Assembleia da Juventude Tupinambá discute povos Indígenas, territórios e biomas

Foi realizado no período de 25 a 27 de agosto de 2017, na Aldeia Acuípe de Baixo, Território Indígena Tupinambá de Olivença, na divisa dos municípios de Una e Ilhéus, o VI Encontro da Juventude Indígena Tupinambá de Olivença, contando com aproximadamente 90 pessoas, sendo 60 jovens indígenas. O tema do encontro foi: “Povos Indígenas, Territórios e Biomas: Berço da Vida, Lutas e Esperança”.  A partir de mesas expositoras, trabalhos em grupo, troca de experiências e muito ritual, o encontro proporcionou uma grande riqueza para a juventude Tupinambá.

A atividade teve o apoio do Conselho Indigenista Missionário, equipe sul da Bahia e de Misereor, e faz parte do programa de formação do Cimi junto a juventude indígena. Teve como objetivo: “Retomar e Fortalecer o Processo de Articulação e Reorganização Interna da Juventude Indígena Tupinambá de Olivença”.

A abertura com um grande ritual juntando a animação e vitalidade da juventude e a experiência dos anciãos trouxe até eles recados e a presença dos encantados, já no início do evento demonstrando a sua importância. E foi assim durante toda a atividade. Sempre mesclando momentos de trabalho e celebrando a espiritualidade.  

A mesa de abertura contou com a presença dos organizadores do evento, das entidades de apoio, do cacique anfitrião Valdenilson, dos representantes do Colégio e da Universidade Estadual de Santa Cruz, mas o destaque foi à presença dos anciãos, o que, aliás, foi bastante valorizado e referendado pelos jovens. Na segunda mesa, os missionários do Cimi Haroldo Heleno e Jenário Alves fizeram uma rica análise de conjuntura fazendo um paralelo com a luta e a situação territorial da comunidade Tupinambá. Houve bastante interação e várias perguntas surgiram a partir da exposição.

Na parte da tarde foram organizados grupos de trabalhos, sendo conduzido de forma brilhante pelos próprios jovens Tupinambá, os GT foram: “Organização e Território”; “Direitos e Cultura”; e “Sustentabilidade e Autonomia”. Os grupos trabalharam durante todo o dia e muitas reflexões importante e encaminhamentos foram definidos a partir destas reflexões. Em especial se destaca a necessidade da juventude retomar de forma organizada e articulada a participação no processo de luta pela reconquista e garantia de seu território, um maior envolvimento dos jovens junto às lideranças do povo nas viagens, nas reuniões.

Na questão dos direitos se viu a necessidade de buscar maior conhecimento, de promover momento de estudo e reflexão sobre os direitos dos povos indígenas, buscar ler mais, garantir nos encontros o tema de direitos, na questão da cultura é preciso valorizar mais os anciãos, as nossas tradições, temos que retomar os nossos rituais, ficou certo retomar a prática de rituais nas comunidades, valorizar as nossas pinturas o nosso artesanato. A questão da sustentabilidade e autonomia, mas uma vez reforçamos que precisamos retomar as feituras das roças da juventude como a comunidade da Serra do Padeiro já vem fazendo, surgiu a proposta de roças conjuntas entre os jovens de diferentes comunidades, de fazer artesanato para garantir nossos encontros.

À noite, em volta da fogueira, um momento emocionante e rico de troca de experiências e onde a juventude pode ouvir os anciãos, suas histórias, suas lutas. Puderam beber de toda riqueza que estes depositários de sua história colocavam naquele momento mágico a disposição da sedenta juventude Tupinambá. Momentos que precisam ser mais valorizados e acontecer com mais constância, afirmou um dos jovens organizadores do evento.  

Temos papel fundamental na defesa do nosso bioma Mata Atlântica, a partir dos relatos dos nossos anciãos percebemos que devemos cuidar com muito zelo e firmeza de nosso território, pois ele é sinônimo de vida, sem ele, não temos como sobreviver, nossos encantados vivem nestas matas, e não podemos permitir que os brancos a destruam com as suas explorações de areias, madeiras e as suas grandes construções de hotéis. Junto com os anciãos e a nossas lideranças vamos defender as nossas terras sempre”. Afirmou a jovem liderança Bruno Tupinambá.

No domingo, durante o encerramento, foi apresentada a carta final do evento, onde os jovens repudiam os ataques que vem sofrendo as comunidades indígenas em todo Brasil e se solidarizam com outras lutas. Dando um destaque a situação dos Guarani do Jaraguá.

Leia a carta na íntegra:

CARTA DE REPÚDIO E INDIGNAÇÃO DA JUVENTUDE TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA                         

Acuípe, 27 de agosto de 2017

Nós, Juventude indígena Tupinambá de Olivença, reunidos na Aldeia de Acuípe de Baixo, entre os dias 25 a 27 de setembro de 2017, no seminário dos jovens indígenas. Somos aproximadamente 70 jovens vindos de diversas comunidade do nosso Território. Após várias reflexões sobre a conjuntura atual do País e percebemos os enormes ataques que sofremos promovido pelo grande capital e pela bancada ruralista. Os nossos territórios e os nossos bens naturais são os motivos de tantos ataques e preconceitos. O governo brasileiro que tem o dever de defender e garantir o território pois o patrimônio pertence à União e de garantir os nossos direitos que estão na Constituição Federal, pelo contrário tem sido um dos nosso piores inimigo.

É neste sentido que nós jovens Tupinambá de Olivença vimos por meio desta repudiar o Parecer n. 001/2017/GAB/CGU/AGU, publicado no Diário Oficial da União que obriga a Administração Pública Federal a aplicar as 19 condicionantes que o STF estabeleceu na decisão da PET n. 3.388/RR quando reconheceu a constitucionalidade da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol a todas as terras indígenas. Solicitamos a imediata anulação deste parecer por que ele pode causar ainda mais estrago junto a nossa comunidade. Repudiamos também as falas do Ministro do STF, Gilmar Mendes no dia 16 de agosto quando do julgamento do Marco Temporal, no STF, palavras preconceituosas e de puro desconhecimento sobre o nosso povo.

Aqui existem índios sim, senhor Ministro. Fomos reconhecidos em 2002, pelo governo federal, mas não precisamos deste reconhecimento, pois sabemos quem somos e aqui sempre estivemos. Sabemos também que a convenção 169 da OIT, nos garante o direito do auto reconhecimento. Não vai ser o senhor que vai nos ensinar o que é ser índio ou não. Aproveitamos para exigir que o governo brasileiro e os órgãos responsáveis cumpram com as suas obrigações e demarque o nosso território o mais urgente possível, não existe nenhum impedimento administrativo e sim político que o impedem de fazer isto. Esta demora tem causado muita violência contra o nosso povo e as nossas lideranças.

Expressamos nossa solidariedade a todos os povos do Brasil que passam pelo mesmo processo de desrespeito e violência. Neste momento mostramos toda nossa indignação contra o Ministro da Justiça Torquato Jardim que revogou a demarcação da Reserva Indígena dos parentes Guarani do Jaraguá no estado de São Paulo.

Por fim convocamos toda juventude indígena do Brasil, para que nos juntemos em defesa de nossos territórios e de nossos direitos. Não podemos mais permitir que depois de 517 anos eles continuem nos roubando e agredindo. Vamos fazer uma grande marcha da juventude indígena denunciando e pedindo providências contra esta situação.

Juventude Indígena Tupinambá de Olivença, presente na luta, sempre!

Fonte: CIMI.

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