AbrilAbril.- No Reino Unido, onde a inflação atingiu 11,1% em outubro (a mais elevada em 41 anos), as greves fazem-se sentir nos mais variados sectores de atividade. Milhares de enfermeiros devem fazer greve pela primeira vez, exigindo melhores salários face ao crescente custo de vida.
A greve neste sector, sem precedentes em 106 anos, deve começar antes do final do ano, anunciaram representantes sindicais, afirmando que os salários dos enfermeiros diminuíram cerca de 20% nos últimos dez anos em termos reais, deixando os trabalhadores numa situação complicada para alimentar as suas famílias e pagar as facturas, indica a PressTV.
Ainda no Reino Unido, centenas de trabalhadores do handling no Aeroporto de Heathrow iniciam hoje uma greve de 72 horas, quando está para começar o Campeonato do Mundo de Futebol no Catar, exigindo melhores salários.
Na Grécia, os trabalhadores fizeram uma greve geral de 24 horas, que levou milhares de manifestantes para as ruas de Atenas e Salónica.
«Ganho 900 euros por mês. Até que me paguem outra vez, terei pago a minha hipoteca, o meu recibo da luz e da água, e fico apenas com umas migalhas para sobreviver», afirmou um dos manifestantes.
«Não consigo chegar ao fim do mês. É difícil chegar ao fim do mês, chegar ao fim do mês significa que o salário dura até ao último dia do mês. O meu já está gasto ao cabo dos primeiros dez dias», disse outro dos manifestantes gregos à PressTV.
Também na Bélgica os trabalhadores realizaram uma greve geral de 24 horas, por melhores salários, para fazer face à inflação crescente, e reclamando o congelamento dos preços do gás e da electricidade, em defesa do poder de compra.
De acordo com as centrais sindicais belgas, os preços dispararam por causa da guerra na Ucrânia, «mas também porque as empresas aproveitaram a oportunidade para aumentar os seus lucros ainda mais». O patronato e os grandes grupos económicos foram acusados de «gananciosos».
Na França, a GCT, quase sempre acompanhada por outros sindicatos, tem dinamizado mobilizações nas ruas e greves em diversos sectores, em busca de aumentos salariais e de mais contratação, num contexto de custos crescentes de energia e da inflação generalizada.
«Ponha-se no lugar dos trabalhadores que já têm dificuldades em sobreviver e que têm de protestar para obter aquilo que merecem. Incentivo todos a mobilizar-se, a virem para as ruas, e talvez amanhã tenhamos de ocupar as rotundas e não parar até conseguir estes aumentos salariais indispensáveis», disse um grevista em Paris.
Perspectivas económicas pouco animadoras
Os protestos têm lugar num contexto sombrio para a Europa, em que a guerra na Ucrânia e a política de sanções e confrontação com a Rússia têm graves consequências para todas as economias europeias.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu, em outubro, que as economias avançadas da Europa crescerão apenas 0,6% no próximo ano, advertindo ainda que mais de metade dos países da zona euro vão enfrentar recessões técnicas neste inverno, refere a fonte.
Também se espera que a Alemanha, considerada a maior economia da União Europeia, entre em recessão este ano, tendo em conta a falta do gás russo. De acordo com Alexander Kriwoluzky, do Instituto Alemão de Investigação Económica, o país levará pelo menos dois anos a voltar ao seu modelo.
Tecnicamente, a recessão ocorre quando se verificam dois trimestres consecutivos de crescimento negativo.