Ao menos 49 pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas em ataques a tiros em duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, nesta sexta-feira (15/03). O pior atentado a tiros da história do país foi classificado pelas autoridades locais de terrorista. A polícia deteve três homens e uma mulher.
“Isto só pode ser descrito como um ataque terrorista”, disse a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, em transmissão televisiva direto de Wellington, a capital do país.
Ardern disse que os quatro detidos estão sendo interrogados pela polícia. Ela salientou que os suspeitos têm visões extremistas, mas não tinham ficha criminal e estavam “fora do radar” dos serviços de inteligência. O mais alto nível de alerta foi ativado em todo o país.
Um atirador transmitiu ao vivo pelo Facebook o ataque contra uma das mesquitas em Christchurch – depois de publicar um “manifesto” em que classificou imigrantes de “invasores”.
Os ataques foram executados contra as mesquitas Al Noor, no centro de Christchurch, e contra uma segunda localizada no subúrbio de Linwood. As mesquitas estavam repletas de fiéis para a tradicional oração de sexta-feira, a chamada Jumu’ah.
Ardern falou em ao menos 20 pessoas feridas, mas autoridades de saúde da Nova Zelândia comunicaram que cerca de 48 pessoas, incluindo crianças, estavam sendo tratadas no hospital de Christchurch depois dos dois tiroteios. Alguns estavam em estado crítico.
“Nós, a Nova Zelândia, não fomos alvo porque somos um porto seguro para aqueles que odeiam. Fomos escolhidos para este ato de violência porque condenamos o racismo. Fomos escolhidos pelo simples fato de não sermos nada disso. Porque representamos diversidade, gentileza, compaixão, um lar para aqueles que compartilham nossos valores, refúgio para aqueles que precisam”, afirmou Ardern.
“Vocês podem ter nos escolhido, mas nós absolutamente rejeitamos e condenamos vocês”, disse a primeira-ministra se dirigindo aos agressores. “Não vou deixar isso [o ataque] mudar o perfil da Nova Zelândia, nenhum de nós deveria.”
As imagens aparentemente gravadas por um atirador, amplamente divulgadas nas redes sociais, o mostram se dirigindo para uma mesquita, entrando e atirando aleatoriamente contra pessoas. Ele passou mais de dois minutos dentro da mesquita. Em seguida, saiu para a rua, onde atirou contra pedestres. Gritos de crianças podem ser ouvidos à distância enquanto o atirador volta ao carro para pegar outro fuzil.
Ele retorna à mesquita, e as imagens mostram muitos corpos deitados no chão. O atirador sai da mesquita, atira em uma mulher e retorna para seu carro – em seguida, a transmissão é cortada.
Um homem, que disse que estava na mesquita Al Noor no momento do ataque, relatou à imprensa que o atirador era branco, loiro e usava um capacete e um colete à prova de balas. O homem entrou na mesquita enquanto fiéis se ajoelhavam para orar.
“Ele tinha uma arma grande. Ele veio e começou a atirar em todos na mesquita, em todos os lugares”, disse o homem, identificado como Ahmad al-Mahmoud. Ele contou que conseguiu escapar com outros após romper uma porta de vidro.
No momento do ataque, a seleção nacional de críquete de Bangladesh estava chegando a uma das mesquitas para orações. O treinador da equipe confirmou a agências de notícias que todos os membros da delegação estavam em segurança.
O comissário da polícia Mike Bush comunicou que as forças de segurança não estavam mais em busca de outros suspeitos além dos quatro detidos e que um homem foi acusado formalmente pelos assassinatos e será levado a um tribunal no sábado.
O acusado foi identificado como um australiano extremista. No manifesto divulgado antes do ataque, o autor se identifica como um australiano branco de 28 anos e racista.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, afirmou que o australiano detido após o ataque é um “extremista, um violento terrorista de direita”.
Bush não mencionou os outros três suspeitos, nem especificou se os dois ataques foram executados pelo mesmo atirador. O comissário acrescentou que a polícia encontrou e desativou artefatos explosivos improvisados encontrados em ao menos um veículo.
Ainda não foram divulgados detalhes sobre o ocorrido na mesquita de Linwood. As autoridades recomendaram que todas as mesquitas na cidade permaneçam fechadas até nova ordem.
O manifesto
Uma postagem anônima no fórum de discussão 8chan – conhecido por sua ampla gama de conteúdo, incluindo discurso de ódio – anunciou um “ataque contra os invasores”, incluindo links para uma transmissão ao vivo no Facebook, nos quais apareceram as imagens ao vivo do massacre, e para um manifesto.
O documento de 74 páginas cita como motivação o “genocídio branco”, um termo tipicamente usado por grupos racistas para se referir à imigração e ao crescimento de populações minoritárias.
O manifesto afirma que um ataque na Nova Zelândia mostraria que “nenhum lugar no mundo é seguro, que os invasores estão em todos os nossos países, até mesmo nas áreas mais remotas do mundo, e que que não há mais nenhum lugar seguro e livre da imigração em massa”.
O link no Facebook leva a uma página de um usuário chamado brenton.tarrant.9. Em uma conta no Twitter com o endereço @brentontarrant foram postadas na quarta-feira imagens de um fuzil e outros equipamentos militares decorados com nomes e mensagens ligadas ao nacionalismo branco. Pelas imagens é possível concluir que se trata das mesmas armas vistas na transmissão ao vivo do ataque às mesquitas.
Ataques a tiros de grandes proporções são raros na Nova Zelândia, que reforçou suas leis armamentistas para restringir o acesso a fuzis semiautomáticos em 1992 – dois anos depois de um homem com problemas mentais matar 13 pessoas na cidade de Aramoana depois de uma discussão com um vizinho.
No entanto, qualquer pessoa com mais de 16 anos de idade pode solicitar uma licença padrão de armas de fogo depois de completar um curso de segurança, o que lhes permite comprar e usar uma arma sem supervisão.
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