As mais recentes informações sobre a morte de Anísio Teixeira

 Via Coletivo Memória, Verdade e Justiça – SC

Tudo indica que o governo militar, ou uma facção a ele vinculada, levou Anísio Teixeira para depor em instalação da Aeronáutica no Rio de Janeiro, em 11 de março de 1971, dia de seu desaparecimento. O corpo do educador foi encontrado, dois dias depois, no final da tarde de 13 de março, no fundo do fosso de um dos elevadores sociais do Edifício Duque de Caxias, na Rua Praia de Botafogo, local para onde Anísio teria se dirigido, a pé, após ter pronunciado conferência na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

A indicação de que ele se encontrava detido, e não morto, entre 11 e 12 de março, são muito fortes, por conta de declarações dadas pelo escritor e ex-govenador baiano Luiz Viana Filho e pelo educador e poeta mineiro Abgar Renault, ambos amigos de Anísio e membros da Academia Brasileitra de Letras, com largo trânsito entre as autoridades do regime militar. Eles confirmaram, independentemente, à família do educador, que uma autoridade militar (o Chefe do I Exército, General Syzeno Sarmento, segundo Abgar Renault) teria afirmado que Anísio estivera sob interrogatório na Aeronáutica, após ser provavelmente sequestrado no percurso entre a Fundação Getúlio Vargas e o edifício residencial de Aurélio Buarque de Holanda, próximo ao meio dia de 11 de março de 1971.

Registra-se, também, por informação de familiares, coordenados pelo então genro de Anísio na busca de informações sobre o paradeiro Paulo Alberto Monteiro de Barros (Artur da Távola), que a autoridade militar informante teria pedido para que a família se tranquilizasse, pois o educador logo voltaria para casa. No entanto, a versão difundida, que se consolidou na época, para a morte de Anísio, foi que ele teria caído no fosso do elevador do Edifício Duque de Caxias, sem que tivesse chegado ao apartamento 42, para o almoço marcado com Aurélio Buarque.

Pondera-se que isso só seria possível se, após entrar no prédio, ele tivesse errado o andar, ao subir de elevador e, quando foi tomá-lo outra fez, a porta se abriu sem que o equipamento estivesse posicionado no andar. A despeito da fisionomia bastante singular de Anísio (baixo, magro e óculos de elevado grau), nenhum dos porteiros o viu entrar no prédio, naquele dia.

Uma testemunha, ainda viva, confessou-me, recentemente, que, Anísio não foi ao apartamento de Aurélio Buarque de Holanda, no dia 11 de março de 1971, quando, em almoço, estava previsto que ele pediria o voto de Aurélio para a eleição na ABL, na qiual concorreria. Importante auxiliar de Aurélio, na produção de seu famoso dicionário, a ytestemunha disse-me que descera pelo mesmo elevador, supostamente sinistrado, próximo às 13:30 h, para uma viagem a São Luís, na tarde de 11 de março de 1971, razão por que saíra do apartamento de Aurélio àquela hora. Ao ligar para Aurélio, no início da noite de 11 de março, um familiar de Anísio apurou que, além de não ter chegado para o almaoço, ele também não telefonou para Aurélio, a fim de justificar a ausência.

Naquela data, próximo ao meio dia, horário previsto para a chegada do educador ao apartamento de Aurélio, o prédio estava sob manutenção de pintura, segundo revela matéria do jornal Última Hora, de 13 de março de 1971. Segundo o jornal, a base de apoio dos trabalhadores era junto à portinhola de acesso ao fundo do fosso do elevador em que o corpo foi encontrado. Muitos empregados do prédio também costumavam circular pelo local, mas ninguém registrou grito ou barulho de tombo, em torno do meio dia.

O Auto de Exame Cadavérico, do IML do Rio, que agora se divulga, em primeira mão, atesta que a morte do educador ocorreu no dia 12 de março de 1971. Isto significa que, na hipótese da queda, ele teria ficado vivo, entre os dias 11 e 12 de março, no fundo do fosso.

As fotos do cadáver de Anísio Teixeira, no fundo do fosso do elevador, foram recentemente descobertas e há pouco foram apresentadas à família do educador, pela Comissão Nacional da Verdade. Em virtude do encerramento dos trabalhos da comissão, não houve apresentação do relatório conclusivo. Com a ajuda dessas fotos e do laudo do IML do Rio de Janeiro, mostra-se, definitivamente, que Anísio não morreu devido à queda no fosso. Ela foi simulada, possivelmente com o intuito de forçar a versão inverossímil que interessava a quem, de fato, foi responsável por sua morte.

Abre-se, portanto, uma nova fase na investigação da morte do mais destacado educador brasileiro. Saber quem o matou, e as razões da morte, é uma exigência da sociedade brasileira. Anísio nunca foi militante partidário, mas sua atuação de educador, desde 1924, não era da simpatia dos setores conservadores, por certo interessados na manutenção do estado de ignorância que, para eles, favoreceria a manutenção do poder em suas mãos. Por exemplo, em 1935 e em 1964, Anísio foi forçado a deixar os cargos importantes que exercia na educação pública brasileira, forçado pelas respectivas situações políticas de restrição à democracia. Chamado para ser um dos organizadores da UNESCO, após a redemocratização, em 1946, teve o convite dificultado pelo governo brasileiro de então Segundo afirma Luiz Viana Filho, a carta em que Julian Huxley o convidava para integrar a comissão internacional de organização do órgão da ONU para a educação e cultura foi devolvida, e só chegou a suas mãos através de um hotel de Nova Iorque onde costumava se hospedar.

No dia 11 de março próximo, completam-se 45 anos do desaparecimento de Anísio Teixeira. Neste dia, será apresentado, publicamente, em entrevista coletiva, a ser realizada na sede da APUB, o relatório com as novas informações sobre a morte de Anísio Teixeira, organizado por João Augusto de Lima Rocha, Professor Titular da Escola Politécnica da UFBA e membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira.

LOCAL : Sede da APUB – Sindicato. Rua Aristides Novis, 44. Bairro da Federação, Salvador-Ba

DIA: 11 de março de 2016

HORA: 10:00

Imagem tomada de: www.vermelho.org.br

1 COMENTÁRIO

  1. Estou na produção de uma série de investigação policial, se chama Investigadores da História. Dois peritos da Polícia Civil (que participaram da comissão da verdade), revisam e investigam casos até hoje sem resposta da época da Ditadura, um episódio é sobre Anísio Teixeira. A partir do segundo semestre desse ano, ela estará na TV Brasil, aconselho que assista.

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