Por CIMI. Pode –se dizer que relatar atentados a tiros desferidos contra a comunidade Kaiowá e Guarani da Terra Indígena de Pyelito Kue, Mato Grosso do Sul, infelizmente já está se tornando um fato corriqueiro. Somente este ano o CIMI denunciou diversos ataques ao tekoha – lugar onde se é – sem que nenhuma providência efetiva tenha sido tomada.
Na noite da última terça-feira (14/10), enquanto a comunidade realizava seu Kotyhu (reza tradicional realizada a partir de canto e dança sagrados) próximo de um dos limites de sua área, divisa com a fazenda Cachoeira, um sujeito vindo da fazenda adentrou o espaço de Pyelito e disparou quatro tiros à queima-roupa contra os indígenas, que por sorte não se feriram. Enquanto os indígenas correram buscando abrigo onde podiam encontrar, os tiros rasgavam novamente as lonas de seus improvisados barracos.
Em fevereiro, fazendeiros da região de Iguatemi, município onde fica localizado Pyelito Kue, bloquearam as estradas de acesso ao território indígena impedindo o deslocamento dos Kaiowá e Guarani para fora da aldeia, bem como a Funai de prestar atendimento ou socorro aos indígenas. Armados, os fazendeiros falavam abertamente em atacar os Kaiowá e Guarani ano momento em que julgassem oportuno. A própria Funai denunciou a situação logo após ter fechado as portas da coordenadoria de Iguatemi por conta de ameaças dos fazendeiros.
Desde março, os ataques ganharam corpo e Solano Lopes, líder de Pyelito Kue, narrou uma série de atentados diretos efetuados contra a comunidade. Os mais alarmantes referem-se a tiros disparados por motoqueiros do portão que oferece acesso à aldeia.
Os atentados nunca chegaram a cessar e nos últimos dias voltaram a se intensificar. As famílias Kaiowá relatam que no ultimo dia 7 de outubro ameaças endereçadas às lideranças foram feitas por parte dos fazendeiros e um dos barracos ocupados pelos indígenas chegou a ser incendiado. As ameaças tornaram-se atentados concretos apenas três noites depois, quando no dia 10 motoqueiros voltaram a disparar contra a comunidade, refugiando-se após os disparos no interior da fazenda Cachoeira.
Após este episódio, os fazendeiros passaram novamente a realizar o cerco em torno da comunidade, impedindo os indígenas de sair do pequeno espaço que ocupam e aterrorizando a vida dos Kaiowá e Guarani. Enquanto do lado de fora os pistoleiros rondam, do lado de dentro da aldeia a fome castiga. Em meio ao cárcere, no dia 12 de outubro uma criança de menos de dois anos de idade chamada Mikaeli Flores morreu por desnutrição e ingestão de água imprópria para o consumo. Era Dia das Crianças, mas não em Pyelito.
O cerco segue sobre Pyelito Kue e consequências piores se desenham caso nenhuma providência seja tomada. Enquanto cada vez mais decisões políticas de caráter anti-indígena são tomadas nos âmbitos do Executivo e do Judiciário, os povos indígenas acabam por pagar com suas vidas alianças governamentais que levam mais poder aos setores ruralistas, que como por efeito de avalanche passam a atacar covardemente os povos originários. As famílias de Pyelito mais uma vez pedem por socorro!
Foto: Reprodução/CIMI
Fonte: CIMI