Uma jornada internacional de protestos marcou os três anos do assassinato da militante socioambiental hondurenha Berta Cáceres, no último sábado (02). Na data, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) – organização da qual Berta é uma das cofundadoras e foi coordenadora até sua morte –, além de seus familiares e movimentos populares realizaram uma série de atividades para denunciar que seu assassinato segue impune.
O principal ato aconteceu em La Esperanza, em Honduras, onde Berta nasceu e cresceu. A comunidade, que a ativista defendeu durante toda a sua vida, recebeu cerca de 400 pessoas, entre líderes indígenas, membros da comunidade local e representantes de organizações internacionais de direitos humanos.
Em outros países, como Peru, Colômbia, Canadá, Argentina, Chile e El Salvador, foram realizadas vigílias em frente às embaixadas de Honduras e debates para relembrar o legado da líder social e pressionar por justiça.
Presente na manifestação em Honduras, uma das filhas de Berta Cáceres, Berta Zuñiga, denunciou a negligência do governo do país em responsabilizar os autores intelectuais do crime, em uma entrevista à agência EFE.
“Há informação suficiente, contundente, da autoria intelectual, e realmente o Estado de Honduras não tem vontade política de chegar aos máximos responsáveis, porque são pessoas do poder econômico”, afirmou.
No dia 2 de março de 2016, Berta Cáceres foi assassinada na sua comunidade em meio a uma grande luta contra um projeto hidrelétrico no território chamado “Água Zarca”, empreendimento da empresa Desarrollos Energéticos SA (DESA) em parceria com o governo de Honduras.
Pelo crime, foram presas oito pessoas, incluindo militares reformados e empregados da empresa responsável pelo projeto. No entanto, os familiares de Berta e o COPINH afirmam que os mandantes do crime ainda não foram responsabilizados. Eles exigem, inclusive, que o alto escalão da empresa seja incriminado devido “a todas as violações aos direitos das comunidades lencas [a maior etnia indígena de Honduras] e pela morte da companheira Berta Cáceres”, como expressam em um comunicado do conselho.
Em novembro de 2017, o Grupo Assessor Internacional de Especialistas publicou o relatório Barragem de Violência – O plano que assassinou Berta Cáceres, no qual se concluiu que funcionários do governo hondurenho e empresários da DESA estavam envolvidos no crime. O grupo é formado por especialistas em direito internacional, direitos humanos, direito penal internacional e direito penal comparado, e realizou uma análise independente sobre o caso da militante.
Um ano depois, em outubro de 2018, o julgamento dos envolvidos no assassinato de Berta Cáceres foi suspenso pela segunda vez por uma decisão da Justiça, que acatou uma ação apresentada pela família e pela defesa da militante, que denunciam que as juízas responsáveis pelo caso se negam a apresentar todas as provas obtidas contra os imputados, protegendo, assim, os mandantes do crime.
Em novembro do mesmo ano, a Justiça hondurenha condenou sete dos oito envolvidos no assassinato da militante. Um deles foi absolvido por falta de provas. Entre os condenados estão Sérgio Ramón Rodríguez Orellana, gerente de assuntos comunitários e ambientais da empresa DESA no período que corresponde ao assassinato da militante, e Douglas Bustillo, chefe de segurança da companhia entre 2013 e 2015.
“Berta se multiplicou”
A líder social, morta aos 43 anos, segue como uma referência internacional para diversos movimentos, devido à sua atuação como feminista anticapitalista e ambientalista. Berta Cáceres sempre defendeu os direitos de seu povo, os lencas, e é uma das principais vozes que denunciam e combatem a destruição causada pelos megaprojetos extrativistas, como a hidrelétrica da Desa.
Desde o assassinato de Berta, sua filha Berta Zuñiga assumiu a liderança do COPINH e, junto com seus familiares e integrantes da organização, mantêm vivo o legado de sua mãe.
No Brasil, Berta Cáceres é uma referência para os movimentos populares, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM). A hondurenha será uma das homenageadas na Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que acontecerá entre os dias 8 e 14 de março deste ano.
*Com informações da teleSUR.
Edição: Luiza Mançano.
Foto de capa: Reprodução do Facebook.