Por Tiago Pereira.
Com taxas de juros que “enforcam” a economia real e colaboram para a estagnação do crescimento, os grandes bancos que atuam no Brasil também têm contribuído com a elevação do desemprego. Desde 2012, o setor, que registra sucessivos lucros bilionários, cortou cerca de 56 mil postos de trabalho no país. O maior movimento de fechamento de vagas se deu nos últimos três anos, com cerca de 50 mil cortes.
No ano passado, Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil – as quatro maiores instituições com ações listadas na Bolsa – somaram R$ 57,63 bilhões em lucros. Em 2016, esse número foi de R$ 50,2 bilhões e, em 2015, alcançaram a cifra de R$ 61,9 bilhões, de acordo com a consultoria Economatica.
Já o fechamento de vagas – diferença entre demitidos e contratados – foi de 17.905, em 2017, depois de ter alcançado 20.553 no ano anterior. Mesmo em 2015, quando os lucros foram recordes, 9.886 postos de trabalho foram extintos.
Em dezembro do ano passado, os dispensados ganhavam em média R$ 7.456. Já a média salarial dos contratados foi de R$ 4.139, o que representa apenas 56% da remuneração dos desligados.
Neste ano, a tendência continua. Nos primeiros três meses deste ano, foram 2.226 vagas extintas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
De janeiro a março, apenas os três maiores bancos privados – Itaú Unibanco, Santander e Bradesco – registraram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões.
Reestruturação
Segundo o economista do Dieese Gustavo Cavarzan, trata-se de uma reestruturação produtiva, em que o setor pretende maximizar resultados reduzindo estruturas. Mas nem sempre foi assim. De 2003 a 2011, os bancos conciliavam a ampliação dos negócios, com o crescimento do número de agências e de funcionários. Desde 2012, a terceirização e a substituição tecnológica, tendências verificadas desde os anos 1990, são intensificadas.
Além da terceirização (transferência de serviços para empresas prestadoras de serviços, ainda que de natureza bancária), os bancos têm se utilizado dos chamados “correspondentes bancários” – quando outros estabelecimentos comerciais, lotéricas e agências dos Correios, por exemplo, passam a oferecer serviços financeiros, em substituição a agências de bancos.
“Esses estabelecimentos fazem contratos com os bancos para prestar determinados serviços, só que os trabalhadores não são bancários, não têm os direitos previstos em convenção coletiva da categoria, têm salários muito menores, entre outros fatores. Assim, os bancos conseguem expandir suas atividades sem contratar, ou até mesmo demitindo”, explica Cavarzan.
Outro processo ainda mais decisivo é a intensificação da tecnologia no setor. Estudo divulgado pela própria Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa que 35% de todas as operações bancáriashoje são realizadas por meio de smartphones, e só em 2017, os grandes bancos investiram R$ 19,5 bilhões em desenvolvimento tecnológico.
Tarifas
Contudo, apesar dos custos infinitamente mais baixos dessas transações, as tarifas bancárias não caem, ao contrário, seguem subindo. O técnico do Dieese destaca que, segundo relatório do Bradesco, o custo das operações virtuais é de cerca de 3% do que seria se elas fossem realizadas numa agência. Ainda assim, as tarifas bancárias tiveram reajuste de cerca de 9%, segundo o Dieese, frente a uma inflação oficial de 2,95%, no ano passado.
“A gente não vê esse movimento, que está no discurso dos bancos – que os clientes seriam beneficiados com a redução de custos –, sendo reproduzido na prática. As tarifas seguem aumentando muito acima da inflação geral. Essa redução de custos está sendo totalmente apropriada pelas empresas”, ressalta Gustavo.
Para a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, os avanços tecnológicos são importantes, mas não podem ficar a serviço apenas dos banqueiros. “É preciso assegurar transações seguras, com a redução do valor das taxas para população, com melhores serviços e melhores condições de trabalho para a categoria.”
Ela lembra que o uso das novas tecnologias pode ainda aumentar a exclusão de parcela mais pobre da população, além daqueles que vivem em áreas afastadas, fora dos espaços urbanos, e que não contam com fácil acesso à internet.
Em vez de haver um compartilhamento dos ganhos tecnológicos, parte das inovações serve para tornar mais precárias as relações de trabalho no sistema financeiro. “Os trabalhadores sempre tiveram de se mobilizar para conquistar seus direitos, e isso não vai mudar. No ano passado, durante negociação salarial, os trabalhadores conseguiram incluir cláusula para garantir a requalificação e realocação de trabalhadores atingidos pelo avanço tecnológico. Esperamos que todos os bancos mantenham e cumpram o compromisso.”