Assaltos de Criciúma e Cametá evidenciam desmonte do rastreamento de armas no Brasil

Advogada Isabel Figueiredo afirma que o afrouxamento no sistema de controle de armamentos permitiu o aumento da sua circulação entre as facções criminosas

Nesta semana, criminosos fortemente armados sitiaram as duas cidades e assaltaram agências bancárias. Em Criciúma, a ação criminosa foi feita com armas de alto calibre, incluindo uma bazuca. Foto Reprodução Rede Brasil Atual

Os assaltos realizados em Criciúma (SC) e Cametá (PA), na última segunda (30) e terça-feira (1º) respectivamente, são fruto da falta de trabalho de inteligência das polícias brasileiras e do afrouxamento no sistema de controle de armas, promovido pelo presidente Jair Bolsonaro, em abril. A avaliação é da advogada Isabel Figueiredo, integrante do Conselho de Administração e consultora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Nesta semana, criminosos fortemente armados sitiaram as duas cidades e assaltaram agências bancárias. Em Criciúma, a ação criminosa foi feita com armas de alto calibre, incluindo uma bazuca. Em ambos assaltos, os bandidos também usaram explosivos e fizeram reféns.

Isabel lembra que esse tipo de crime ocorria em cidades pequenas do Nordeste, no começo dos anos 2000, mas houve uma profissionalização e os assaltos passaram para cidades maiores, com organização logística ainda mais aprimorada. A especialista afirma que o Estado precisa ter conhecimento dessas ações e antecipá-las.

“Esse tipo de ação logística é resultado de uma série de movimentações que as polícias não estão mapeando. Se não houvesse o desmonte do rastreamento de armas, a gente poderia entender esses movimentos. Tão grave como esses casos é a falta de preparo e ação de inteligência para a prevenção desses casos”, criticou, em entrevista à jornalista Maria Teresa Cruz, no Jornal Brasil Atual.

A advogada lembra que o combate aos assaltos de Criciúma e Cametá não de total responsabilidade da polícia local, que possui pouca estrutura. “É esperado que haja um sistema integrado entre as polícias, em nível nacional, que rastreie esse tipo de ação. Há quadrilhas que alugam armas, isso é sabido, então é preciso mapear esse modus operandi”, acrescentou.

Nas mãos do governo federal

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro revogou portarias do Comando Logístico (Colog), de março de 2020, que tornavam mais rígidos o rastreamento, identificação e marcação de armas e munições. Entre as portarias, estabelecia-se na nº 46 o “Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército (SisNaR) que tem por finalidade acompanhar e rastrear os Produtos Controlados pelo Exército (PCE) em todo o território nacional.”

Isabel Figueiredo afirma que o afrouxamento no sistema de controle de armas permitiu o aumento da sua circulação nas facções criminosas. Além disso, a narrativa pró-armamento da população também tornou a sociedade mais violenta e suscetível a esse tipo de crime.

“O país é violento e tem um dos maiores índices de crimes violentos do mundo. Não me parece difícil imaginar que, ao flexibilizar mais o acesso às armas, reduzir o controle e discursar para a população se armar, só tende a aumentar os crimes. Houve quem defendesse armar as pessoas de Criciúma, mas as pessoas perderam o raciocínio lógico”, criticou ela.

A especialista afirma o governo federal criou um conjunto de ingredientes que resultam em uma receita óbvia: o aumento de homicídios. “O fortalecimento desse discurso pró violência do governo federal é responsável por isso. Essas flexibilizações do governo impactaram nesse fortalecimento do crime organizado, porque o Estado não mais rastreia as armas de fogo que são apreendidas”, finalizou.

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