Por Ivan Dias Jr.*
“Quiseram enterrar-nos, mas não sabiam que éramos sementes” é a ideia que permanece no cabeça de todxs aquelxs que estão engajados procurando por justiça sobre o desaparecimento dos 43 estudantes da Escola (Pública) Normal Rural Raúl Isidro Buergos em Ayotzinapa – Estado de Guerrero, no México.
Em setembro de 2015 completou-se um ano desta trágica e mal resolvida história de repressão aos alunos desta escola do campo, que faz em seu currículo a aliança entre os saberes rurais e o pensamento crítico pela luta social, como podemos ver num dos murais de seus espaços pedagógicos.
De acordo com a entrevista feita pela Agência Brasil em novembro de 2014, o aluno do segundo ano, Ivan Cisnero Flórez, 19, disse que Isidro Buergos carrega a fama de ser um reduto de “formação de guerrilheiros” e ser crítica ao modelo de desenvolvimento econômico mexicano, voltado ao livre mercado, e defende perspectivas autônomas, tanto na prática política quanto no ativismo, afastando-se das centralidades burocrático-institucionais.
Até o presente momento o Estado mexicano silencia sobre o caso e tenta jogar toalhas quentes sobre o crime pelo qual é o principal responsável.
Agora e deste lado do equador, seis escolas já foram ocupadas de forma autônoma e orgânica pelos estudantes no Estado de São Paulo (E.E. Castro Alves, E.E. Diadema, E.E. Fernão Dias (Pinheiros), E.E. Heloísa Assumpção (Osasco), E.E. Salvador Allende (Conj. José Bonifácio) e E.E. Valdomiro Silveira (Santo André), contra a tal “reorganização escolar” do governo.
O aparato repressivo estatal age como de praxe: nesta quarta-feira (12/11), uma aluna desmaiou após ser atingida por spray de pimenta atirado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, (que, diga-se de passagem, foi, e com razões claras, recomendada pela Organização das Nações Unidas que fosse extinta) e a corporação não foi penalizada pela ação, mesmo a manifestação tendo seguido pacífica no entorno da escola.
Conforme determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, os alunos terão até a manhã desta sexta-feira (13/11) para deixar a Escola. Após este prazo, deve haver intervenção militar.
Lembremos que o Governador do Estado orçou gastos de R$35 milhões de reais em caminhões anti-protesto em 2014 ao mesmo tempo em que permitiu que escolas trabalhassem sem papeis higiênicos e lotadas, o que evidencia a “total disposição e abertura” para com a comunidade escolar.
A tropa de choque já chegou à E. E. Fernão Dias para cumprir as determinações da justiça para a “reintegração de posse” sobre um patrimônio que é também dos estudantes.
Mais sementes.
Foto de capa: Leandra Felipe. Agência Brasil.
Fonte: Peronomucho.