Por Raul Fitipaldi.
A discussão sobre o diploma de jornalista, marcada pelo oportunismo das empresas monopólicas de comunicação, a “fraqueza espiritual” do governo federal e a podridão da Justiça e do Congresso Brasileiro, pretendeu confundir e ocultar o direito das pessoas (incluídos nós, jornalistas) à liberdade de dissentir, de defender suas idéias e de comunicar-se ao seu modo. Tentaram servir um prato feito, no qual o diploma era desnecessário, de modo que as empresas tivessem a liberdade de contratar garantidores de rating ou pagassem salários mais míseros ainda a jornalistas fashion e moldáveis para apresentar seus produtos modeladores de opinião, conhecidos sob a alcunha de notícias. Por tabela, para que o espectro informativo e comunicacional fosse tomado de assalto por opinólogos de ofício e proto-candidatos a qualquer coisa, induziram à idéia de que em nenhum caso é necessária a técnica para que as pessoas cumpram o papel de comunicadores, basta ter acesso a um computador. Comunicar é uma das funções do jornalista, sua finalidade principal, no entanto, o jardineiro e o engenheiro, a nutricionista e a faxineira, todos podem se comunicar, E DEVEM. Às vezes precisa-se de um jornalista, às vezes não; para entrar nos sítios de relação social não se necessita, para garantir a qualidade de compreensão de um texto noticioso sim. No meio disso, há uma parte pequena da categoria jornalística (muito pequena ainda) que dedica boa parte da vida a fazer comunicação e jornalismo de maneira militante, por convicção ideológica, por princípios humanistas, pela sua ética social, pela Soberania Comunicacional da Comunidade e dos Povos.
Santa Catarina vem se servindo de um grupo desses jornalistas vinculados também com diversos grupos de comunicadores sociais formados por intelectuais, trabalhadores, estudantes, agricultores, líderes de setores minoritários da sociedade, ecologistas, e mais. Jamais, em momento algum, nenhuma das profissões dos que exercemos o direito humano da comunicação tem sido empecilho ou vantagem para nosso relacionamento entre nós ou com aqueles que, construindo o dia-a-dia na sua casa, na sua comunidade, na sua família social ou de trabalho, tem coisas a dizer e as publicam.
O extraordinário motivador da nossa vontade comunicacional, para a qual técnicas diversas e conhecimentos variados só vêem a qualificar o que se diz ou se escreve, está formado pelos ingredientes tradicionais da luta contemporânea: a injustiça, a repressão, o desemprego, a miséria, a precariedade, a acumulação da riqueza nas mãos parasitas de poucos, a privatização do Estado e o desleixo do próprio Estado burguês, discriminador e pré-conceituoso.
É necessário que uma trabalhadora possa denunciar que não tem creche para seu filho. Que um agricultor denuncie se é escravizado na sua atividade. Que um advogado denuncie uma injustiça por discriminação de qualquer natureza. Que um jornalista coloque sua técnica à disposição da luta da sua família social. É necessário que todas as vozes e as palavras se reúnam em afã libertador. Para isso a militância comunicacional precisa ser ampla, tolerante, aberta, popular, constante, e deve marchar desde o computador até a rua, o lugar onde dirimimos nosso tamanho perante a exploração.
Esta tarefa de comunicar como alternativa ao poder central dos monopólios privados e do Estado injusto, precisa crescer. Ela é fascinante, é um convite ecumênico onde os ateus ficamos à vontade e dele fazemos parte. É um romance delicado, a pé de ouvido com a nossa grande namorada, a população da qual formamos parte indivisível. É a saborosa cadeia que unindo vocábulos e palavras, frases e mãos se levanta inquieta e sensual para lutar por nossos direitos, os direitos dos pobres e dos livres. Ser cúmplice, ou procurá-los em uma ação amorosa e central que todos, em Rede Popular e Libertaria, devemos formar para conquistar a Soberania Comunicacional. Vamos juntos, jornalistas devidamente diplomados e comunicadores sociais, até que a noite amanheça.