Por Dinovaldo Gilioli, para Desacato.info.
Há tempos que o mundo anda sisudo demais. Mesmo abstraindo o grau de alienação que programas do tipo “Big Brother” ajudam a aumentar, é impossível que uma viva alma não perceba isto ao seu redor. É inegável, porém, que a percepção e o próprio peso dessa sisudez recaem muito mais sobre aqueles que enxergam as coisas como elas realmente são. Ou seja, sobre aqueles que as percebem sem se deixar iludir por propagandas enganosas, do tipo: “para vencer na vida basta apenas estar preparado; todos têm a mesma oportunidade, a mesma chance ”.
Enganam-se os que, antes de terminar a leitura deste artigo, já comecem a dizer: “pô, que cara pessimista, só enxerga as coisas negativas”. Muito pelo contrário, quero exaltar a vida plena, abundante e bonita. Mas não só para mim, minha família e meus amigos. Eu quero, como diz a música, “ver todo o povo feliz”. O povo feliz não só na avenida, em época de carnaval. O povo feliz não só no estádio, quando o seu time preferido ganha. E não, só! E sim solidário, participativo, consciente, confiante na energia pessoal e na força do coletivo. Para uns, isto é apenas mais uma utopia; para outros, até um delírio.
Julgamentos à parte, quero mesmo é ver o dia que o povo enxergar e conseguir escapar do cabresto do sistema. O dia que romper as suas correntes invisíveis, as suas sofisticadas formas de dependência objetiva e subjetiva, o dia que negar a cultura alienante. Quero ver o dia que o povo subverter a lógica capitalista de consumo, de aparência, de egoísmo, de acúmulo e descarte de coisas. Lógica esta que ajuda a manter e reproduzir o próprio sistema. Quero ver o dia que o povo perceber, depois de despertar do sono profundo, que tudo isto não faz sentido. Quero ver, enfim, as muralhas dos milionários; que prosperam à custa da miséria de milhões, esfacelarem feito pó.
Enganam-se também os que apostam que esse dia jamais chegará. Que a justiça social não será feita e que o mundo continuará sisudo demais para a maioria, porque meia dúzia seguirá agindo para se apropriar de tudo; até do nosso modo de pensar, de determinar a nossa própria vida. Ah, chegará o dia que a maioria dos homens avivará as suas vidas e não permitirá que alguns poucos homens, por ganância e opulência, continuem a tratá-los como se não fosse gente.