Por Monica Yanakiew.
Buenos Aires – Doze anos após ter decretado a moratória da dívida externa, a Argentina iniciou negociações com os 19 países ricos do Clube de Paris para pagar o que deve. Um acordo não só permitiria ao governo argentino ter acesso a novos empréstimos, como também daria condição para que empresas privadas desses países, interessadas em investir na Argentina, obtenham financiamento.
“Foi uma reunião extremamente positiva”, disse o ministro da Economia, Axel Kicillof, em entrevista coletiva nesta terça-feira (21). Ele voltava da França, para onde viajou no domingo (19) e onde manteve encontros com funcionários da Secretaria do Clube de Paris – o órgão que serve de intermediário entre países devedores e os credores.
A Argentina tem dívidas com 16 dos 19 membros, mas a quantia exata é um dos temas em discussão: as estimativas variam entre US$ 6,8 bilhões e US$ 10 bilhões, dependendo da forma como são calculados os juros acumulados e as multas pelos atrasos. No encontro de segunda-feira (20), Kicillof apresentou a proposta de negociação argentina, que ele não quis detalhar porque, segundo explicou, não é definitiva: terá que ser estudada pelo Clube de Paris, que possivelmente fará uma contraproposta.
Kicillof deixou claro que a Argentina quer honrar os compromissos assumidos, mas não aceitará condições que dificilmente poderá cumprir ou que coloquem em risco seu programa econômico de “crescimento com inclusão social”. O governo argentino fez duas reestruturações dos títulos públicos, dos quais participaram credores de 93% da dívida externa. O problema é que o Clube de Paris só aceita renegociar a dívida se o devedor tiver aval do Fundo Monetário Internacional (FMI) – a não ser que o pagamento seja feito em dinheiro, em vez de títulos.
Em 2006, o então presidente Nestor Kirchner (marido da atual presidenta Cristina Kirchner, morto em outubro de 2006), aproveitou a recuperação econômica e o aumento das reservas do país para desembolsar US$ 9,8 bilhões e liquidar a dívida com o FMI, mas a situação do país, frente a todos credores, ainda não foi resolvida. Falta resolver a disputa com um grupo de fundos credores (chamados de “abutres”, porque compram títulos com desconto, para depois tentar cobrar, na Justiça, a totalidade). Eles detém 7% dos títulos (US$ 1,3 bilhão) e não aceitaram, até agora, participar de uma reestruturação.
Kicillof lembrou que alguns países do Grupo de Paris apoiaram a posição argentina na disputa com os fundos abutres. Segundo ele, as negociações podem levar meses – mas o primeiro passo, para normalizar a situação argentina, foi dado. Um acordo beneficia não apenas o setor público, como também o setor privado da Argentina e dos membros do Clube de Paris, interessados em investir no pais.
“Alguns organismos públicos dos países integrantes [do Clube de Paris] estabelecem como condição para financiar a uma empresa privada de seu próprio país, que o país [onde vão fazer investimentos] tenha sua situação regularizada perante o Clube de Paris”, disse Kicillof. Os 19 países do Clube de Paris são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Reino Unido, Rússia, Suécia e Suíça.
Edição: Fábio Massalli
Foto: Facebook.
Fonte: EBC.