Arte, ciência e natureza – um tratado sobre o corpo

    Silvana Macêdo na Galeria Vecchietti e no Memorial Meyer Filho

    Entranhas e Mácula, duas séries de trabalhos da artista Silvana Macêdo, ocupam dois espaços nobres do centro de Florianópolis. Um conjunto de suas pinturas a óleo e acrílico sobre tela, outras em nanquim sobre papel, e gravuras em metal ganham o espaço da Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti e o Memorial Meyer Filho, que teve abertura ontem, dia 5, às 18h30. A curadoria de Juliana Crispe reúne uma produção de caráter autobiográfico que pede a atenção ao seu percurso com uma produção iniciada em 1990 e que se situa no desejo de aproximar arte, ciência e natureza.

    “Das profundezas de si, pulsa a vida e um desejo de autoconhecimento em busca de ressignificar as marcas da sua biografia em seu corpo”, diz a curadora. A questão que move a artista e pesquisadora é a representação da natureza pela arte e pela ciência. Ao longo de sua trajetória alinha pinturas, gravuras e videoinstalações à estética ambiental e a discussões feministas.

    Nascida em Goiânia em 1966, moradora da Ilha de Santa Catarina desde 2004, onde atua como professora do Departamento de Artes Visuais da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), ela pinta, grava e transita em multimeios, pesquisa telepresença, tecnologias novas e antigas para apresentar videoinstalações.

    As mostras Entranhas e Mácula têm na gênese um traço intimista, o corpo como pulsão de autoconsciência do sujeito. Num processo psicológico de transformação a artista converte vicissitudes em arte. Entre 2014 e 2017, pinta e grava, cria uma poética de perda e vazio. Vísceras, osso, olho, órgãos, tecidos, células, rim – o corpo, um dos grandes temas do pensamento contemporâneo no cerne dessas representações.

    Outros discursos

    Fora de si, Silvana Macêdo aprecia ações coletivas, atuações colaborativas e coloca a sua produção em sintonia com o artivismo. Adota estratégias simbólicas para amplificar certas causas, faz intervenções urbanas, obras efêmeras, como Paisagem Especulada (2009), uma escrita monumental na praia do Pântano do Sul, ou Baleia-franca (2006-7), videoinstalação e projeto on-line desenvolvido com o programa ambiental Baleia-franca. Aposta em experimentações estéticas, realiza residências, atua com equipes multidisciplinares, de músicos a cientistas, interessados em assuntos de comunidade, tecnologia, meio ambiente.

    Protesto político, defesa ambiental ou a maternidade, tema caro ao feminismo. Entre os trabalhos mais recentes, duas séries fotográficas e uma videoinstalação integram o projeto de pesquisa intitulado O Poder Materno e a Arte Contemporânea com o qual investiga a representação do maternal na arte contemporânea e sua relação com debates feministas.

    Sua produção realizada no Reino Unido, voltada aos multimeios, é inédita em Santa Catarina. Algumas das obras criadas naquele país poderão ser vistas pela primeira vez em novembro, no MIS/SC (Museu da Imagem e do Som), em Florianópolis. A exposição Intraduzível reunirá trabalhos colaborativos realizados com a artista finlandesa Henna Asikainen, que conheceu na Inglaterra em 1997 quando estudou na Northumbria University, Newcastle, além do compositor Frederico Macêdo e o astrofísico Reza Tavakol.

    O trabalhos que compõem a mostra são uma série de fotografias e quatro instalações, as videoinstalações ar (2001-3) e lua & oceanos (2005-7), a videoinstalação sonora cooperari (2007) e a instalação intitulada trabalho de campo (2017)Henna, que pretende estar no Brasil, vem para celebrar 20 anos de parceria e a apresentação inédita de trabalhos nunca vistos no Brasil. A curadoria de Intraduzível também é de Juliana Crispe.

    Sobre a artista

    Silvana Macêdo pesquisa o diálogo entre a arte contemporânea, ciência, natureza e tecnologia, o tema de seu doutorado (2003), na Northumbria University, Newcastle Upon Tyne, no Reino Unido. Aprofundou suas pesquisas sobre tecnologia de telepresença em seu trabalho de pós-doutorado sob orientação da Profa. Dra. Diana Domingues na Universidade de Caxias do Sul, em 2005. Desde então desenvolve projetos artísticos que envolvem o uso de tecnologias novas e antigas, high e low tech, sobre a temática do meio ambiente. Mais recentemente pesquisa sobre maternalismos contemporâneos, com foco em debates feministas, abordagem usada no pós-doutorado iniciada na Glasgow School of Art, Escócia (2014), em andamento no Departamento de Artes Visuais (DAV/Ceart/Udesc). Professora efetiva do DAV desde 2006, professora do PPGAV, Udesc, atua nas áreas de pintura, multimeios, instalação multimídia e artes midiáticas.

    Apoio institucional: Prefeitura Municipal de Florianópolis, Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes/Galeria de Arte Municipal Pedro Paulo Vecchietti, Memorial Meyer Filho, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Centro de Artes (Ceart), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Fundação Senhor dos Passos

    Ficha técnica

    Curadoria: Juliana Crispe

    Montagem: Flávio Brunetto

    Figurino: Gi Pagotto

    Joalheiro: Fernando Almeida

    Projeto gráfico: Tina Merz

    Fotografia: Maria Eduarda Muller e Silvana Macêdo

    Digitalização de imagens: Endrigo Righeto

    Assessoria de imprensa: Néri Pedroso

     

    Serviço

    O quê: Entranhas e Mácula, mostra de Silvana Macêdo

    Quando 5.9.2017, 18h30 (abertura). Até 29.9.2017; seg. a sex., 13 às 19h

    Onde: Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti e Memorial Meyer Filho, praça 15 de novembro, n° 180, centro, Florianópolis, tel.: 3333-9743

    Quanto: Gratuito

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