Me considero um sujeito dotado de uma dose extra de paciência, acima da média. Tenho trabalhado essa virtude ao longo dos anos, certo de que a irritação e o stress são venenos para o corpo e para a alma. Mas hoje a operadora TIM quase acabou com meu estoque. Passei três horas na loja, tentando cancelar um modem 3G de acesso à internet. O aparelho estava ruim, travando, com a velocidade de uma linha discada.
E assim me dirigi à loja que fica no Shopping Beira Mar, em Florianópolis, com o firme propósito de cancelar o contrato e adquirir um outro modem na concorrência. Na chegada, a simpática atendente me olhou de cima a baixo e perguntou: O senhor quer cancelar? Pode fazer por telefone… E eu respondi: Não, prefiro fazer ao vivo, lembrando de uma trágica experiência com a Brasil Telecom, que até hoje me cobra por uma internet que nunca foi instalada na minha casa de praia, depois de eu ter ligado várias vezes cancelando o serviço, que nunca existiu. Mas isso é outro assunto.
Ao dizer isso, a recepcionista deve ter pensado: Coitado, mais um que não sai daqui tão cedo… Resignado, fui sentar na sala de espera, ao lado de duas simpáticas senhoras. E aí descobrimos que as nossas senhas tinham as iniciais PV (pós-venda). E que no pós-venda é só encrenca. Reclamações, cancelamentos, cobranças indevidas, e por aí vai. E para atender no pós-venda, uma única e pobre criatura. Havia cinco pessoas na minha frente, sem contar o atendimento preferencial. Cada atendimento estava levando, em média, 45 minutos. E a espera começou. Espera. Espera. Espera…
Nisso, pra matar o tempo, o grupo começou a conversar, animadamente, como velhos companheiros de sofrimento. Uma senhora japonesa do meu lado, muito engraçada, ajudava na descontração do ambiente, que estava cada vez mais tenso. Dali a pouco, já estávamos rindo da situação. Cada vez que a moça chamava o próximo cliente, isso era comemorado como se fosse um gol. De repente, avisto num canto da sala um telefone branco, com um letreiro em cima: “Suporte ao Atendimento”. Pronto, pensei, é por aqui mesmo, como não pensei nisso antes! Levantei o fone e na mesma hora fui atendido (viva!). Quero cancelar. Pois não, senhor. Pediu a confirmação dos dados, tudo beleza. E eu pensando: maravilha, descobri uma maneira de fugir daqui antes do tempo. As senhoras do sofá me olhavam, torcendo por mim. Daí, o atendente falou: “Senhor, estarei transferindo a ligação para o setor de cancelamento….”. Transferiu.
Atendeu uma moça, perguntou novamente os mesmos dados, por que eu queria cancelar, blá blá blá blá… Até aí, tudo bem. De repente, ela disse: Senhor, aguarde um instante, vou fazer o cancelamento no sistema. E começou a tocar uma musiquinha. Um bate-estaca, com um assovio no fundo. E o instante foi virando uma eternidade. Quinze minutos. Meia hora. Quarenta minutos. O meu ouvido doendo, mas eu ali firme, pensando, não vou desistir! Isso é um teste!
Não teve jeito, desliguei e, vencido, voltei para o sofá. Mas a essa altura, já tinha demorado tanto que a minha senha foi chamada. Nova comemoração. Fui para a mesa da atendente e disse: Quero cancelar, pelo amor de Deus! Em cinco minutos, ela registrou o pedido. Senhor, para completar o cancelamento, a TIM vai lhe telefonar, em 24 horas. E eu: Jura? Tem certeza?…. Fui embora, extenuado, com aquela sensação de dejá-vù. Por que no Brasil as coisas são assim? Por que o consumidor é tratado como o cocô do cavalo do bandido? Isso só seria explicável em razão da decantada índole pacífica e ordeira do povo brasileiro. Triste sina, que nos levar a rir quando deveríamos agir, em busca de respeito e dos direitos assegurados em leis que raramente são cumpridas.
Fonte: Facebook