Por Riquieli Capitani.
Na área em que ocorreram os fatos atualmente funciona o Centro de Pesquisas em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira, o “Keno”
Nessa sexta-feira, 21 de outubro, completaram-se 9 anos desde que Valmir Mota de Oliveira, o Keno, foi assassinado, no Acampamento da Via Campesina, Terra Livre, em Santa Tereza do Oeste (PR), por uma milícia armada contratada pela transnacional Syngenta Seeds em conjunto com a sociedade Rural da Região Oeste (SRO), e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR), ligado ao agronegócio.
No local, que foi ocupado pela primeira vez em 14 de março de 2006, por famílias da Via Campesina e do MST, durante a Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8/MOP3) em Curitiba, a Syngenta mantinha um campo experimental de 127 hectares, a 6 km do Parque Nacional do Iguaçu, o que desrespeitava a legislação ambiental e o Plano de Manejo do Parque. Com extensa ficha de crimes ambientais, a transnacional realiza experimentos com soja e milho geneticamente modificados. Em março de 2006, o IBAMA multa a empresa no valor de 1 milhão de reais.
Em novembro de 2006, as famílias foram retiradas do acampamento depois que a Justiça Estadual de Cascavel emitiu uma liminar de reintegração de posse. Após isso, o Governo do Estado desapropriou a área para a criação de um Centro de Agroecologia e mais uma vez os camponeses voltaram ocuparam o local. No dia 18 de julho de 2007, cumprindo ordem judicial, as famílias se deslocaram para o assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Com ameaças de que a Syngenta retomaria os experimentos ilegais e o fato da empresa não ter pago a multa aplicada pelo IBAMA, no dia 21 de outubro de 2007, aproximadamente 200 camponeses da Via Campesina reocuparam o local. Naquele mesmo dia, uma milícia fortemente armada, contratada pela transnacional, invadiu a área disparando tiros na direção dos Sem Terra, o que resultou na morte de Keno, além de mais quatro trabalhadores feridos.
Em um documentário realizado pela Via Campesina, trabalhadores relatam a violência que sofreram naquele momento. “Eles vieram para matar mesmo quem eles podiam. Falavam, mata, mata, mata e você sem poder fazer nada, saímos correndo e foi o momento que eles atingiram o Keno que veio a falecer”. E acrescentam. “No momento do ataque, Keno disse para ninguém de nós se acovardar, nós poderíamos até morrer, mas sabíamos pelo que estávamos lutando”.
Na área em que ocorreram os fatos atualmente funciona o Centro de Pesquisas em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira, o “Keno”.
Lembranças
“Dois companheiros que eu admiro muito é o Keno e o Egídio, pois na militância sempre tiveram grande preocupação com os militantes. O Keno construía um espaço para as pessoas militar. Sua tarefa como militante sempre foi em 1° lugar” (Ireno Prochnow, militante, conheceu Keno desde a adolescência).
“O Keno tinha uma atenção com a juventude, na região de Cascavel foi onde a juventude mais se inseriu. Ele acreditava na força da juventude, sempre tinha tempo para ouvir as pessoas” (Sandra Scheeren, militante, conhecia o Keno desde 2003 na ocupação da Fazenda Cajati).
*Com informações da Terra de Direitos
**Editado por Iris Pacheco
Fonte: MST.