As operadoras de telefonia e a índole pacífica e ordeira do povo brasileiro

piva Por Roberto Piva.

Me considero um sujeito dotado de uma dose extra de paciência, acima da média. Tenho trabalhado essa virtude ao  longo dos anos, certo de que a irritação e o stress são venenos para o corpo e para a alma. Mas hoje a operadora TIM quase acabou com meu estoque. Passei três horas na loja, tentando cancelar um modem 3G de acesso à internet. O aparelho estava ruim, travando, com a velocidade de uma linha discada.

E assim me dirigi à loja que fica no Shopping Beira Mar, em Florianópolis, com o firme propósito de cancelar o contrato e adquirir um outro modem na concorrência. Na chegada, a simpática atendente me olhou de cima a baixo e perguntou: O senhor quer cancelar? Pode fazer por telefone… E eu respondi: Não, prefiro fazer ao vivo, lembrando de uma trágica experiência com a Brasil Telecom, que até hoje me cobra por uma internet que nunca foi instalada na minha casa de praia, depois de eu ter ligado várias vezes cancelando o serviço, que nunca existiu. Mas isso é outro assunto.

Ao dizer isso, a recepcionista deve ter pensado: Coitado, mais um que não sai daqui tão cedo… Resignado, fui sentar na sala de espera, ao lado de duas simpáticas senhoras. E aí descobrimos que as nossas senhas tinham as iniciais PV (pós-venda). E que no pós-venda é só encrenca. Reclamações, cancelamentos, cobranças indevidas, e por aí vai. E para atender no pós-venda, uma única e pobre criatura. Havia cinco pessoas na minha frente, sem contar o atendimento preferencial. Cada atendimento estava levando, em média, 45 minutos. E a espera começou. Espera. Espera. Espera…

Nisso, pra matar o tempo, o grupo começou a conversar, animadamente, como velhos companheiros de sofrimento. Uma senhora japonesa do meu lado, muito engraçada, ajudava na descontração do ambiente, que estava cada vez mais tenso. Dali a pouco, já estávamos rindo da situação. Cada vez que a moça chamava o próximo cliente, isso era comemorado como se fosse um gol. De repente, avisto num canto da sala um telefone branco, com um letreiro em cima: “Suporte ao Atendimento”. Pronto, pensei, é por aqui mesmo, como não pensei nisso antes! Levantei o fone e na mesma hora fui atendido (viva!). Quero cancelar. Pois não, senhor. Pediu a confirmação dos dados, tudo beleza. E eu pensando: maravilha, descobri uma maneira de fugir daqui antes do tempo. As senhoras do sofá me olhavam, torcendo por mim. Daí, o atendente falou: “Senhor, estarei transferindo a ligação para o setor de cancelamento….”. Transferiu.

Atendeu uma moça, perguntou novamente os mesmos dados, por que eu queria cancelar, blá blá blá blá… Até aí, tudo bem. De repente, ela disse: Senhor, aguarde um instante, vou fazer o cancelamento no sistema. E começou a tocar uma musiquinha. Um bate-estaca, com um assovio no fundo. E o instante foi virando uma eternidade. Quinze minutos. Meia hora. Quarenta minutos. O meu ouvido doendo, mas eu ali firme, pensando, não vou desistir! Isso é um teste!

Não teve jeito, desliguei e, vencido, voltei para o sofá. Mas a essa altura, já tinha demorado tanto que a minha senha foi chamada. Nova comemoração. Fui para a mesa da atendente e disse: Quero cancelar, pelo amor de Deus! Em cinco minutos, ela registrou o pedido. Senhor, para completar o cancelamento, a TIM vai lhe telefonar, em 24 horas. E eu: Jura? Tem certeza?…. Fui embora, extenuado, com aquela sensação de dejá-vù. Por que no Brasil as coisas são assim? Por que o consumidor é tratado como o cocô do cavalo do bandido? Isso só seria explicável em razão da decantada índole pacífica e ordeira do povo brasileiro. Triste sina, que nos levar a rir quando deveríamos agir, em busca de respeito e dos direitos assegurados em leis que raramente são cumpridas.

Fonte: Facebook

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