Por Genel Ambrose
Sentado em seu estúdio iluminado pelo sol no Brooklyn, o artista de Los Angeles Gianni Lee lembra como foi crescer pobre no oeste da Filadélfia. Sua mãe, Eileen, trabalhava em várias coisas para sustentar Lee e sua irmã mais velha, Brooke. Desde cedo, Eileen reconheceu o taleto do filho para desenhar. Ela viu a arte como um jeito de manter Lee longe das ruas e más companhias, então com qualquer dinheiro que sobrava, ela o matriculava em vários programas de arte.
Uma criança criativa, Lee queria contar histórias através de sua arte, mas nunca pensou que uma escola de artes profissional fosse para alguém como ele. “No mundo das artes, não há muitas pessoas não brancas, então era difícil imaginar, digamos, a Rhode Island School of Design como um lugar para alguém do gueto. Quando uma pessoa branca te diz ‘Você também pode fazer isso”, não é a mesma coisa que ouvir isso de alguém como você”, disse Lee.
Ele optou se matricular na Temple University, uma faculdade de artes liberal no norte da Filadélfia, onde estudou comunicações enquanto fazia arte paralelamente. Em seu segundo ano lá, inspirado pelo espírito empreendedor de Pharrell Williams, Lee fundou a marca de moda de rua Babylon Cartel, conhecida por suas jaquetas estampadas com personagens japoneses e celebridades como Rihanna, Young Thug, Kehlani e Jhene Aiko. Em 2016, quando Lee decidiu se focar em ser DJ e pintar, ele repentinamente tirou a marca da internet, deixando o mundo da moda em frenesi.
Em abril de 2017, Lee fez sua primeira exposição no Brooklyn. Aí, no dia 1º de julho, enquanto terminava seu set como DJ no Regent Theater em LA, 12 policiais apareceram nos bastidores e o prenderam por um assalto que tinha ocorrido cinco meses antes.
Ele passou três noites tensas numa cadeia de Los Angeles, até que um amigo advogado o tirou de lá sob fiança. O amigo disse a Lee que do jeito como o sistema funciona na Califórnia, se ele não tivesse saído sob fiança, ele ficaria preso até a data de seu julgamento, quase um mês depois. A experiência de ter sido preso injustamente por um crime que não comentou foi traumatizante e deixou Lee abalado.
“Nosso país faz dinheiro com corpos negros os trancando em prisões”, Lee disse a VICE, apontando que 2,3 milhões de pessoas, a maioria delas negras ou mestiças, estão atualmente atrás das grades, e a perturbadora posição dos EUA como o líder mundial em encarceramentos. “Quando fui preso percebi ‘Uau, eu era parte do sistema’. Antes de ser preso, eu me sentia distante dessas coisas, mas depois percebi quão humano eu era. Qualquer um pode ser acusado e preso.”
Apesar de ter sido inocentado mais tarde, a experiência deixou Lee severamente deprimido. Aconselhado por um amigo, ele pegou seus pincéis numa tentativa de expressar “sentimentos internos sob questões que não conseguia colocar em palavras”.
Suas pinturas em acrílico imaginam um futuro distópico distante e abordam questões como paternidade, racismo, capitalismo e transtorno de estresse pós-traumático. As obras eventualmente se tornaram parte de uma exposição de dez dias na Dock Gallery em LA, chamada They Sat Back, They Let It Happen, uma referência ao que Lee percebe como uma apatia americana com a justiça social.
Dominadas por tons de rosa e verde, as pinturas parecem um cruzamento entre arte de rua, animação e surrealismo ao estilo Dalí. Vários olhos e trepadeiras representam a humanidade. “Às vezes deixamos nossos próprios demônios, erros ou pensamentos nos consumirem e dominarem nossa cabeça”, disse Lee. Pele azul também é um motivo recorrente, representando ancestralidade.
Segundo Lee, pintar o levou a um despertar. “Não me encontrei até começar a pintar. Pintar me abriu para essas coisas chamadas emoções, que eu nem sabia que tinha já que fugi delas por tanto tempo. Crescendo num bairro pobre, sempre te ensinam a ser durão. Sempre tive problemas para lidar com as minhas emoções. Então agora que tenho uma tela na minha frente, percebo meu poder, posso colocar o que sinto nela.”
A obra Self Destruction by the Hands of a Glock, segundo Lee, é a que mais o representa. “De certa maneira, essa pintura representa como as pessoas veem o homem negro. Ele está ferido por dentro. Ele está chorando sangue. Ele está tentando atirar na ‘doença’ dentro dele.”
Lee, que está passando o verão no Brooklyn pintando e procurando inspiração para a próxima exposição, espera que seu trabalho incite uma nova consciência nos observadores. “Nos EUA, estamos constantemente lidando com o capitalismo. Há forças malignas agindo, tentando nos manter controlados e gastando, especialmente pessoas não brancas. Por exemplo, nosso poder de compra é tão grande que se nos mobilizássemos para não gastar em um lugar, isso poderia foder com todo o negócio deles. Temos que entender nosso poder e retomá-lo.”