Atingidos de Ponte do Gama, Paracatu de Cima, Pedras, Campinas e Barretos fizeram na última semana uma reunião com a Fundação Renova. O encontro durou cerca de quatro horas e aconteceu na comunidade de Paracatu de Cima, durante chuva forte, com cerca de 50 pessoas, entre elas, atingidos organizados no MAB, Caritas, prefeitura municipal de Mariana e Fundação Renova.
Na reunião, a Fundação Renova se comprometeu a adquirir os terrenos indicados pelas famílias que tiveram suas casas destruídas ou interditadas pela defesa civil. Essa é uma conquista importante das famílias organizadas e é fruto da pressão popular. Foi entregue uma lista com 20 famílias que já decidiram que querem um novo terreno, mas mais famílias estão avaliando essa possibilidade e a lista ainda está aberta.
A Fundação Renova irá avaliar essa lista e procurar as famílias para que haja indicação de terreno a ser comprado, independente da família ter sido cadastrada definitivamente. A família pode indicar um terreno na zona rural ou na zona urbana e o terreno pode já ter uma moradia ou não.
Porém a Fundação não apresentou um prazo para compra desses terrenos e não reconheceu como atingidas as famílias que apesar da lama não ter passado em suas propriedades, agora vivem em área de risco. A Renova não trouxe também respostas satisfatórias sobre o sinal de celular nas comunidades e sobre o campo de futebol da comunidade de Pedras.
Na reunião os atingidos lembraram vários casos de moradias e obras malfeitas pela Samarco e pela Fundação Renova na região. Por isso as famílias não querem permitir que as suas casas sejam construídas por empresas que não possuem nenhum compromisso com a agilidade e a qualidade das obras. “A nossa proposta dos atingidos é se organizarem para que pessoas de sua confiança construam as moradias, em um processo de autogestão e protagonismo dos atingidos, como já foi realizado por outros atingidos por barragens no Brasil”, comenta Letícia Oliveira.
A caminho de casa, após a reunião com a Fundação Renova, Marta Arcanjo, atingida de Paracatu, comentou “eles precisam voltar por aqui comigo e ver como é a estrada que eu tenho que passar para sair de casa, ainda mais com chuva. Parece que eles não sabem disso, e não entendem o que a gente está passando, para enrolar tanto. Estou até com dor de cabeça de tanta raiva”, disse.
Luta pelo reassentamento
Desde abril desse ano essas comunidades se reúnem para pressionar a Samarco a aceitar os critérios das famílias que desejam um reassentamento familiar. A Samarco tem se negado a adquirir novos terrenos para essas famílias e tem colocado para elas como única opção a construção da moradia no mesmo terreno atingido pela lama.
Insatisfeitas com essa opção e cientes dos seus direitos as famílias da zona rural tem se organizado e nessa reunião, que foi a terceira realizada com a presença da Fundação Renova, apresentaram à empresa uma proposta de critérios, prazos, metodologias e responsabilidades em relação a acesso a um novo terreno e a autogestão na construção das moradias. Além de um novo terreno para reestabelecer a moradia e a produção agropecuária, as famílias desejam também poderem gerir o processo de construção das suas moradias.
Essa é uma luta que continuará sendo travada pelos atingidos que estão atentos às ações da empresa e já se preparam para a próxima reunião marcada para dia 21 de dezembro de 2017.
Fonte: MAB.