do filósofo francês Charles Baudelaire, declamado na língua original. Antes da declamação do poema, o cenário é construído e a imaginação incitada pelos sons do estouro da rolha e do vinho sendo derramado na taça. “Para que não sejas escravo martirizado do tempo, embebeda-te, embebeda-te sem tréguas! Com vinho, com poesia, com virtude, é só escolher (…)”.
“O poema, tanto quanto o título multidões, fazem parte de um conceito filosófico que me inspira a seguir em frente com meus sonhos, a criar uma realidade para minha vida que seja coerente com quem eu sou”, afirma a artista.
Trajetória
Bel faz contação de histórias em escolas utilizando instrumentos como chocalho, tambores, violão, flauta doce e escaleta. Carioca, cursou Engenharia Eletrônica na França onde fixou residência em 2000. De volta ao Brasil, dedicou-se ao estudo da música em diversas vivências, formas e lugares. Participou de festivais, aulas particulares, práticas com grupos e corais e foi aluna no curso técnico em canto do Conservatório de Música Popular de Itajaí.
Aposta do público
Bel apresenta suas músicas em turnê de pré-lançamento do álbum. O projeto de gravação do CD recebeu recursos pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Jaraguá do Sul. A artista conta com a aposta no público para finalizar o CD e levar sua arte adiante.
Fotos: Samuca Chiodini
Fonte: Enredo Conteúdo Criativo