Arquivos secretos revelam rede de espionagem da ditadura do Chile

Milhares de arquivos secretos da ditadura chilena sob o comando do general Augusto Pinochet (1973-1990) foram revelados à agência de notícias DPA e divulgados nesta sexta-feira (03/08). Guardados por décadas como confidenciais, os documentos indicam que os órgãos de repressão do Chile trocavam correspondências quase diárias com outras autoridades da época para coordenar operações em todo o mundo.

De acordo com esses arquivos, a polícia secreta do ditador liderou uma rede de espionagem dentro e fora do Chile que cruzou informações com Vaticano, FBI, e outras ditaduras da América Latina.

As documentações, extraídas dos órgãos repressores Dina (Direção de Inteligência Nacional) e seu sucessor, o CNI (Central Nacional de Informações), revelam também a perseguição e o monitoramento a centenas de jornalistas que trabalhavam como correspondentes dentro e fora do país sul-americano.

Os arquivos revelam o esforço da ditadura Pinochet em desacreditar seus opositores e ganhar aliados, operação que envolveu o atual deputado Alberto Cardemil, da Renovação Nacional, mesmo partido do atual presidente Sebastián Piñera. Cardemil, que já foi ministro do Interior na ditadura, enviou para seus aliados informações sobre a ONG defensora dos direitos humanos “Vicariato da Solidariedade” com o objetivo de lançar um o programa para desacreditá-la.

Os documentos indicam que os militares se preocupavam com a opinião dos outros países sobre o Chile, em especial sobre denúncias contra os direitos humanos. Ante as críticas, a Dina chegou a elaborar e distribuir, em 1976, um ofício para as embaixadas em todo o mundo em que pretendia ressaltar a imagem de Pinochet como um “soldado estadista”.

De acordo com uma circular da Dina datada de 1975, Manuel Contreras que, como diretor da entidade planejou atentados nos Estados Unidos, Argentina e Itália, tinha autoridade suficiente para investigar todos os funcionários do Estado. “Vossa Excelência (o presidente) dispôs que, a partir desta data, nenhum funcionário público será contratado sem que previamente a Dina verifique seus antecedentes em respeito às atividades que o interessado possa vir a ter realizado”, informou o então ministro do Interior, general Raúl Benavides.

As equipes de inteligência enviavam ao governo detalhes inclusive de debates em centros de estudo no país, classificando-os como “ativismo intelectual”.

Os textos mostram ainda diálogos com o Vaticano para neutralizar setores da Igreja que criticavam as violações dos direitos humanos.

Em 1976, os poderes da DINA foram ampliados. Além de investigar os antecedentes na hora da contratação, o órgão passou a ter poder para investigar qualquer funcionário. Seu diretor poderia inclusive dar ordens a ministros.

A iniciativa, denominada Plano de Operações Épsilon, tinha 11 páginas e foi planejada em junho de 1975 por Contreras, diante de uma visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ao país. A estratégia foi distribuída a ministros e chefes de serviços da ditadura e tinha como missão “realizar uma campanha de ação psicológica aberta e clandestina” para neutralizar no mundo as denúncias por violações aos direitos humanos.

A coordenação entre a polícia secreta e os ministros continuou inclusive depois da dissolução do órgão, em 1978. A CNI, que substituiu a DINA, impulsionava desde sua criação as operações na Bolívia, Argentina e Brasil, por meio das embaixadas chilenas que enviavam informes periódicos sobre a atividade dos exilados, os meios de comunicação e os organismos humanitários.

Outra peça-chave importante são os “Informes de Apreciação Sociológica da Armada”, preparada pela Junta Militar nos últimos anos do regime, onde eles mesmos delineiam a entrega do poder e as características que o regime democrático deveria adotar, onde os militares não tivessem de ceder o “princípio da autoridade”. As mudanças foram acordadas com a oposição de centro-esquerda.

(*)Com informações de agências de notícias internacionais

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/

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