Atualizações da retomada Casa dos Estudantes Indígenas, em Porto Alegre

Por Alass Derivas.

Ontem, em Porto Alegre, estudantes indígenas dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani retomam um prédio da Prefeitura de Porto Alegre, na entrada do Túnel da Conceição, em frente ao Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São cerca de 50 indígenas, mães que reivindicam a construção de uma Casa do Estudante Indígena, demanda antiga dos povos, que nunca foi atendida pela Universidade. Gah Té Iracema, kujà, pajé do povo Kaingang, que recentemente foi indicada pela universidade para o título de Dra. Honoris Causa, está junto retomando este território. Retomada, pois toda Porto Alegre é território ancestral indígena, guarani, kaingang, charrua. O imóvel abandonado há cinco anos, foi cedido para a UFRGS, mas no começo de fevereiro devolvido à Prefeitura.

A permanência das pessoas que ingressam na Universidade através de Ações Afirmativas, como as estudantes indígenas, é uma luta dura e importante. Não adianta só colocar as pessoas para dentro dos muros, das salas, é preciso dar condições para que elas sigam seus estudos e dentro da visão de mundo que acreditam e vivem. É preciso o básico, como moradia, alimentação, cuidado com os filhos, respeito à cultura. É luta de anos! Em carta de 2017 direcionada à Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas (CAF) da UFRGS, o coletivo de estudantes indígenas exigiu ações da universidade para que a cultura dos povos seja respeitada e valorizada, o que é fundamental para a permanência nos estudos, a não desistência, o não se “embraquecer”. Entre os pontos sugeridos, no final da carta, o destaque para a importância de uma casa indígena.

“[…] uma casa de estudantes indígenas, uma ég in, uma casa nossa onde
poderemos praticar nossa cultura, nossas formas de estar bem uns com os outros, seja
na alimentação, na contação de histórias, nos aconselhamentos dos mais velhos aos
mais novos, nos risos e nos rituais, os quais consagram nossos corpos é uma demanda
urgente e será pauta contínua na agenda das discussões acerca das ações afirmativas e
na construção de uma universidade intercultural e que respeita os povos originários
deste território”.

A necessidade de um espaço assim também se dá para que as mulheres possam criar com tranquilidade seus filhos. O tema já foi assunto de reportagens e trabalhos acadêmicos, como a dissertação “Indígena-Mulher-Mãe-Universitária o estar-sendo estudante na UFRGS”, de Patrícia Oliveira Brito. “São mulheres que em geral apresentam na sua forma social e cultural a vivência do casamento e da maternidade em idades que coincidem com a experiência do ensino médio e superior, sendo a convivência com suas crianças uma característica que as identifica”, explica a pesquisadora.

O coletivo indígena denuncia que após 2008, quando as Ações Afirmativas começaram, algumas mulheres já viveram na Casa do Estudante da UFRGS tendo que esconder seus filhos, pois o regimento interno da casa não permite crianças. Os vigias e seguranças fingiam que não viam, mas a necessidade do esconder. Imagina viver assim?

Querendo mudar essa situação, abrir um espaço de respeito à cultura e ao modo de viver dos povos dos estudantes indígenas, este prédio está sendo retomado neste momento.

Fortaleça a ocupação. Tragam alimentos, produtos de limpeza, some-se nessa luta.

Atualização

Desde o momento da entrada, diversas interações. Primeiro com pessoas em situação de rua que ocupavam o prédio. Foram avisados que agora seria uma Ocupação Indígena. Saíram, mas não sem momentos de tensão.

Logo após, a Guarda Municipal esteve presente, alertando para o risco estrutural do prédio e que os indígenas poderiam ser vítima de violência por parte destas pessoas que circulam por ali à noite. Depois, esteve presente Mário Fuentes, coordenador dos Povos Indígenas, Imigrantes, Refugiados e Direitos Difusos, que argumentou que o prédio sendo da Prefeitura seria difícil de negociar com a UFRGS.

Os estudantes indígenas disseram que vão seguir ocupando. Tem reuniões marcadas nesta segunda com Mário Fuentes e com o CAF, Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas da UFRGS.

As tentativas de desmobilização são muitas de uma ação direta indígena em um dos principais pontos de fluxo da cidade.

Neste momento, a Polícia Federal se encontra na retomada. Solicitaram a presença do Conselho Tutelar. O momento é de apreensão. Fiquemos atentos.

A vigília nesta noite de hoje é fundamental.

Apoie com a presença, com materiais de limpeza, alimentos.

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