Há um tempo procurando música nova na internet, me deparei com a canção little boxes, de Malvina Reynolds, lançada em 1962 e regravada por diversos artistas desde então, até a Nara Leão cantou uma versão em português, porém com o mesmo título em inglês. A música fala do ciclo de vida que passamos de uma caixa para outra e vamos encaixotando as próximas gerações. Existem caixas de várias as cores, mas todas parecem a mesma e todas são feitas do mesmo material.
Não sei o que Malvina pensava quando escreveu essa música, mas a metáfora das caixas pode ser aplicada em diversas situações, desde grupos políticos, acadêmicos, ideológicos, geográficos até as nossas casas, onde ficamos muito tempo sozinhos, fazendo parte da mobília. Pensando nesse último exemplo, é fácil ver o quando nos isolamos, não conhecemos nossos vizinhos, pessoas que moram há anos no mesmo edifício sempre encontram desconhecidos nos elevadores. Nossas caixinhas são quase herméticas, a rua só serve para irmos de uma caixa para outra.
A organização urbana me lembra a época dos feudos, onde a rua era perigosa e não devíamos ficar muito tempo lá. Quem fica na rua são os bárbaros, prestes a atacar-nos a qualquer momento. Pergunto-me o que tem lá que é tão proibido. O que aconteceria se as pessoas simplesmente se encontrassem na rua? Sem objetivos maiores, para conversar, ver e ouvir o que acontece com o outro. Poderiam acontecer conversas, discussões, conflitos e consensos. Poderia ser percebido que o problema de um pode ser o mesmo problema de muitos.
Com tantos encontros poderíamos aprender a pensar mais coletivamente, que é um exercício muito difícil de praticar, mas quem sabe pode render bons frutos. Pois afinal, são nas relações que o ser humano vive, tudo o que somos e fazemos têm relação direta com os outros. Num tempo no qual a solidão traz um mal estar tremendo, entrarmos em contato com mais pessoas poderia ser uma forma de amenizar esse mal estar, não?
Estou longe de querer desencaixotar tudo e todos e despejar num limbo, mas creio que podemos sair um pouco mais de nossas caixinhas, talvez deixar uma frestinha aberta.
Malvina Reynolds
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Nara Leão
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