Por Matt McGrath.
Em artigo publicado na revista Nature, cinco pesquisadores afirmam que nem mesmo episódios históricos como a “Pequena Era do Gelo” – resfriamento acentuado registrado entre os anos 1300-1850 – se comparam com o que está acontecendo no momento no mundo.
A pesquisa indica que o atual aquecimento global é mais alto que qualquer outro observado anteriormente. No texto, os cientistas dizem seus achados mostram que argumentos usados pelos céticos em relação às mudanças climáticas não são válidos.
Ao examinarem a história climática do mundo nos últimos séculos, pesquisadores identificaram vários episódios importantes que se destacaram. Eles variaram desde o “Período Quente Romano”, que registou, entre 250 d.C. e 400 d.C., um clima excepcionalmente quente em toda a Europa, até a famosa Pequena Era do Gelo, quando as temperaturas baixaram durante séculos seguidos a partir de 1300.
Esses acontecimentos são vistos por alguns, em especial os céticos em relação às mudanças climáticas, como evidência de que o mundo aqueceu e esfriou muitas vezes ao longo dos séculos e, por isso, o aquecimento observado a partir da Revolução Industrial é parte desse ciclo padrão – portanto, não haveria nada para se alarmar.
Mas três novos trabalhos de pesquisa, entre eles o publicado na revista Nature por esses cinco pesquisadores, mostram que os fundamentos desse argumento não são tão sólidos.
De acordo com o artigo da Nature, os cientistas reconstruíram as condições climáticas que existiam nos últimos 2 mil anos, usando 700 registros “proxy” de mudanças de temperatura – indicadores que permitam tirar conclusões a partir de dados climáticos indiretos como anéis de árvores, corais e sedimentos de lagos.
Os pesquisadores afirmam que nenhum desses eventos climáticos avaliados ocorreu em escala global num mesmo período.
Eles dizem que a Pequena Era do Gelo, por exemplo, foi mais forte no Oceano Pacífico no século 15 e na Europa no século 17.
De um modo geral, qualquer pico ou baixa de temperatura, a longo prazo, pode ser detectado em até metade do globo em momento específicos.
O “Período Quente Medieval” (950-1250 d.C.), por exemplo, registou aumentos significativos de temperatura em apenas 40% da superfície da Terra. Segundo os pesquisadores, o aquecimento de hoje afeta praticamente todo o mundo.
“Descobrimos que o período mais quente dos últimos dois milênios ocorreu durante o século 20 em mais de 98% do globo. Isso fornece fortes evidências de que o aquecimento global antropogênico não é apenas incomparável em termos de temperaturas absolutas, mas também sem precedentes na consistência espacial dentro do contexto dos últimos 2 mil anos”, escreveram no artigo.
Os pesquisadores observaram que, antes da era industrial moderna, a influência mais significativa no clima eram os vulcões. Eles não encontraram nenhuma indicação de que variações na radiação do Sol tenham impactado as temperaturas globais médias.
O período atual, dizem os autores da pesquisa, excede significativamente a variabilidade natural.
“Vimos a partir dos dados instrumentais e também de nossa reconstrução que, no passado recente, a taxa de aquecimento claramente excede as taxas de aquecimento natural – esse é outro ponto para observar a natureza extraordinária do aquecimento atual”, contou Raphael Neukom, da Universidade de Berna, na Suíça, um dos autores do estudo.
“Nós não testamos explicitamente isso; só podemos mostrar que as causas naturais não são suficientes em nossos dados para realmente causar o padrão espacial e a taxa de aquecimento que estamos observando agora”, explicou Neukom.
Outros cientistas ficaram impressionados com a qualidade dos novos estudos conduzidos pela equipe de Raphael Neukom.
“Eles fizeram o estudo em todo o mundo com mais de 700 registros dos últimos 2 mil anos. Têm corais e lagos e também dados instrumentais”, disse a professora Daniela Schmidt, da Universidade de Bristol, Reino Unido, que não esteve envolvida nos estudos.
“E eles foram muito cuidadosos ao avaliar os dados e o viés inerente que qualquer dado tem. Então, o grande avanço é a qualidade e a cobertura desses dados. É incrível”, afirmou a professora.
Muitos especialistas argumentam que os achados são capazes de desbancar muitas das afirmações feitas por céticos do clima nas últimas décadas.
“Este artigo deve finalmente fazer com que os que negam as mudanças climáticas parem de alegar que o aquecimento global observado recentemente é parte de um ciclo climático natural”, disse o professor Mark Maslin, da Universidade College London, no Reino Unido, que também não participou dos estudos.
“Este artigo mostra a diferença verdadeiramente nítida entre as mudanças regionais e localizadas no clima do passado e o efeito verdadeiramente global das emissões de gases de efeito estufa antrópicas”, completa Maslin.
Além da revista Nature, o estudo também foi publicado em dois artigos na publicação acadêmica Nature Geoscience.