Um grupo de artistas, jornalistas e ativistas iniciou uma campanha na internet em apoio ao soldado norte-americano Bradley Manning, que está sendo julgado por repassar centenas de milhares de documentos diplomáticos dos Estados Unidos ao site Wikileaks. A campanha “Eu sou Bradley Manning” é realizada pelo mesmo grupo que afirma já ter reunido mais de 61 mil assinaturas para candidatar o nome do militar ao Prêmio Nobel da Paz.
Manning começou a ser julgado nesta segunda-feira (03/06) por um tribunal militar no Forte George Meade, estado de Maryland, e pode ser condenado à prisão perpétua.
No vídeo, os participantes perguntam ao espectador o que eles fariam no lugar de Manning e se teriam coragem de revelar ações ilegais, crimes de guerra ou “atos terríveis” de seu próprio país. E, por essa razão, eles afirmam que “qualquer um de nós poderia ser Bradley Manning”.
Entre os rostos mais famosos da campanha, participam do vídeo o diretor de cinema Oliver Stone (Wall Street, Platoon, Ao Sul da Fronteira), a atriz Maggie Gyllenhaal (Adaptação, Donnie Darko), os atores Peter Sarsgaard (Educação), Russel Brand (The Russell Brand Show) e Wallace Shawn (Meu Jantar com André, Manhattan e All That Jazz – O Show Deve Continuar), o músico Moby e o baixista Tom Morello (Rage Against the Machine), além dos líderes do movimento Occupy Wall Street. Também se faz notada a presença do militar progressista norte-americano Dan Choi, ativista pelos direitos da comunidade LGBT.
“É muito difícil para um soldado de baixa patente se voltar contra seus oficiais depois de presenciar um crime de guerra”, lembra Stone.
Também participa o ex-analista militar norte-americano Daniel Elsberg, que causou uma crise no Pentágono em 1971 quando forneceu ao jornal The New York Times uma série de documentos que ficaram conhecidos como “os Papéis do Pentágono”. Tratam-se de documentos secretos do Departamento de Defesa que revelaram detalhes sobre atividades das Forças Armadas norte-americanas durante a Guerra do Vietnã. No vídeo, enquanto todos dizem o nome da campanha, ele é o único com autoridade para dizer “Eu fui Bradley Manning em 1971, quando revelei os Papeis do Pentágono que ajudaram a acabar com a Guerra do Vietnã”. Elsberg é um dos ativistas mais engajados em campanhas para a libertação do soldado.
No site da campanha, o texto de abertura afirma que “Não existe qualquer evidência de que alguém tenha morrido como resultado do vazamento de informações, mas Bradley pode ser condenado à prisão perpétua ou até à morte. A principal acusação contra ele é a de que ‘ajudou o inimigo’, uma ofensa capital. Como público que se beneficiou dessa informação, isso faz de nós inimigos? Que preço os futuros informantes irão pagar?”.
Desenrolar do julgamento
O julgamento de Manning começou na última segunda-feira (04/06) e deve durar três meses. Manning já se declarou culpado por dez das 22 acusações que enfrenta, todas de menor responsabilidade.
Na terça (05/06), Mark Johnson, um investigador forense digital do Exército, afirmou na corte que não encontrou provas no laptop de Manning de que o soldado nutra algum tipo de ódio por seu país ou tenha qualquer material relacionado com terrorismo.
A defesa do soldado defende a tese de que ele é um jovem “ingênuo, porém bem intencionado”, que pretendia apenas revelar ao público norte-americano o custo humano das guerras do Afeganistão e do Iraque.
Agência Efe (01/06)
Campanha em favor da libertação de Bradley Manning sai às ruas em Berlim, na Alemanha
Na quarta-feira, a acusação chamou a militar Jihrleah Showman, antiga supervisora de Manning na base iraquiana, onde ele trabalhou como analista de inteligência. Ela já havia participado de uma audiência preliminar em 2011, quando relatou ter recebido um soco de Manning, o que o teria levado ao seu rebaixamento. Ela também fez referência a uma série de comportamentos inadequados de Manning, classificando-o como “uma ameaça para si mesmo e para os outros”. A estratégia dos advogados do governo é provar que Manning estava plenamente consciente de suas ações e de que seus atos poderiam beneficiar inimigos.
A versão de Manning
Em uma das audiências prévias do julgamento, realizada em 28 de fevereiro, Manning admitiu ter tornado as informações públicas. Ele afirma que uma das razões que o motivaram a tomar a iniciativa de tornar as informações públicas foi o caso conhecido como “Assassinato Colateral”, durante a Guerra no Iraque, que culminou na morte de um jornalista da Reuters, seu motorista e outras pessoas no bairro de Nova Bagdá pelo exército norte-americano.
Eles foram mortos por um helicóptero apache que atacou indiscriminadamente civis. A Reuters tentou, sem sucesso, obter o vídeo através da Freedom Information Act, lei que determina a abertura de arquivos do governo, mas o material só veio a público através do Wikileaks.
Ele nega ter ajudado inimigos do país. “Acreditei que se o público, em particular o norte-americano, tivesse acesso à informação, isso poderia dar início a um debate sobre o papel dos militares e da nossa política externa em geral”, disse, na ocasião.
“Fiquei perturbado com o tratamento que deram às crianças feridas”, referindo-se a duas crianças que ficaram gravemente feridas no episódio. “Os que estavam no vídeo não pareciam se preocupar com o valor da vida humana, ao se referirem a elas (às vítimas) como bastardos”.
Fonte: Ópera Mundi.