Por Gilvander Moreira.
Fonte: AGECON – Integrante da Rede Popular Catarinense de Comunicação.
Dia 03 de julho de 2010, visitamos a comunidade do Assentamento Resistência, em Funilândia, perto de Sete Lagoas, MG. Lá celebramos com o povo. São vinte famílias do MST que conquistaram 333,3 hectares de terra, que era da Santa Casa de Belo Horizonte. Na sede da fazenda permanecem os casarões onde existiu um convento de freiras, uma pequena capela que hoje é utilizada pelo pessoal da comunidade.
Os casarões abandonados, hoje, abrigam as vinte famílias que ocuparam os espaços há dez anos atrás. Eis um verdadeiro sinal de partilha, próprio dos pobres.A área era mais um latifúndio que estava abandonado, sem cumprir sua função social. O MST indicou e alertou ao INCRA para que avaliasse a terra e fizesse valer o princípio da função social da propriedade. As vinte famílias que ocuparam a área estavam sendo despejadas de uma outra ocupação no município de Esmeralda, MG.
Após dez anos de luta, as famílias tiveram suas terras demarcadas e legalizadas, 12 hectares para cada família e já estão terminando de construir suas casas de 42 metros quadrados: 2 quartos, cozinha, sala e banheiro. Bonito perceber a alegria de um sonho realizado, mas por outro lado, triste constatar que em nosso país, um direito fundamental como é o da moradia tem que passar por um processo de muita luta e sofrimento para ser alcançado quando se trata dos pobres. Encontramos, por exemplo, com o Sr. Miguel, uma das lideranças do assentamento, que feliz nos apresentou sua casa. Em breve, haverá festa e celebração para inauguração das 20 casas.
A Comunidade Resistência, através do projeto MOVA Brasil, tem Educação para Jovens e Adultos – EJA que ajuda na alfabetização e formação do povo. As crianças e adolescentes estudam na escola do distrito Núcleo João Pinheiro. Bonito perceber o espírito e a fé das pessoas que encontram na luta e na organização popular alternativas para superarem as dificuldades pessoais e comunitárias.
Dona Manuelina, feliz da vida, conta sua história dizendo que veio para a comunidade, sozinha, sem a família de sangue. Ao se instalar no Assentamento Resistência, comprou dois leitões que já se transformaram em cinco vaquinhas. Hoje, vive com um filho que veio com a família morar com ela.
A comunidade-assentamento Resistência sinaliza que vale a pena lutar e que a luta não pode acabar simplesmente por haver conquistado um lugar. Enquanto no mundo existir um sinal de injustiça social lutar é preciso. Lutar de forma organizada, com fé no Deus da vida, no pequeno e em si mesmo, sem perder a esperança. Resistência sinaliza que vale a pena resistir.
Grandes lideranças foram formadas pela luta nestes 10 anos de vida do assentamento-comunidade Resistência. As famílias, além da terra para morar, conquistaram o direito de lutar, de resistir, de se construírem com a dignidade que lhes são de direito.
Contam que quando chegaram ao local, há dez anos atrás, receberam uma forte repressão militar e de muitas maneiras tentaram expulsá-las. Hoje, capinam suas roças, cavam as minas que há quatro metros brotam águas cristalinas, constroem suas casas, vê suas crianças brincarem nos terreiros e seus animais pastarem.
Belo Horizonte, 13/07/2010.