Argentina: Proa ao naufrágio

Por Débora Mabaires, de Buenos Aires, para Desacato.info.

Dois meses. Aos argentinos parecem anos, mas, apenas leva dois meses no poder. As medidas econômicas que tem tomado Mauricio Macri, despertou o medo de perder o trabalho; de não poder colocar um prato de comida na mesa; de perder a cobertura da saúde; e, inclusive, perder a liberdade por protestar.

Com proteção midiática e judicial; as corporações tomaram o timão do país através de seus gerentes, levando Macri como representante de proa.

A chancelaria argentina está nas mãos da Telecom e IBM; O Ministério de Energia é manejado pela petroleira holandesa Shell; o Ministério da Fazenda e Finanças, manejado pelo bancário J.P. Morgan; a Unidade de Investigações Financeiras está nas mãos do banco HSBC, denunciado em nosso país por ter lavado dinheiro. O diretório do Banco Central da República Argentina é controlado conjuntamente pelos bancos J.P. Morgan e Goldman Sachs. Enquanto que as Linhas Aéreas Argentinas é administrada pela General Motors e pela linha aérea chilena LAN.

Onde havia um posto diretivo, um ministério ou uma secretaria, ali há um gerente de alguma corporação estrangeira ou nacional.

E ao analisar as medidas econômicas que este grupo de empresários fazem Mauricio Macri firmar, não restam dúvidas que o plano do governo não inclui a classe trabalhadora.

A brusca desvalorização de mais de 40% na primeira semana de governo, trouxe aparelhada um brusco aumento de preços e outras medidas, como o aumento de taxas de créditos bancários que encareu o financiamento em mais de 30%; as demissões em massa do setor público que deixou a 30.000 desempregados; mais outros 30.000 trabalhadores que estão sem receber e paralisam as obras públicas em todo o país; a quitação de retenções e exportações; começa a trazer consequências nas pequenas e médias indústrias, que tem visto reduzidos seus pedidos de produção e uma contração nas compras entre 15 e 20%. Isto evidencia principalmente nos setores de alimentos, têxteis, calçados, couros, eletrodomésticos, metal-mecânica e no comércio varejista.

Esta situação criada por políticas econômicas não se  evidencia prontamente, já que o aumento de tarifas dos serviços públicos que alcançam valores de 600% para a energia elétrica a partir de janeiro, não chegou ainda a cada casa, comércio ou indústria. Quando comecem a chegar as faturas para pagar o serviço elétrico, sem dúvidas se transladará aos preços dos produtos, o que aprofundará a recessão.

A renovação de aluguéis, tanto de moradias como de locais comerciais, teve um acréscimo entre 30 e 60% e se exige para os novos contratos um ajuste semestral.

As taxas de serviços municipais e provinciais aumentaram entre 30 e 50% dependendo do distrito.

O custo do transporte e logística encareceu cerca de 20% até o momento e ainda não anunciaram de quanto será o aumento do preço dos combustíveis, anunciado para o mês de março.

O pequeno comerciante se verá obrigado a desprender-se de algum empregado para poder pagar os serviços. Sendo assim, aumentará o desemprego.

O único plano de desemprego que há na Argentina, é para pais ou mães com filhos: a Alocação Universal por Filho, cujo poder de compra se viu prejudicado pela desvalorização e inflação gerada pelas políticas econômicas do governo.

Os empresários e os comerciantes argentinos começaram a ver como aumentam os custos, e por sua vez diminuem a receita.

As discussões salariais apenas se iniciam, e grande parte da dirigência sindical da mostras de não pretender confrontar o governo. Outra vez, vão deixar os trabalhadores a mercê dos tubarões do neoliberalismo.

O plano é macabro e está sucedendo, neste instante, diante de nossos olhos.

Sem delongas, as grandes corporações foram beneficiadas com outras políticas econômicas: à indústria do tabaco, contrário as recomendações da Organização Mundial da Saúde, foi reduzida a carga impositiva de 21 para 7%.

As mineradoras foram favorecidas pela quitação de retenções às exportações. Até a semana passada pagavam 4%, agora não pagam nada.

As automotoras foram beneficiadas com a quitação do imposto aos automóveis de luxo, que era de 35%.

As exportadoras vinculadas a atividade agropecuária e a pesca, se viram beneficiadas com a eliminação das retenções impositivas que rondavam, dependendo do produto, entre 5 e 35%.

E para que o festejo das corporações seja mais barato, nesta semana Mauricio Macri firmou o decreto N.º 355 que eliminou os impostos do champagne.

Toda essa massa de dinheiro que antes ingressava nas contas do Estado agora fica no bolso dos mais poderosos; lhes provendo com a possibilidade de enviar dinheiro a suas casas matrizes garantindo assim a fuga de divisas.

Este dinheiro em fuga é o que até dois meses atrás, se utilizava para fazer obras de infraestrutura em todo o país e para dar assistência aos diferentes planos de contenção social em saúde, educação e moradia. Hoje tudo isso ficou no passado.

Ao mesmo tempo que se firmavam as exceções dos tributos para o setor mais rico da população, se eliminava, “por ser muito custoso” o plano Qunita, que garantia aos recém nascidos dos setores mais pobres um berço, fraldas, roupa, bolsa para mudas de roupas, elementos de higiene e cartilha sanitária.

Em dois meses deste governo, as prioridades estão claramente delineadas.

Neste barco, somente os ricos tem assegurado seu lugar no bote salva-vidas.

Tradução: Thiago Iessim, para Desacato.info.

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