Ao ver pela Telesur as cenas de horror transmitidas diretamente da Faixa de Gaza por sua correspondente local, não pude evitar fazer uma associação imediata com uma lembrança do passado. O que me veio à memória foi o clássico documentário produzido em 1956 pelo consagrado cineasta francês Alain Resnais, cujo título original é Nuit et Brouiallard, que, traduzido ao português, seria Noite e Neblina.
Para a maior parte dos que estamos vivos na atualidade, e que ainda não éramos nascidos no tempo ao qual o documentário faz referência, esta renomada obra de arte talvez nos possibilite entender até que ponto a degradação humana é capaz de chegar quanto a seu nível de perversidade e crueldade. E ela também poderá nos alertar para o fato de que a maldade em sua máxima essência não está circunscrita a um passado, findo e concluído, mas que também está permanentemente espreitando as possibilidades para reaparecer.
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E as cenas do sofrimento que está sendo imposto ao povo palestino na Faixa de Gaza neste preciso momento nos confirmam que o espírito do nazismo está pairando uma vez mais sobre a humanidade.
As dores e as angústias de milhões de palestinos que vemos nas imagens que chegam até nós se diferenciam daquelas vistas no documentário de Alain Resnais, principalmente, em função de sua muito maior nitidez. No tempo em que Resnais produziu seu documentário, ainda não havia o cinema em cores e, por isso, toda a filmagem foi feita em branco e preto. Portanto, agora, os sinais do sofrimento estão muito mais visíveis e realísticos, impossíveis de não serem notados.
Outro detalhe que nos chama a atenção não está nas imagens que recebemos, mas no que é dito sobre as mesmas. É que os sionistas que apoiam o Estado de Israel não admitem de nenhum modo que se façam analogias entre os horrores que o Estado de Israel está praticando contra o povo palestino com as atrocidades que os nazistas cometiam contra suas vítimas no tempo da Alemanha hitlerista.
Então, os sionistas não vacilam em tachar de racista e antissemita a todos os que ousam condenar o Estado de Israel por esses crimes. Os sionistas gostam de dizer que nessa postura crítica aos métodos do sionismo está embutido um profundo sentimento de antissemitismo, equiparável ao que os nazistas do tempo de Hitler nutriam contra os judeus. Por isso, para os sionistas, antissionismo é exatamente o mesmo que antissemitismo.
Porém, curiosamente, os sionistas não notam nenhuma semelhança com o nazismo hitlerista quando o Estado de Israel extermina cruel e impiedosamente a crianças e mulheres palestinas (mais de 70% dos mais de 40.000 assassinados pelo Estado de Israel nas recentes operações na Faixa de Gaza são crianças e mulheres); nem quando o Estado sionista destrói todos os hospitais daquele enclave e deixa sem possibilidade de assistência médica a seus mais de dois milhões e trezentos mil habitantes; tampouco detectam qualquer semelhança com o nazismo hitlerista quando as escolas e moradias dos palestinos são bombardeadas e arrasadas. Não, nada disso! Fazer tais alusões é que constituiria uma afinidade com o antissemitismo nazista.
Mas, quem sabe, ao olhar com atenção as novas imagens que mostram como a Faixa de Gaza foi transformada em um campo de concentração bem parecido ao que os nazistas tinham mantido em Auschwitz, os sionistas comecem a se dar conta de que o sionismo está muito mais próximo do nazismo do que eles creem, ou fingem que creem.
Em vista de tudo isto, vale a pena ver, ou rever, com toda a atenção o documentário Noite e Neblina, de Alain Resnais. O mesmo está disponível através do seguinte link: https://youtu.be/1wOug3UFTho . Além de uma obra de arte inigualável, trata-se também de um valiosíssimo documento histórico.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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