Após Rei abdicar, esquerda espanhola defende referendo e nova república

referendoRepublicaEspanha_TwitterPartidos como Esquerda Unida e Podemos, que cresceram nas eleições para o Parlamento Europeu, já iniciaram campanhas na internet

Por Rafael Duque.

Ainda são poucas as bandeiras da Segunda República Espanhola penduradas nas varandas em Madri, mas a esquerda já faz campanha pelo fim da monarquia, após o anúncio oficial da abdicação do rei Juan Carlos ao trono espanhol. A maioria dos partidos de esquerda do país defendeu nesta segunda-feira (02/06) a realização de um referendo para que os os cidadãos possam decidir se a Espanha deve se converter em uma república.

Apenas o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), maior grupo de oposição, divulgou publicamente apoio à coroa e ao processo de sucessão real que transformaria o atual Príncipe de Astúrias no rei Felipe VI.

“Desde antes de ter cabelos brancos, eu sonhava em ver instaurada a república. Acho que agora é possível antes que eu morra”, afirmou Cayo Lara, líder da agremiação IU (Esquerda Unida), em um pronunciamento em que apareceu com a bandeira da Segunda República Espanhola ao fundo. “Coincidimos com todos aqueles e aquelas que reivindicam um referendo para o nosso país. […] Essa situação de deterioro da monarquia é um resultado da corrupção ligada aos próprios membros da Casa Real”, concluiu.

Lara se refere ao caso de corrupção que atinge o genro do atual Rei Juan Carlos, Iñaki Urdangarín, acusado de lavagem de dinheiro e de tráfico de influência na gestão de uma empresa que o ex-atleta mantém em sociedade com a Infanta Cristina, filha de Juan Carlos e mulher de Urdangarín.

Já o partido Podemos, maior surpresa das eleições europeias, após conseguir mais de um milhão de votos, também defendeu a realização de um referendo. Responsável pela comunicação do partido, Íñigo Errejón afirmou que o referendo “garantiria a opinião dos cidadãos sobre os próximos passos a respeito da chefia de Estado”.

Enquanto aumentam as vozes na esquerda espanhola em defesa de uma nova república, o ex-presidente do Congresso de Deputados José Bono (PSOE) classificou a alternativa ao monarquismo de oportunista. “Temos um partido no governo com maioria absoluta na Câmara e um partido na oposição que já declarou o seu apoio à coroa. O sistema tem que mudar para fazer mudanças que suponham renovação, para responder a umas expectativas cidadãs, não com o oportunismo daqueles que querem mudar para uma república”, defendeu o ex-deputado.

Processo de sucessão

Segundo a Constituição espanhola, o governo deve elaborar uma lei para estabelecer os critérios da sucessão. O presidente do governo, Mariano Rajoy, convocou uma reunião de ministros para a próxima terça-feira (03/06), onde um projeto de lei será elaborado. Uma vez elaborado, o Congresso de deputados deve discutir o seu conteúdo, que após aprovação segue para o Senado para nova votação.

Ainda de acordo com a Constituição, é necessária a maioria absoluta de votos para se aprovar a lei de sucessão, o que não deve ser um problema porque o PP (Partido Popular) possui a maioria das cadeiras no Congresso. O governo já divulgou que todo este processo deve ser feito ainda nesta semana e esta rapidez em aprovar o projeto de lei é a principal critica de Anna Simó, porta-voz nacional do ERC (Esquerda Republicana da Catalunha). “Não haverá nenhuma discussão entre os representantes nem entre os cidadãos”, lamenta.

Diversos atos de apoio à república foram convocados para a noite desta segunda-feira. Representantes de coletivos de esquerda esperam lotar as principais praças das maiores cidades do país para pressionar o governo contra o processo de sucessão sem discussão pública.

Fonte: Brasil de Fato.

Foto: Reprodução Twitter

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