Barajas, a saída da Espanha

Por Arnobio Rocha.

Agora vai, Obama ligou para Rajoy, se diz “solidário com o esforço da Espanha”, resolveu tudo, percebemos neste ano, em que escrevemos esta série sobre a Crise 2.0, que de vez em quando alguma autoridade dos EUA liga pra alguém da Europa hipotecando sua solidariedade, mas de concreto absolutamente nada acontece. Tim Geithner, Secretário do Tesouro, ano passado, fez turnê por Londres, Paris e Berlim sempre “solidário”, algo como: “temos experiência na crise, qualquer coisa, conte conosco”, ou mais ou menos como pescar em águas turvas.

O que nos parece é que Obama, Bernanke ou Geithner, buscam alguma oportunidade para reinserir os EUA no mercado europeu, como a fustigar a Alemanha. Enquanto Merkel se recusa a uma ação mais decidida sobre o “resgate total”, “Parcial” da Espanha, Obama liga para Rajoy e lhe enche de esperança. Ontem mesmo, o governo espanhol lançou novo nome ao tal resgate da dívida, chamando-o de “Suave”. Todo este jogo de cena, não consegue encobrir uma situação alarmante de degradação social jamais vista.

Os indicadores sociais espanhóis, assim como tinha acontecido na Grécia, Portugal e Irlanda, vão caindo de forma assustadora, os cortes nos orçamentos atingem níveis impensáveis, tornando o desemprego crônico até em setores inimagináveis. Hoje no El País uma longa reportagem sobre o êxodo de Médicos e Enfermeiros, que fogem da Espanha, rumo aos outros países europeus e para América. Basta lembrar que na Grécia, em 2011, 11% dos médicos saíram do país, na Espanha, sem números fechados totais, o número de profissionais da saúde que deixaram o país é preocupante. Abaixo a tabela do El País com a evolução do desemprego na saúde de 2010 para 2012:

Apenas em 1 anos e meio aumentou a desocupação em mais de 100%, na maioria são contratos de trabalhos não renovados, ou corte direto dos empregos. Desde 2010 o Ministério da Saúde vem aumentando a emissão de certificado de competência médica , que equivale a “passaporte” profissional na UE, para médicos. Em 2010 foram 1248, 2011 1435, e apenas em 6 meses em 2012 já são 948. Para enfermeiros são: 2010,675;em 2011, 914 e até junho de 2012 mais 400. O problema se agrava com a perspectiva de haver mais desemprego, se projeta que ao final de 2014, com crescimento negativo da Espanha, haveria 10 mil médicos desempregados.

O que explica a saída do país, assim como acontece na Grécia, os números são preocupantes para saúde como um todo, pois em 2009, o Ministério apontava um déficit de 3200 médicos no país, com o agravante de baixa formação pelas universidades, pois cada novo médico formado custa 200.000 Euro. Com esta fuga de cérebro do país, equivale a 726 milhões de Euros perdidos pela crise. Até 2025, sem contar com esta fuga, a Espanha teria déficit de 25000 médicos. A radicalidade dos cortes e ajustes, matam o “paciente” por diversos ângulos, o caos na saúde é apenas mais, que se tornará mais visível.

Os estrangeiros, não podem mais ter acesso ao sistema público de saúde, exceto os exilados, grávidas e crianças. Os valores pagos pelo menores de 65 anos será de 710,4 Euros e maiores de 65 anos, 1864,8 Euros ao ano. Para os espanhóis, os que tiverem mais de 26 anos e renda anual de 100 mil Euros, também não podem acessar gratuitamente o sistema público. Os remédios que eram subsidiados também foram cortados com a medida chamada de “medicamentazo”, cortou 40% dos subsídios, além de criar rígidas regras, por grupo etários, dificultando a compra para todos os grupos sociais, em particular os estrangeiros, conhecido como “sem papéis”,cerca de 150 mil pessoas.

Na educação a realidade é a mesma, apenas neste ano 40 mil professores não tiveram seus contratos renovados, com o decreto de novas regras para demissão, o número deve aumentar enormemente. Nas universidades públicas a ordem é cortar os contratos de todos os professores não titulares, o desrespeito maior, durante as férias, muitos professores souberam de seu desligamento quando foram ao banco. Havia depósito indenizatório, muitos achavam tratar-se de erro, quando foram às universidades foram informados que correspondia ao pagamento de seus corte. Apenas, nas Universidades de Madri, serão 1000 professores demitidos.

O Governo do PP, passou uma reforma trabalhista à força, sem discutir com ninguém, os cortes de pessoal, estão acompanhados também da diminuição do tempo e do valor do seguro desemprego. A finalidade principal é que empresas privadas demitam e recontratem a valores mais baixos, ou nem recontratem mais. O funcionalismo público foi atingindo de duas formas, os diretos ( cerca de 3 milhões)perderam o 13º salário, enquanto os de empresas públicas podem ser demitidos imediatamente, calcula-se que 10% dos 700 mil trabalhadores serão desligados imediatamente. Na região autônoma Valenciana a Rádio TV estatal mandou 1247 para casa, ou 76% dos funcionários.

Os planos são draconianos, com regras que tornam a vida dos trabalhadores insuportáveis, a única saída é Barajas, o Aeroporto Internacional de Madri.

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