Com o Washington Post em seu poder, Jeff Bezos, da Amazon, não comprou apenas um jornal. Comprou também um lugar em Washington. Comprou, ainda, a agenda mais impressionante que existe no planeta. E um meio no qual, seguramente, iniciará uma série de experiências tecnológicas, comerciais e jornalísticas.
Por Andrés Hax.*
Jeff Bezos, o rei do livro eletrônico, comprou o Washington Post por uma cifra que poderia ser considerada uma balela e foi a notícia da semana. Por que comprou e o que implica para o futuro incerto dos jornais em formato papel?
Ninguém sabe ainda como interpretar a compra do Washington Post por Jeff Bezos. O Post, fundado em 1877, é um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, junto ao ‘The Wall Street Journal’ e ‘The New York Times’. Além de ser o primeiro matutino que leem todos os políticos da cidade mais poderosa do mundo, é famoso internacionalmente por sua cobertura do escândalo de Watergate durante o governo de Richard Nixon, que resultou na renúncia do presidente (a primeira e única vez que aconteceu na história do país).
Jeff Bezos, sabemos todos, é o fundador, dono e CEO da Amazon.com e um dos homens mais ricos do planeta. Tem 49 anos de idade. Além de revolucionar o mercado de comércio eletrônico (e consequentemente prejudicar gravemente a tradicional venda varejista em todos os ramos comerciais) foi o líder da revolução do e-book, tanto do lado comercial como do elegante e útil dispositivo que sua empresa desenhou para comprar, armazenar e ler livros eletrônicos, o Kindle (que por sua vez, prejudicou gravemente, a indústria editorial tradicional e a das livrarias).
O jornal custou a Bezos 250 milhões de dólares, 1% de sua fortuna pessoal, segundo a revista Forbes, e ele pagou em espécie. Como você ou eu compraríamos uma torradeira em um supermercado, à vista.
Talvez o mais surpreendente de todo este assunto seja o módico preço pago pelo jornal. Para Bezos é um investimento de risco financeiro zero. Repetimos, representa 1% de sua riqueza. Há dezenas de times de futebol que valem muito mais que isso. Somente o contrato de rescisão de Lionel Messi do Futbol Club Barcelona é de 250.000.000 de euros, 33% mais do que o Washington Post custou a Bezos.
Com o Washington Post em seu poder, Bezos não apenas comprou um jornal. Comprou um lugar em Washington. Comprou, também, a agenda mais impressionante que existe no planeta. E um meio no qual, seguramente, iniciará uma série de experiências desde o tecnológico até o comercial e jornalístico, que podem se tornar um marco na tão prometida mudança definitiva do formato, dos jornais de papel ao digital.
Em uma sucinta carta aos empregados do Post, publicada no dia 5 de agosto, Bezos assegurou que não ia mudar a política editorial do jornal nem seus valores centrais. Também afirmou que não estaria dirigindo o jornal em suas operações cotidianas, mas que continuaria no outro Washington com o trabalho que ama.
A mais vigorosa linha desta carta de apenas um parágrafo diz:
O jornal continuará respondendo aos seus leitores e não aos interesses privados dos donos. Continuaremos perseguindo a verdade, seja onde for que nos leve e trabalharemos duro para não cometer erros. Quando os cometamos, os admitiremos rápida e completamente.
Bezos é um dos homens de negócios mais astutos de sua geração. Viu oportunidades que hoje parecem óbvias, mas que em seu momento pareciam receitas de fracasso. Se existe algo garantido, é que o Post não foi comprado o Post para obter dinheiro. Pelo menos não no formato no qual está hoje.
Há tempo que o negócio dos jornais em papel não rende. Segundo uma matéria na Businessweek, o Washington Post perdeu 44% de lucros nos últimos seis anos. Donald Graham, o encarregado do jornal familiar disse, explicando sua venda, que não poderia continuar perdendo o dinheiro de seus acionistas.
Ainda que alguns especulem que a compra de Bezos tenha sido para aumentar sua influência política em Washington e assim favorecer sua própria empresa, há outros que enfatizam que Bezos sempre teve uma veneração pela palavra escrita e pelos jornais.
Poucos dias atrás a página Nieman Journalism Lab publicou uma extensa matéria com dezenas de links vinculados ao debate sobre qual foi a motivação de Bezos para sua compra. Esta página, especializada em jornalismo, ressalta pela mera proliferação de ideias contraditórias que se publicaram em diversos jornais estadunidenses o que afirmamos no começo desta matéria: não se sabe por que o fez e ninguém sabe o que vai acontecer.
* Jornalista do “Bitácora”, do Uruguai.
Tradução: Liborio Júnior
Fonte: Carta Maior