Por ABRAJI.
Os ataques contra jornalistas cresceram 23% em 2022, chegando a 557 episódios. Em 41,6% dos casos, há ao menos um integrante da família Bolsonaro envolvido. Estes são alguns dados revelados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em seu relatório anual sobre dois monitoramentos sistemáticos realizados pela organização: o da violência geral e o da violência de gênero contra jornalistas. A publicação reúne análises e recomendações focadas na liberdade e na segurança da imprensa brasileira em 2022. Os dados expõem um cenário preocupante, marcado pela escalada de ataques sobretudo os feitos com mais violência.
O relatório “Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil” foi lançado nesta quarta-feira (29.mar.2023) em um evento em São Paulo, no Campus Monte Alegre da PUC-SP, promovido pela Abraji em parceria com o curso de Jornalismo da universidade e com o apoio da Embaixada Britânica. O documento está disponível em três idiomas:
Ao todo, foram registrados 557 ataques a jornalistas, fotojornalistas, produtores de conteúdo, diretores ou editores de empresas midiáticas, trabalhadores da imprensa, meios de comunicação e a mídia de modo geral. Em 145 casos, as agressões apresentaram traços explícitos de violência de gênero e/ou vitimaram mulheres jornalistas. Os discursos estigmatizantes, forma de violência verbal que busca minar a credibilidade de profissionais e veículos midiáticos, são a forma de ataque mais comum – alcançando 61,2% dos alertas em 2022.
Um dos destaques negativos da nova edição do relatório é o aumento dos episódios de agressões físicas, intimidação, ameaças e/ou destruição de equipamentos que atingiram 31,2% do total de ataques registrados no último ano – um crescimento de 102,3% em relação a 2021.
Em 56,7% dos casos gerais, os agressores foram agentes estatais, como políticos e/ou funcionários públicos. Essa não é a única informação que atesta a centralidade da política para o contexto de violência contra a imprensa: 31,6% dos ataques de 2022 estiveram ligados à cobertura eleitoral e 41,6% de todas as agressões monitoradas tiveram envolvimento de ao menos um membro da família Bolsonaro.
Reproduzindo outro padrão de 2021, quase dois terços (63,4%) dos alertas de 2022 tiveram origem ou repercussão na internet. Esse dado, associado ao grande número de discursos estigmatizantes e à intensa participação de agentes políticos na dinâmica de agressões, aponta para a existência de campanhas sistemáticas de ataques a jornalistas nas redes sociais, iniciadas ou incentivadas por atores com grande alcance e influência no ambiente on-line. Em suma, o combo política e mídias digitais tem criado um ambiente de insegurança para os profissionais de imprensa no Brasil.
A Abraji acompanha o quadro de ataques a jornalistas desde 2013 e monitora o cenário de forma sistemática desde 2019, quando passou a fazer parte da rede Voces del Sur (VdS). Seguindo uma metodologia compartilhada, a rede reúne organizações da sociedade civil que acompanham a situação da liberdade de imprensa em 16 países da América Latina e do Caribe. Os resultados desses esforços são publicados em Relatórios Sombra lançados anualmente.
Com uma metodologia própria, o monitoramento da violência de gênero contra jornalistas é realizado pela Abraji desde 2021. Os dados parciais de 2023 e o primeiro relatório da pesquisa, apoiado pela UNESCO, estão disponíveis no site do projeto.