Por Raul Longo.
Tá um chorarê medonho! Umas se descabelam, outras tem ataque histérico em frente às câmaras de TV e tem até quem peça a extinção dos ambientalistas para salvar Santa Catarina.
Não é dizer que os ambientalistas não têm nada a ver com isso. Claro que têm e participaram ativamente nos manifestos contra a instalação do estaleiro da OSX. Mas não foram os únicos! De proprietários das mansões do Jurerê Internacional a pescadores de Celso Ramos e maricultores de Sambaqui e Santo Antonio de Lisboa, todo mundo participou. De eleitores do DEM e do PSDB aos do PT e PSOL, passando por todas as graduações à direita e à esquerda.
É verdade que teve mais DEM pra lá, mas pra cá teve de tudo! Até anarquistas e bêbados. Um desses, e também carioca, fez pouco caso da decisão de levarem o estaleiro para o Rio de Janeiro: “- Se não puserem essa tranqueira perto da praia do Botafogo, tudo bem!”
Perguntei se tem família no Botafogo, disse que não. Perguntei se torce pro Botafogo, respondeu rápido: “- – Sou Mengo!” Perguntei então porque se preocupa com a praia do Botafogo, e não com a do Aterro?”
Explicou que não se preocupa com nada e Botafogo, Flamengo ou Urca é tudo poluído: “- Ali ninguém põem nem o pé! Mas carioca não é otário de deixar estragar a paisagem e o Eike é que tem de se preocupar se for meter seu estaleiro pra’queles lados”.
Aproveitei a deixa e perguntei se no Rio deixariam construir estaleiro num lugar como o de Biguaçu e Celso Ramos, comprometendo praias como a da Daniela, Jurerê e Sambaqui. “- Aí é o Eike que não é otário!” respondeu naquele laconismo de quem prefere o gole à conversa, mas enquanto pedia outra quis saber o porquê e concluiu pelo lógico: “- Onde é que tu acha que o Eike passeia de barco, onde curte o tempo livre entre um bilhão e outro? Tu acha que vai construir estaleiro perto de onde mora, pra quê? Vai poluir a própria praia? Espalhar óleo na água que ele toma banho? Pode até não curtir pescaria, mas deve de gostar de comer peixe fresco e tem alguém pra pescar pra ele ali mesmo, sem precisar de buscar o congelado do mercado. Tu acha que vai querer ver cargueiro e torre de plataforma de petróleo passando na frente da janela?”
Fiquei de nariz enfiado no jornal, comparando a evidência da conclusão do amigo com o chorarê dos jornalistas locais. Até que informei: “- Aqui diz que ele vai por o estaleiro em Porto Açu.”
“- Até aí tudo bem! Tem lógica! Mas ali do outro lado desse canal tão estreito, só sendo muito Mané mesmo!”
Entendi que se referia aos que lamentam a manobra do ICMBio em atrasar com o resultado do laudo forçando a desistência do empresário, e me despedi. Mas ainda estava pagando a conta, no balcão, quando o amigo recomendou lá da mesa: “- Ó! Muda aí o título do teu texto. Esse chorarê todo aí nem é de viúva. Isso é coisa de mulher de malandro que quanto mais apanha mais gosta.”
Ri, paguei, sai. Mas, pela janela, ainda gritou pra que ouvisse lá da rua: “- E diz aí pras quenga do Eike não ficar triste que logo o malandrão volta. Ah volta! Ele ainda vem buscar o que não contou que quer”.
Fui, questionando comigo mesmo de onde o bêbado tirara a certeza da volta do Eike. Pensei, pensei e só muito depois é que me dei conta. Claro! A grana que investiu não foi pouca! Só nas 3 audiências públicas, Jurerê, Governador Ramos e Biguaçu, com uma dezena de guarda-costas carecas, mais as recepcionistas, brindes, lanches, frota de ônibus de alto luxo para trazer a clack, a dupla de fotógrafos da guarda pessoal do Sadam Hussein para intimidar todo mundo com teleobjetivas e flashes; profusão de telões, câmaras e projeções; toda uma produção de circo feliniano, foi um dinheirão.
Afora tudo isso e a propaganda toda, teve a imprensa. Durante uns três sábados comprou horário exclusivo de mais de uma emissora de TV, só para falar do mundo maravilhoso da EBX. E matérias de jornal, e artigos e opiniões de articulistas sistematicamente desqualificando o ICMBio, transformando biólogos em inimigos da humanidade e manifestantes contra o estaleiro em terroristas! Tudo isso tem preço alto, pois a imprensa não é mera prostituta! São todos profissionais de alta classe!
Ou melhor, classe nem tanto… Mas, se como se verifica no dia a dia no item finese deixam a desejar às suas colegas da Conselheiro Mafra, no michê nem com um ano de trabalho intensivo as GO GO Girl do Bocarra Show chegam perto do valor de cada minuto de locução e caracteres digitados pelos profissionais de mídia. Sem falar nos donos da casa. Ou: das casas! Pois nesses meses a imagem do Eike foi mais beatificada que a do João Paulo II quando esteve por aqui.
E entre putas e santos não se pode esquecer os políticos que, se perderam as demais parcelas, pelo tamanho do esforço se conclui que a entrada foi gorda. Claro que isso não vai discriminado na contabilidade empresarial, mas no computo geral, por baixo por baixo, só com o investimento preliminar dava bem pro Eike montar um bom comércio, um belo restaurante ou um confortável hotel que formalizasse emprego para umas 30 a 50 pessoas, gerando cerca de uns 100 empregos indiretos.
Talvez muito mais, mas na verdade o que estou dizendo é besteira. Claro que o homem mais rico do país não vai estar investindo seu capital em geração de emprego, pois pra manter grandes fortunas, como todo mundo sabe, o negócio é gerar lucros. Se não é pra lucrar muito, qual a lógica de tanto investimento? Por assistência social? Com assistência social não se chega a homem mais rico do mundo que é o maior sonho do Eike segundo o próprio Eike. E, como gaivotas em volta de barco de pesca, lá foram os políticos catarinenses.
Ou melhor, iam! Porque hoje esses coitados são os mais furibundos. Tanto que de 4 mil empregos preliminarmente prometidos já estão falando em 14 mil perdidos. Talvez por computarem em novos votos de futuras eleições, talvez para alcançar os 20 mil desempregos que, nas previsões mais otimistas, resultariam da instalação do estaleiro, iniciando na pesca e maricultura, passando pela gastronomia e chegando ao turismo e todo o comércio.
Um detalhe que chama a atenção nestas lágrimas pelo leite derramado de tantas hipotéticas e hiperbólicas novas vagas de emprego emigradas para o Rio de Janeiro, é a contradição das viúvas que antes minimizavam os riscos de inchaço populacional garantindo que das 4 mil vagas preliminarmente anunciadas uma parte seria ocupada pela população local. Mas onde iriam arranjar os tais atendimentos públicos necessários para mais 14 mil habitantes se a prefeitura de Biguaçu não dá conta do básico para os 50 mil da população atual? E quem é demógrafo sabe da progressão anual por crescimento vegetativo como fruto de um abrupto inchaço populacional como esse. Haja maternidade! (que não tem).
Mas, gente! Não sejamos desagradáveis! Em velório não é hora de ficar relembrando os defeitos do falecido. Não é preciso aquela hipocrisia de inventar qualidades que o defunto nunca teve, mas vejam aí! Olhem a situação das viúvas!
Pior é a daquelas que só se descobrem traídas, no enterro. É um vexame!
Na verdade ninguém pretendia exclusividade e toda mulher de malandro é escolada. Que tenha lá quantas quiser, mas tem que saber que o feijãozinho mais gostoso é o de casa. No entanto, há daquelas que capricharam no tempero e só agora se deram conta de que o documento de compromisso de bens era fajuto! Querem por a boca no mundo, chamar o padre e o tabelião, mas já é tarde! É tarde porque além dos cientistas, até os leigos já tinham percebido que o tal EIA-RIMA era pura inconsequência e mumunha. Como disse o carioca: “Caô pra enganar Mané!”
No entanto, Eike Batista estará mesmo morto para Santa Catarina? Terá mesmo investido tanto dinheiro para desistir assim fácil? Ou meu amigo carioca é quem tem razão e mais dia menos dia Eike Batista estará aí de volta para buscar o que realmente deseja e não contou nem ao Doutor Rui Arno Richter, quando o Promotor Público se demonstrou insatisfeito com a falta de explicações plausíveis para a insistência na localização de Biguaçu, ao lado de 3 Áreas de Preservação e Pesquisa Ambiental.
Nessa insistência é que se confirmou a certeza da volta do malandro que tanto confia meu amigo que pode ser bêbado, mas não é tonto. E ele está certo, afinal Eike (que é todo o Max do Chico Buarque na Ópera do Malandro) não precisaria gastar nem a metade do que já gastou para driblar as impossibilidades, sem contar que ainda mais gastaria para drenar esse canal. Pra quê esse tudo e tanto se teve opções muito mais proveitosas e praticamente já prontas aqui mesmo? Neste estado de curtas distâncias entre os portos de Itajaí e Imbituba, margeando a mesma BR 101 em trechos quase planos?
Como se dizia antigamente, nesse mato tem coelho! Só pode ter! Afinal Eike não compraria tanto mato, e não é de agora que adquiriu a área com o dobro das dimensões do projetado megaestaleiro (o maior do continente), apenas para caçar preá.
O carioca é que está certo, pois o próprio diretor da OSX, o Paulo Monteiro, já garantiu que eles voltam. Portanto, acalmem-se senhoras que o Eike volta! Já disse que volta! Querem mais o quê? Que dê uma de Madona interpretando Evita Perón e cante, lá de seu Jurerê do Rio de Janeiro para vocês ouvirem no daqui: “Don’t cry for me Santa Catarina!”?
Conformem-se! Tenham paciência que bom malandro não desiste tão fácil e só larga quando chegou no osso.
Mas quê osso? Isso é que me encafifa!
Segundo a análise do advogado Eduardo Lima, aí adiante, o nome do osso ou do coelho, é sinergia. Pelo menos lá no Rio de Janeiro, é. Como não entendo muito dessas coisas, fico mais com a impressão do carioca de que seja mais uma conversa de malandro! Mesmo assim, confiram aí as abalizadas conclusões do Eduardo:
Estaleiro OSX a culpa é da Sinergia
Sinergia ou sinergismo deriva do grego synergía, cooperação sýn, juntamente com érgon, trabalho. É definida como o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função.
Essa definição extrai sem muita pressa do wikipédia.Poderia ter buscado outras fontes, mas valeu essa.
Pois bem, tendo em mente o que a palavra representa, sinergia pode então ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Depende da visão de cada um sobre essa dicotomia.
Ontem fomos surpreendidos com uma decisão que se chama Fato Relevante, ou seja, quando uma empresa que opera em mercados mobiliários tem por obrigação legal informar ao mercado onde atua e, por via de consequência, aos seus acionistas uma determinada decisão que irá tomar.
E foi mais ou menos nesse sentido:
A UCN Açu oferece ainda as seguintes vantagens competitivas, dentre outras: Possibilidade de significativa expansão de cais, calado e capacidade produtiva; Maior espectro de serviços que poderão ser prestados pela UCN Açu, incluindo reparos; Sinergias logísticas com os demais empreendimentos em implantação no Açu, destacando-se o Terminal Portuário de Uso Privado do Açu, siderúrgicas, geração de energia termelétrica e pólo metal-mecânico; – Posição geográfica central entre as principais bacias petrolíferas do País: Campos, Espírito Santo e Santos; – Condições de solo que possibilitam maior velocidade na construção da UCN Açu; – Localização no Estado do Rio de Janeiro, principal pólo brasileiro da atuação integrada das indústrias naval e de petróleo e gás.
Ora, ai questiono: essa sinergia já não existia no Rio de Janeiro quando foi proposta a idéia de trazer o projeto de estaleiro para Santa Catarina? Ou a sinergia era inexistente? Foi de uma hora para outra que as vantagens competitivas surgiram?
De um momento descobriram que : A UCN Açu contará com um cais de 2400m (aproximadamente 70% maior do que o previsto para o projeto de Biguaçu), com capacidade de expansão para até 3525m.
Essa sinergia já não existia quando a consultoria deixou de apresentar um estudo que demonstrava a inviabilidade do empreendimento no local escolhido e que por essa omissão acabou multada?
Não existia essa sinergia quando fora constituida a Frente Parlamentar em Defesa do Estaleiro e, por extensão, em defesa da exoneração de servidores públicos?
E depois de dois pareceres negativos, onde estava essa sinergia?
Ao que tudo indica existiram duas sinergias, uma a favor do estaleiro e outra contra a localização do estaleiro entre três unidades de conservação e que poderia afetar muito mais do que aos golfinhos. Poderia afetar a pesca, a maricultura, o turismo, atividades que também tem alguma sinergia entre elas.
A palavra sinergia está sendo propositalmente repetida, pois parece que todo esforço empreendido possa ter sido de criar uma condição comercial já sabida impossivel e quiça, naquilo que os bastidores chamam de Guerra Fiscal, obter uma melhor relação para implantação do empreendimento. E assim, de beneficio em beneficio, a lucratividade é melhor, embora não necessariamente o retorno social.
Não fosse isso, porque então não esperar o resultado oficial do Grupo de Trabalho criado especialmente para dar uma posição derradeira a respeito do estaleiro. Talvez porque já se pudesse antever o resultado que antes da sinergia era conhecido, ou então porque toda sinergia não foi suficiente para alterar o resultado: inviabilidade locacional.
Nesse embate sinérgico, a principio, e somente em tese, parece que o lado cuja sinergia buscou a verdade, a não omissão, o diálogo mais franco, a participação efetiva, consegui demonstrar que quem manda mesmo é o MERCADO. É ele que define ou que faz aparecer sinergias tão relegadas.
Até porque não se constroe uma viabilidade com tanta rapidez e é por isso que o Rio de Janeiro vai receber o estaleiro: as condições de lá são melhores dos que as daqui, a começar pela localização. Porém não era preciso criar todo um enredo.
Eduardo Lima – ADVOGADO